RELIGIOSIDADE

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“Era um homem religioso e temente a Deus, com toda sua casa. Dava muitas esmolas ao povo e orava sempre a Deus” (Atos 10:2)

                                                                                                                                           

Uma pregação que não se ouvia na igreja primtiva, que era completamente rejeitada pelos apóstolos, que era absolutamente repudiada pelos pais da Igreja, mas que infelizmente acabou virando “moda” dentro de várias igrejas evangélicas nos dias de hoje, é a falsa ideia de que a religiosidade afasta o cristão de Cristo, que manda alguém para o fogo do inferno, que “amarra” a vida do cristão e o deixa afastado da verdade.

 

Esse assunto tem me preocupado muito, pois antes eu pensava que eram apenas as testemunhas de Jeová que pregavam que “todas as religiões são do diabo” (“A Sentinela”, pág.62), mas, de uns tempos para cá, esse ensino tem se alastrado por quase todas as igrejas e fazendo com que todos creiam desta mesma maneira: que todas as religiões são do diabo e que todos os religiosos vão parar no inferno! Infelizmente Satanás conseguiu distorcer completamente aquilo que realmente está na Palavra, de que não são os religiosos que vão para o inferno, mas sim os irreligiosos (i.e, “não-religiosos”):

 

“Sabendo isto, que a lei não é feita para o justo, mas para os injustos e obstinados, para os ímpios e pecadores, para os profanos e irreligiosos, para os parricidas e matricidas, para os homicidas” (1 Timóteo 1:9 – Almeida Corrigida e Revisada Fiel)

 

Veja aqui os irreligiosos sendo colocados no mesmo grupo dos injustos, dos obstinados, dos ímpios, dos pecadores, dos profanos, dos parricidas [filhos que matam o pai], dos matricidas [filho que mata a própria mãe] e dos homicidas. Certamente, não deve ser um grupo dos mais agradáveis!

 

Embora algumas versões não tragam a palavra “irreligiosos”, a considerada melhor versão do mundo (Version King James) traduz desta maneira, além de muitas outras boas traduções mundialmente reconhecidas, como a versão italiana de Giovanni Diodati Bible, a versão francesa de Louis Segond, a versão espanhola da Bíblia de Jerusalém, as versões francesa e inglesa da Bíblia de Jerusalém, as versões norte-americanas Basic English Bible, a World English Bible, a American Standard Version, a Webster’s Bible, a Revised Standard Version, entre muitas outras versões, traduzem a palavra grega “bebêlois”por “irreligiosos”.

 

Essa tradução é ainda mais fortemente apoiada uma vez que é um dos principais significados da palavra “bebêlois” (“sem religião” – Concordância de Strong, 952) da palavra e que os demais significados (ímpios; profanos) já haviam sido utilizados na mesma passagem. Se você perceber bem, verá que poucas traduções brasileiras mais atuais traduzem essa palavra desta forma (incrivelmente eles preferem repetir duas vezes uma mesma palavra em português, mesmo no grego sendo aplicadas duas palavras distintas, só para evitarem colocar lá a palavra “irreligiosos”!), porque elas já estão totalmente tomadas do conceito popular de que religiosidade é algo maligno.

 

É por isso que apenas as versões mais confiáveis, tradicionais e conservadoras, com grande reputação internacional e histórica por sua qualidade (geralmente versões norte-americanas), que traduzem o verso desta forma, pois isso ocorre em um local e tempo em que tal conceito contra a religiosidade ainda não tinha se popularizado da forma na qual vemos hoje. Esse verso de Paulo em 1Tm.1,9 é um verdadeiro “golpe de morte” naqueles que insistem em dizer que Paulo condenava a religiosidade, quando na verdade nós NUNCA vemos Paulo condenando a religiosidade, mas apenas a i-religiosidade! Enquanto em muitas pregações as pessoas tentam colocar os religiosos no inferno, o que o apóstolo Paulo afirma é justamente o contrário – quem vai para lá são os i-religiosos (não-religiosos), junto com os ímpios, os assassinos e os homicidas!

