O PEDRO DE ROMA E O PEDRO DA GALILEIA

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O Pedro de Roma e o Pedro da Galileia 

 

Durante trinta e três anos o Nosso Senhor Jesus Cristo andou por esta terra ensinando as boas novas do evangelho, exortando ao caminho da verdade e doutrinando os seus doze discípulos que foram por ele instituídos. Após a morte, ressurreição e ascensão de Jesus, os seus discípulos tiveram o encargo de levar este mesmo evangelho aos perdidos, como verdadeiros embaixadores de Cristo.

 

Um destes doze, em especial, chamado Simão Pedro, é o foco deste livro. Um homem que, desde o início, mostrou personalidade firme, caráter notório dentre os apóstolos, alguém que sempre tomava a palavra, embora nem sempre com a palavra certa. Ele tinha a iniciativa, ele era o mais participativo e um dos que mais deviam conversar com Jesus – e às vezes até incomodá-lo com palavras não muito edificantes, de vez em quando (Mt 16:23).

 

Mas é exatamente essa personalidade forte de Pedro que mais me chama a atenção. Ele errava como nenhum outro, mas acertava como ninguém. Chegou a negar o Senhor três vezes, mas reafirmou o seu amor por seu Mestre por três vezes (Jo 21:15-17). Era repreendido por Jesus e por Paulo (Mc 8:33; Gl 2:11-14), mas exortava a muitos outros (1Pe 5:1-3).

 

Temos muito a aprender com Pedro, em muitos aspectos. A maioria de nós não é como um discípulo quieto, sossegado, que não arrisca, que não toma iniciativas nem para o bem, nem para o mal. Somos quase sempre como Pedro: queremos entrar na conversa, falar com Jesus, tomarmos a iniciativa.

 

Cometemos muitos erros, assim como Pedro errava. Acertamos outras tantas vezes também. Não somos perfeitos. Pedro não era perfeito. Não somos infalíveis. Pedro não era infalível. Reconhecemo-nos como pecadores (Lc 5:8), choramos amargamente quando cometemos um pecado (Lc 22:62). Muito de mim mesmo eu consigo enxergar na pessoa de Pedro. Muitas características dele fazem parte de cada um de nós – tanto dos erros, como dos acertos.

 

Infelizmente, com o passar do tempo, esse Pedro humano, pecador e falível como todos nós, foi substituído por um outro “Pedro”, alguém que a Igreja de Roma quer passar a ideia de um ser infalível, chefe de todos os cristãos, o supra-sumo da cristandade, a própria rocha sobre a qual a Igreja (todos nós) estamos fundamentados.

 

Ao invés de Pedro ser um cristão igual a nós, fomos obrigados a crer que não apenas nós, mas também todos os apóstolos, profetas, e pasme: o próprio Senhor Jesus Cristo(!), estão todos edificados sobre uma pedra humana, falível e pecadora. Ao invés da Igreja estar edificada sobre um fundamento inabalável, infalível e impecável como Jesus Cristo, ela estaria sendo sustentada por um alguém tão humano e falível quanto qualquer um de nós.

 

Mas não é só neste aspecto que Pedro foi imortalizado pela história. Não estou falando mais do Pedro da Galileia – estou falando do “Pedro” da Igreja Católica Apostólica Romana. Este sim é um Pedro super-poderoso. Um Pedro que colocava todos os outros apóstolos na sola do sapato, que liderava sobre tudo e sobre todos, que era o “príncipe dos apóstolos”, o “vigário de Cristo”, o “representante de Deus na terra”.

 

Foi-se criada uma imagem de Pedro que jamais existiu no Cristianismo bíblico. Um Pedro que, longe de ser como todos nós, é exaltado acima de qualquer de nós. E pior: um Pedro que deixa “sucessores” para continuarem perpetuando tal desigualdade. Um Pedro infalível, que manda e que desmanda, que cria dogmas e que ai de quem vai contra ele ou ousa questionar a sua autoridade!

