CONFESSAR OS PECADOS

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“Portanto, confessem os seus pecados uns aos outros e orem uns pelos outros para serem curados” (Tiago 5:16)

 

Um ponto importantíssimo para podermos vencer as tentações é não escondermos elas. Houve um tempo em que eu me “agarrava” em um certo versículo bíblico que assim dizia: “Como é feliz aquele a quem o Senhor não atribui culpa” (Rm.4:8). Muitas vezes eu dormia pensando nesta passagem bíblica e ficando feliz porque eu não tinha nenhuma “culpa” para com Deus. Era como se o Senhor não atribuísse culpa a mim por conta de minha justiça própria, e não por causa do perdão e da graça de Deus. Demorou um bom tempo para eu entender que o versículo anterior a este dizia:

 

“Como são felizes aqueles que têm suas transgressões perdoadas, cujos pecados são apagados (Rm.4:7). Paulo estava fazendo uma citação do salmista Davi no salmo 32, que tem relação às transgressões que são perdoadas e dos pecados que são apagados. Davi não era um “justo por natureza” e que por isso estava se orgulhando por não ser culpado diante de Deus, ao contrário, ele estava ressaltando que havia tido as suas transgressões e os seus pecados perdoados e que – portanto – poderia ser feliz. Veja o que o salmista diz neste Salmo 32:

 

Salmos 32

1 Como é feliz aquele que tem suas transgressões perdoadas e seus pecados apagados!

2 Como é feliz aquele a quem o Senhor não atribui culpa e em quem não há hipocrisia!

3 Enquanto escondi os meus pecados, o meu corpo definhava de tanto gemer.

4 Pois de dia e de noite a tua mão pesava sobre mim; minha força foi se esgotando como em tempo de seca.

5 Então reconheci diante de ti o meu pecado e não encobri as minhas culpas. Eu disse: "Confessarei as minhas transgressões ao Senhor", e tu perdoaste a culpa do meu pecado.

6 Portanto, que todos os que são fiéis orem a ti enquanto podes ser encontrado; quando as muitas águas se levantarem, elas não os atingirão.

 

A posição em que o salmista se encontrava é muito parecida com a de muitas pessoas. Elas não querem confessar os seus pecados para Deus por pensarem que desta forma Ele irá ficar aborrecido com elas. Preferem esconder o pecado e viverem como se fossem pessoas perfeitas do que confessar diante Dele as nossas culpas e as nossas transgressões. Enquanto o salmista agia desta maneira, o seu corpo “definhava de tanto gemer” (v.3). A mão do próprio Deus pesava sobre ele (v.4), e a força dele estava se esgotando cada vez mais (v.4). Mas, quando ele finalmente decidiu reconhecer os seus erros diante de Deus e não mais encobrir as suas culpas, ele deixou de sobreviver apenas com as suas próprias forças, e passou a viver com as forças do Senhor.

 

Como diz uma famosa música do Oficina G3: “Eu ando pelas forças do Senhor...”. É somente quando confessamos os nossos pecados diante Dele que paramos de viver por nossas próprias forças limitadas e passamos a viver com a força que o Senhor nos concede pelo Seu doce Espírito em nossos corações. Assim, ele finalmente pôde dizer com confiança: “Como é feliz aquele que tem suas transgressões perdoadas e seus pecados apagados! Como é feliz aquele a quem o Senhor não atribui culpa e em quem não há hipocrisia!” (v.1,2). Quando deixamos de confessar os nossos pecados diante do Senhor, só atraímos mais culpa para nós mesmos. E além de tudo ganhamos mais um novo pecado para a lista: a mentira!

 

“Se afirmarmos que estamos sem pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça. Se afirmarmos que não temos cometido pecado, fazemos de Deus um mentiroso, e a sua palavra não está em nós” (João 1:8-10)

 

É apenas confessando os nossos pecados diante Dele que podemos ter as transgressões perdoadas e os pecados apagados. É apenas confessando os nossos pecados diante Dele que podemos ser felizes. É apenas confessando os nossos pecados diante Dele que deixamos de ser hipócritas e mentirosos. É apenas confessando os nossos pecados diante Dele que podemos ser purificados de toda injustiça. E é apenas confessando os nossos pecados diante Dele que a Sua Palavra está em nós!