 

Outra passagem interessante encontra-se na epístola de Tiago, o irmão do Senhor:

 

“Se alguém se considera religioso, mas não refreia a sua língua, engana-se a si mesmo. Sua religião não tem valor algum!” (Tiago 1:26)

 

Aqui é muito claro que ser religioso é uma coisa boa e essencial; contudo, se não refreiar a sua língua, tal não valerá nada. Se “religioso” fosse aqui algo ruim, então o texto em pauta perderia completamente o nexo e o sentido (tente, por exemplo, trocar a palavra “religioso” e “religião” por algum adjetivo ruim; “pecador” e “pecado”, por exemplo, e veja como o texto perde completamente o sentido!).

 

A religiosidade é claramente indicada como um fator positivo, quando acompanhada de um bom comportamento que “refreia a sua língua”. A religiosidade nunca foi problema nenhum, o contrário dela é que sempre foi o problema, condenado por Paulo e pelos demais. As pessoas que pregam contra a religiosidade geralmente costumam citar a religiosidade dos fariseus como uma “prova” que a religiosidade do cristão é algo ruim. Eles dizem que foram os religiosos quem lançaram Jesus na cruz.

 

De fato, houve grupos religiosos que contribuíram para a crucificação de Cristo, mas passar disso para dizer que “toda religiosidade é inútil” é uma desonestidade intelectual, do mesmo nível que seria que eu dissesse mal de uma igreja ou de um pastor específico e daí dizer que TODA comunidade evangélica e TODO pastor são “malignos”. É óbvio que a natureza de algo como sendo bom ou ruim não é determinada pelo comportamento de uma ou outra pessoa, acabando por generalizar todo o restante. Se fosse assim, deveríamos chamar de malignos também todos os judeus, sacerdotes, anciãos, ricos e pobres, de todas as épocas até hoje, pois alguns deles também ajudaram a crucificar Cristo no século I!

 

Seria como pegar um erro de Lutero e dizer que todos os luteranos são diabólicos, ou fazer o mesmo com Calvino e os calvinistas. Ocorre, portanto, que nós não devemos tomar como pauta o comportamento de um ou outro cristão, luterano, calvinista ou religioso para determinar algo em cima do cristianismo/luteranismo/calvinismo/religiosidade. O que nós devemos fazer é descobrir o que é a essência da religiosidade (se é boa ou se é ruim), e não generalizar tudo baseando-se em alguns religiosos. Certamente existiram e existirão religiosos meia-boca que não alcançaram jamais a salvação, como os que Tiago descreve na passagem recém-mencionada.

 

Por isso mesmo a religiosidade deve vir acompanhada dos frutos (como o controle da língua – Tg.1:26), tanto quanto uma pessoa se dizer “cristã” não a fará salva por si mesma, a não ser que apresente a fé genuína em Cristo e os frutos do Espírito. Os próprios fariseus NUNCA foram criticados pela sua religiosidade, mas sim por sua tradição oral corrompida, que não foi transmitida incorruptivelmente desde Moisés até aquela geração, como eles pensavam. Ora, qualquer um que tiver um dicionário Aurélio em casa pode descobrir o fato óbvio de si mesmo que “tradição” é uma coisa bem diferente de “religiosidade”. As tradições farisaicas seriam aceitas se estivessem em diligente harmonia com as Escrituras, o que não era o caso:

 

“Assim vocês anulam a palavra de Deus, por meio da tradição que vocês mesmos transmitiram. E fazem muitas coisas como essa” (Marcos 7:3)

 

Isso não tem nada a ver com condenar a religiosidade, mas sim em condenar as tradições não-bíblicas e/ou antibíblicas. Os fariseus eram extremamente zelosos na prática da religião; sim, eles eram religiosos, mas não foi pela religiosidade que eles foram criticados por Cristo, mas sim pela sua hipocrisia. Os fariseus eram extremamente zelosos em pagar o dízimo, por exemplo, mas esqueciam dos preceitos mais importantes da lei. Jesus não os critica por darem o dízimo, mas sim pela hipocrisia deles em negligenciar os preceitos mais importantes. Jesus diz para eles começarem a praticar a justiça e a misericórdia, mas alerta para não omitirem o dízimo:

 

“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas!” (Mateus 23:23)

 

A religiosidade dos fariseus em darem o dízimo nunca foi o problema; pelo contrário, ele os incentiva a continuar sem omitir tal prática. O problema deles era a hipocrisia em negligenciar os preceitos mais importantes da Lei. Os fariseus, em sua religiosidade, jejuavam duas vezes por semana (Lc.18:12). Jesus novamente não os critica pela sua religiosidade, mas sim pelo fato de que, quando jejuavam, mostravam uma aparência triste a fim de que os outros vissem que eles estavam jejuando (Mt.6:16). Ou seja, Jesus nunca condenou a religiosidade dos fariseus em jejuarem, mas sim a sua hipocrisia.

 

Ele não disse: “Parem de jejuar, vocês estão sendo religiosos demais!”; ao contrário, ele mesmo incentivou o jejum (veja Marcos 9:29), mas criticou a hipocrisia. Ou seja, não é a religiosidade que é criticada (ao contrário, esta é apoiada); o que é criticada é a hipocrisia. Jesus também não criticou os fariseus por orarem regularmente, mas sim porque, quando oravam, o faziam com orgulho próprio (Lc.18:11). Em outras palavras, Jesus nunca, jamais e em circunstância nenhuma criticou qualquer fariseu ou qualquer ser humano por ser religioso - o que ele criticou foi a hipocrisia, e nunca a religiosidade!

 

Em Mateus 23:3, Cristo deixa isso bem claro para os seus discípulos:

 

“Todas as coisas, pois, que vos disserem que observeis, observai-as e fazei-as; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não fazem” (Mateus 23:3)

 

A Nova Versão Internacional traz:

 

“Obedeçam-lhes e façam tudo o que eles lhes dizem. Mas não façam o que eles fazem, pois não praticam o que pregam” (Mateus 23:3)

 

Em outras palavras, “seguí a sua religiosidade, mas não seguí a sua hipocrisia”! Os fariseus eram extremamente religiosos, e Cristo diz para “observá-las e fazer tudo aquilo”, mas não como eles fazem (i.e, não da maneira hipócrita)! Essa e outras passagens desmontam com a tese popular de que a religiosidade é algo ruim. Quem diz isso se põe contra Cristo que praticava, incentivava e ensinava tudo isso.

 

O próprio Jesus era muitíssimo mais religioso do que qualquer pessoa da face da terra. Mesmo não tendo pecado nenhum (Hb.4:15), sendo, portanto, a pessoa mais justa de toda a história (ele teria todos os motivos para “orar pouco” se ele quisesse!), ainda assim lemos que Jesus depositava muitíssimas oras em oração diretamente com o Pai. Em Lucas 6:12, lemos que Jesus saiu para o monte a fim de orar, e passou a noite inteira orando a Deus; só saiu de lá para chamar os discípulos “ao amanhecer” (Lc.6:12,13). Também lemos outro relato que nos revela como a prática de oração era algo constante na vida de Jesus Cristo:

 

“Tendo-a despedido [a multidão], subiu a um monte para orar. Ao anoitecer, o barco estava no meio do mar, e Jesus se achava sozinho em terra. Ele viu os seus discípulos remando com dificuldade, porque o vento soprava contra eles. Por volta da quarta vigília da noite, Jesus dirigiu-se a eles andando por sobre o mar (...)” (Marcos 6:46-48)

 

Para os hebreus da época de Cristo, o dia acabava quando ao pôr-do-sol e começava ao amanhecer. É por isso que as horas começavam a contar a partir do amanhecer (ex: 13h nossa = “hora sétima” deles, etc). Em outras palavras, levando em consideração que o pôr-do-sol ocorre aproximadamente às seis horas da tarde (momento e que ele despediu a multidão para ir orar) e Jesus ainda ali se encontrava “na quarta vigília da noite” (que corresponde entre as 3 e 6 horas da manhã), o tempo aproximado em que ele passou em oração é entre 9 e 12 horas por dia! E isso porque ele só foi interrompido porque viu que os seus discípulos estavam passando por sérias dificuldades no barco!