 

Por tudo isso, vemos que o meio pelo qual somos perdoados por Deus não é outro senão confessando os nossos erros e delitos diante Dele, não importa a intensidade do pecado, todos nós temos pecados, e se podemos dizer que “feliz é o homem a quem o Senhor não atribiu culpa” não é porque nós somos perfeitos, mas sim porque Ele perdoou as nossas transgressões.

 

Um outro ponto importantíssimo para este estudo não é apenas ressaltar o aspecto de importância do nosso perdão para Deus, mas também do nosso perdão para com o próximo e da confissão dos nossos pecados para os outros. Na oração do Pai Nosso, é notável que o tema mais importante ali ressaltado seja o perdão que devemos ter para com o próximo:

 

“Pai nosso, que estás nos céus! Santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu. Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia. Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores. E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal, porque teu é o Reino, o poder e a glória para sempre. Amém. Pois se perdoarem as ofensas uns dos outros, o Pai celestial também lhes perdoará. Mas se não perdoarem uns aos outros, o Pai celestial não lhes perdoará as ofensas" (Mateus 6:9-15)

 

Perceba como fica clara aqui a importância destacável do perdão ao próximo. Além de fazer parte da própria oração modelo, ainda depois do “Amém” a única coisa que Cristo considerou realmente importante para concluir foi: “Pois se perdoarem as ofensas uns dos outros, o Pai celestial também lhes perdoará. Mas se não perdoarem uns aos outros, o Pai celestial não lhes perdoará as ofensas” (vs.14,15).

 

Fica muito claro que toda aquela oração dita acima de nada valeria em caso que nós não perdoemos aos outros. Disso vemos que toda aquela oração passada acima depende e resulta do nosso perdão para com o próximo e do nosso relacionamento com as outras pessoas. Perdoar ao próximo é o princípio para ser perdoado por Deus. Em Mateus 18, Jesus nos conta uma parábola que nos mostra isso do padrão do próprio Deus:

 

“Por isso, o Reino dos céus é como um rei que desejava acertar contas com seus servos. Quando começou o acerto, foi trazido à sua presença um que lhe devia uma enorme quantidade de prata. Como não tinha condições de pagar, o senhor ordenou que ele, sua mulher, seus filhos e tudo o que ele possuía fossem vendidos para pagar a dívida. O servo prostrou-se diante dele e lhe implorou: ‘Tem paciência comigo, e eu te pagarei tudo’. O senhor daquele servo teve compaixão dele, cancelou a dívida e o deixou ir. Mas quando aquele servo saiu, encontrou um de seus conservos, que lhe devia cem denários. Agarrou-o e começou a sufocá-lo, dizendo: ‘Pague-me o que me deve!’ Então o seu conservo caiu de joelhos e implorou-lhe: ‘Tenha paciência comigo, e eu lhe pagarei’. Mas ele não quis. Antes, saiu e mandou lançá-lo na prisão, até que pagasse a dívida. Quando os outros servos, companheiros dele, viram o que havia acontecido, ficaram muito tristes e foram contar ao seu senhor tudo o que havia acontecido. Então o senhor chamou o servo e disse: ‘Servo mau, cancelei toda a sua dívida porque você me implorou. Você não devia ter tido misericórdia do seu conservo como eu tive de você?’ Irado, seu senhor entregou-o aos torturadores, até que pagasse tudo o que devia. Assim também lhes fará meu Pai celestial, se cada um de vocês não perdoar de coração a seu irmão" (Mateus 18:23-35)

 

Essa não é apenas uma “historinha da Bíblia”. Ela nos mostra muito bem a realidade de como a questão do pecado está diretamente relacionada com a questão do perdão. A nossa dívida natural para com Deus é enorme. A dívida era tão grande que foi necessário o sangue do próprio Filho Unigênito de Deus para pagar o preço, o sacrifício vicário na cruz por todos nós. Ninguém mais poderia fazer isso. Não existia ninguém totalmente “puro”. Estávamos fadados à morte. Mas Cristo pagou o preço por nós na cruz do Calvário, ele ”fez isso de uma vez por todas quando a si mesmo se ofereceu” (Hb.7:27).