 

E foi precisamente essas várias horas de oração que concederam a unção e o poder para Cristo andar por sobre as águas, fazendo aquilo que os discípulos não faziam por si mesmos. Devemos lembrar que Jesus Cristo era um homem santo, inculpável, sem pecados, o Filho do Deus vivo. Mesmo assim, ele tinha que depositar inúmeras horas em oração no monte das Oliveiras! A unção recebida por ele [Cristo] durante tantas horas de oração foi que o capacitou a poder ter a fé suficiente de andar por sobre as águas, de curar os enfermos, de ressuscitar os mortos e de não cometer pecado algum.

 

O tempo em que ele passava em oração com Deus era o “combustível”, por assim dizer, da sua caminhada na terra. O resultado de tanta oração foi um ministério de sucesso, com grandes operações de milagres e multiplicações, curas e vitórias. Nem ele estava isento da batalha espiritual e das tentações do maligno. Ele teve que jejuar quarenta dias e quarenta noites para vencer a tentação no deserto (Mt.4:2), e o diabo o deixou até ocasião oportuna” (Lc.4:13), ou seja, ele passaria por mais tentações e provações e sabia disso, por isso dedicava o máximo de tempo recarregando as forças, em jejuns e orações no monte.

 

Existem outros incontáveis exemplos bíblicos de pessoas religiosas que eram piedosas e honestas. Um exemplo disso é o caso das mulheres religiosas e honestas em Antioquia da Pisídia:

 

“Mas os judeus incitaram algumas mulheres religiosas e honestas, e os principais da cidade, e levantaram perseguição contra Paulo e Barnabé, e os lançaram fora dos seus termos” (Atos 13:50)

 

Note que o fato delas serem incitadas pelos judeus não muda o fato de que elas são descritas por Lucas como sendo mulheres “religiosas e honestas”. Ou seja, religiosidade e honestidade podem sim conviver de mãos dadas. O fato de elas serem mulheres religiosas não mudou o fato de que elas eram mulheres honestas. Se religiosidade fosse algo maligno que não deve ser praticado, então logicamente aquelas mulheres seriam qualquer coisa, menos honestas! O mesmo ocorre no caso dos “homens religiosos” que ficaram cheios do Espírito Santo após a pregação de Pedro e dos demais apóstolos, sendo batizados. Novamente a religiosidade deles não era indicada como um fator negativo:

 

“E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem. E em Jerusalém estavam habitando judeus, homens religiosos, de todas as nações que estão debaixo do céu” (Atos 2:4,5)

 

O mesmo ocorre no caso do piedoso Cornélio, um homem temente a Deus e que praticava a justiça, que também é descrito como sendo um homem religioso:

 

“Era um homem religioso e temente a Deus, com toda sua casa. Dava muitas esmolas ao povo e orava sempre a Deus” (Atos 10:2 – CNBB)

 

Novamente, o fato de Cornélio ser um homem religioso não muda em nada o fato de que era alguém temente a Deus. Religiosidade e temor a Deus são duas coisas que convivem perfeitamente juntas, e a consequência da junção destes dois fatores benéficos não é algo “maligno” (como seria no caso da religiosidade ser algo ruim); ao contrário, é algo que produz frutos do Espírito, tal como a oração e as esmolas no caso do religioso Cornélio. Do início ao fim Cornélio é descrito como um homem piedoso. E religioso, claro!

 

A palavra grega utilizada neste caso é “eusebes”, que, de acordo com o léxico da Concordância de Strong, significa:

 

2150 ευσεβειαeusebeia

de 2152; TDNT - 7:175,1010; n f

1) reverência, respeito.

2) fidelidade a Deus, religiosidade.

 

Óbvio que religiosidade não indica algo maléfico como é pregado dentro de algumas igrejas modernas, uma vez sendo que é acompanhada de outros fatores que são igualmente favoráveis à fé cristã: a reverência, o respeito e a fidelidade a Deus. Todos estes fatores – reverência, respeito, fidelidade a Deus e religiosidade – faziam parte do caráter de Cornélio e nenhum deles é apontado como sendo um desvio de caráter; antes, é claramente indicado como um fator positivo.

 

Portanto, praticar a religiosidade não é um “obstáculo” ao crescimento espiritual; ao contrário, colocar os padrões da religião cristã em evidência (tais como a oração, louvor e leitura da Palavra) serve como uma alavanca para crescer em desenvolvimento espiritual. Os próprios significados da palavra grega geralmente mais traduzida por “religioso” (“threskos”, no grego) mostram que religiosidade não é algo ruim e tampouco não-cristão, como é o caso da palavra sempre traduzida por “religioso” em Tiago 1:26, que significa:

 

2357 θρησκοςthreskos

provavelmente da raiz de 2360; TDNT - 3:155,337; adj

1) que teme ou adora a Deus.

 

Será que temer a Deus ou adorá-Lo é algum “problema”??? Bom, pelos menos não para os cristãos. O cristianismo acentua o temor a Deus e a adoração a Ele como dois fatores primordiais da fé. Não existe fé sem adoração a Deus e muito menos alguém pode se considerar “cristão” se em seu coração não há temor a Deus. Vemos, portanto, que essa palavra grega para “religiosidade” (threskos) não implica em algo anticristão, mas sim em práticas cristãs e essenciais da fé. Outra palavra grega utilizada para “religiosidade” é “threskeia”, que, de acordo com a própria Concordância de Strong, é um “derivado de 2357” (threskos); ou seja, deriva da adoração e temor a Deus.

 

Portanto, nem os significados de “religiosidade” no léxico do grego e nem os seus derivados são algo desproveitoso ou anticristão; ao contrário, são todos fatores que acentuam ainda mais que a religiosidade deve ser algo presente na vida do cristão. A coisa mais maravilhosa do mundo é você ver um jovem cristão e alguém falar para você que aquele jovem é RELIGIOSO, não está ligado aos mundanos, serve a Deus, não está envolvido com drogas, etc. Aí aparece um monte de gente pregar na televisão que religião não presta; o que presta então?

 

Antes de concluir este capítulo, se você ver alguém pregar contra a religiosidade, apenas pergunte a ele: “Qual é a sua base bíblica para isso?”. Sim, pergunte a ele: “Baseado em quais versículos você insiste em dizer que praticar a minha religião é algo do ‘mal’?”. Ele certamente vai se enrolar todo, dizer que não tem os versículos “prontos” (talvez porque não se encontrem na Bíblia), e vai começar a enrolar dizendo aquelas mesmas quinquilharias de que “os fariseus eram religiosos” e que “os religiosos condenaram Jesus”, sem nem saber que isso constitui-se em uma falácia ad hominem de primeira ordem, além de uma interpretação bíblica equivocada e sem exegese, muito menos com fundamento no grego.

 

O fato é que tais apelações só servem para revelar o fato de que realmente não existe passagem bíblica nenhuma que contradiz a religiosidade ou que a indica como um fator anticristão. E isso é inaceitável para todos os adeptos da Sola Scriptura (todas as doutrinas devem estar nas Escrituras) e para todos aqueles que gostam de defender a fé edificando-se sobre sólidos fundamentos Escriturísticos, antes que pela areia da praia, sem alicerces.

 

Senti-me na obrigação de escrever este capítulo porque realmente me sinto muito mal quando vejo muitas pessoas usando a negação à religiosidade como um pretexto para não buscarem a Deus.

 

Como já vimos, a busca a Deus é um dos aspectos mais fundamentais na luta contra o pecado, e alguns estão usando pretextos inaceitáveis para deixarem Deus de lado. Já cansei de pregações do tipo: “Não precisa busca-Lo tanto assim... você está sendo religioso demais!”. Num dia desses ouvi uma irmã da igreja dizendo que não lia muito a Bíblia porque não queria ser religiosa. Dizia ela: “Estou começando a ler um pouco a Bíblia, mas não estou lendo todo dia, porque não quero cair na religiosidade”! Tal testemunho é verdadeiro. Enquanto a igreja continuar com pensamentos deste nível, não vai parar em lugar nenhum e muito menos vai ter vitórias sucessivas contra o pecado.