 

O fato ali relatado é que esta dívida natural nossa para com Deus é algo tão grande, que o original grego no verso 18 traduz como sendo “10 mil talentos”. Para ter uma ideia da dimensão, um único talento equivalia a 25 quilos! A Graça de Deus é tão grande, que perdoou completamente aquela pessoa que tinha tão tamanha dívida! Agora pense no “problema” que uma pessoa humana tinha para com a outra. Toda a discussão deles rolava por conta de apenas 100 denários (um denário era o pagamento de um dia de trabalho).

 

Ao contrário daquela enorme dívida de dez mil talentos, essa dívida que a pessoa tinha para com a outra poderia ser resolvida com alguns meses de trabalho, sem problemas. Mas o ser humano, por sua natureza cruel, retém o perdão ao próximo, e não perdoa o seu próximo do mesmo modo que ele mesmo foi perdoado de uma dívida imensuravelmente superior. A atitude de reter o perdão ao próximo fez com que o Senhor o entregasse para os torturadores até que pagasse tudo o que ele devia.

 

Aqui nós vemos como o nosso perdão para o nosso próximo, para com os nossos irmãos da fé e principalmente para com os nossos inimigos é tão tremendamente importante para uma relação de perdão de Deus para conosco. Se não perdoamos o nosso próximo, nós estamos nos ausentando e nos excluindo do perdão de Deus! A oração do Pai Nosso é muito clara: “Perdoa as nossas dívidas... assim como perdoamos aos nossos devedores(v.12). O perdão de Deus para conosco está diretamente e intrisecamente relacionado ao perdão que temos para com o próximo. Se não perdoamos de coração aos outros, Deus também não perdoará as nossas ofensas.

 

E, se não temos o perdão de Deus, então de modo algum poderemos ser libertos da lei do pecado e da morte a fim de dar lugar à lei do Espírito de vida. Ainda tão importante quanto tudo isso, é a relação de confissão dos nossos pecados para com os outros. Não apenas temos que confessar os nossos pecados diante de Deus e perdoar as outras pessoas, como também devemos confessar os nossos pecados uns aos outros, em uma atitude recípocra de confissão de pecados.

 

Tiago afirma: “Portanto, confessem os seus pecados uns aos outros e orem uns pelos outros para serem curados. A oração de um justo é poderosa e eficaz” (Tg.5:16). Aqui nós vemos que o “confessar os pecados uns aos outros” é algo que, além de ser uma instrução direta por um apóstolo de grande liderança dentro da Igreja Primitiva como era Tiago, também é algo que deve ser realizado para a cura das pessoas.

 

Não estamos falando aqui apenas de serem perdoados os pecados, mas de sermos curados deles. Se nós confessamos os nossos pecados diante de Deus, Ele certamente nos perdoará. Mas se nós confessarmos os nossos pecados também ao nosso próximo, nós também seremos curados deste tipo de pecado. Devemos confessar os nossos pecados uns aos outros e pedirmos oração uns pelos outros para que sejamos curados destes pecados.

 

A palavra no original grego utilizada aqui por Tiago é “iaomai”, que significa “curar”, que difere da palavra grega para “pecado”, que é “hamartia”. Tiago faz essa diferenciação porque ele sabia que quando confessamos os nossos pecados a Deus somos de fato perdoados, mas quando nós também confessamos uns aos outros os nossos pecados nós somos também curados deles.

 

Não devemos esconder os nossos pecados para que os outros pensem que nós somos o “super-men” do Cristianismo ou a santidade personificada, porque de qualquer jeito vai vir a hora em que “tudo o que está em oculto será revelado” (Lc.8:17), e que as pessoas “terão que dar conta de cada palavra inútil que tiverem falado” (Mt.12:36). Pois “não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido” (Lc.12:12). Portanto, já no tempo chamado “hoje”, confessemos os nossos pecados para Deus e uns aos outros, para que sejamos perdoados e curados, totalmente transformados e regenerados pelo agir transformador do Espírito Santo do Deus vivo!

 

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Por: Lucas Banzoli.

 

Extraído de meu livro: "Como Vencer o Pecado". 

 

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