 

Enquanto tiverem o pretexto da não-religiosidade para deixarem de buscar a Deus e não se posicionarem fortemente e decisivamente por uma busca completa a Cristo, não chegarão a lugar algum. Sei que existem muitos bons pregadores que equivocadamente pregam contra a religiosidade, não porque não querem que o povo busque a Deus, mas sim porque confundem religiosidade com hipocrisia, ou porque confundem religiosidade com falsa religiosidade. Alguns, caindo em tais equívocos, acabam pregando contra a religiosidade, mesmo não querendo que o povo pare de buscar a Deus.

 

É óbvio que pode existir falsa religiosidade, assim como pode existir também falsa humildade, falsa sabedoria, falsa unção, falso caráter, etc. Mas tudo isso se chama hipocrisia, e nada disso muda o fato de que todos estes fatores – bom caráter, sabedoria, humildade ou religiosidade – são biblicamente apontados como fatores positivos, e não negativos. O cúmulo do absurdo é colocar a religiosidade como pretexto para não buscar a Deus. Quando eu vejo um absurdo desses (de usar um pretexto antibíblico para praticar algo ainda mais antibíblico) simplesmente não tenho como ficar calado.

 

Como já foi dito, existe um enorme número de pessoas de bom caráter e de pastores excelentes que infelizmente lutam contra a religiosidade, mesmo buscando a Deus. Não estou escrevendo contra essas pessoas, mas sim contra o equívoco que tais pessoas cometem no real significado bíblico de “religiosidade”, e principalmente contra aquelas pessoas que se escondem atrás do pretexto “anti-religioso” para não buscarem a Deus.

 

Não estou falando de todas as pessoas, pois sei que existem muitos que apenas por engano pregam contra isso, mas também pregam para que o povo busque a Deus de coração, e eles mesmos são um bom exemplo disso.

 

Mas mesmo nestes casos de pastores piedosos que pregam contra a religiosidade apenas por engano e não por não quererem buscar a Deus, isso acaba incentivando o povão a não buscar a Deus, com tal pretexto absurdo de que praticar a nossa religião – o cristianismo – com os fatores primordiais dessa fé cristã: a oração, o jejum, o louvor e a leitura bíblica, significa “cair na religiosidade” e “ausentar-se da Graça”!

 

Ou seja, é necessário escrever este capítulo, não apenas para corrigir o equívoco histórico sobre o significado bíblico de “religiosidade”, mas principalmente para impedir que mais pessoas usem isso como pretexto para se afastarem aos poucos do Senhor.

 

O pior mesmo é ouvir alguns pregando que “não precisa buscar a Deus; o que importa é o arrependimento; se você tiver arrependimento então não importa as suas obras ou se você é religioso ou não”! Em outras palavras, para alguns, o que importa é o tanto que você se arrepende e não o tanto que você busca a Deus e, sendo assim, tanto faz você buscar pouco ou bastante – o que importa é ser “uma pessoa arrependida”!

 

Não acredito ser realmente necessário dizer que essa é uma arma de Satanás usada para esfriar o verdadeiro cristão na fé. É mais do que óbvioque você tem que ter arrependimento; contudo, o verdadeiro arrependimento produz frutos, obras, ações que revelam se o seu arrependimento foi verdadeiro ou não! (Lc.3:8; Mt.3:8; Lc.6:44; Mc.4:17; Mt.3:2; Mc.1:15; Lc.24:47; Jo.3:2; Tg.2:14; Tg.2:17; Tg.2:18, etc).

 

Resumindo, se você vive afastado de Deus ou acha que não é tão necessário assim ser uma pessoa religiosa, então o seu arrependimento é falso e a sua conversão é inútil! O arrependimento só é verdadeiro quando produz frutos.

 

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Por: Lucas Banzoli.

 

Extraído de meu livro: "Como Vencer o Pecado". 

 

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