 

O principal objetivo deste livro é desmistificar as lendas que foram criadas em torno da pessoa de Pedro. É fazer com que o Pedro real volte a ser aquela pessoa humilde da Galileia. É fazer com que o primado, o pilar e o fundamento voltem a ser Cristo Jesus. É destrinchar com uma série de mitos que foram se amontoando com o passar dos séculos, tais como: 

 

- Pedro é a pedra fundamental sobre a qual a Igreja está fundamentada.

- Pedro é o Chefe dos Apóstolos – exercia uma primazia sobre todos eles.

- Pedro era infalível e inerrante quando falando em ex cathedra.

- Pedro era o único vigário ou representante de Deus na terra.

- Pedro era a autoridade máxima da Igreja Cristã.

- Pedro era bispo da igreja de Roma.

- Pedro esteve 25 anos liderando a comunidade de Roma.

- Pedro era “papa”.

- Pedro era o "Príncipe dos Apóstolos".

- Pedro era o “Sumo Pontífice” (ou “Sumo Sacerdote”) dos cristãos.

- Os bispos de Roma (papas atuais) são sucessores de Pedro.

- O bispo de Roma tinha primazia sobre todos os demais nos primeiros séculos. 

 

Ufa! Você já está cansado de ver sempre estes mesmos mitos sendo propagados de todas as formas pelos clérigos romanos? Pois é, eu também. Por isso, chegou a hora de desmistificá-los. Se o leitor que começou crendo em todos estes itens citados acima (ou em parte deles) deixar de crer inteiramente neles ao terminar a leitura deste livro, o meu objetivo aqui será alcançado.

 

Tudo o que é necessário é ter perseverança e persistência em ler esta obra até o fim. Vai valer a pena. Mitos irão cair. Barreiras serão destruídas pelo poder das Escrituras e pela História cristã. “Tradições” antibíblicas serão refutadas. “Véus” espirituais serão desfeitos. “Pedros” que não seja o original serão desmascarados. E um povo sábio e consistente na Palavra de Deus será erguido.

 

 

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Quem é Pedro?

 

Antes de desmistificarmos as lendas que foram criadas em torno da figura de Pedro, será necessário primeiramente esclarecermos, biblicamente, quem era Pedro. Não será exatamente neste capítulo que faremos uma análise teológica mais profunda sobre Pedro. Iremos apenas fazer uma abordagem biográfica de Pedro a partir dos escritos bíblicos e dos escritos cristãos dos primeiros séculos.

 

Simão era originalmente um pescador (Lc 5:10), nasceu em Betsaida (Jo 1:44) e morava em Cafarnaum (Mt 8:5,14). Era filho de Jonas (Jo 1:42) e tinha um irmão chamado André, que também era discípulo de Jesus (Lc 6:14). Possivelmente eram discípulos de João Batista antes de tornarem-se discípulos de Cristo (Jo 1:40,41). Pedro era casado (1Co 9:5), tinha sogra (Mt 8:14) e filhos, como atesta Clemente de Alexandria, no século II:

 

“Ou também vão desaprovar os apóstolos? Porque Pedro e Felipe criaram filhos; e mais, Felipe deu maridos a suas filhas” (Stromatta III, VI)

 

O historiador da Igreja primitiva, Eusébio de Cesaréia (265 – 339) confirma essa informação em sua famosa “História Eclesiástica”, dando-nos “uma lista dos apóstolos que comprovadamente foram casados”[1], mencionando Pedro junto a seus filhos[2].

 

Pedro seguiu Jesus quando este lhe pediu que utilizasse uma de suas barcas para ensinar a uma multidão de pessoas (Lc 5:1-11). Ele estava junto com Tiago (o primeiro apóstolo mártir da Igreja) e João (o evangelista e escritor do Apocalipse). Em outras várias ocasiões eles aparecem juntos, tais como na cena do monte da transfiguração (Mc 9:2), na cura da filha de Jairo (Mc 5:37) e no Getsêmani, momentos antes da condenação e morte de Jesus (Mc 14:32).

 

Quando Pedro reconheceu Jesus, teve consciência de sua própria condição pecadora que servia como uma barreira entre ele e o Mestre. Reconhecendo-se como pecador, pediu para que o próprio Cristo se afastasse dele, pois a plenitude da santidade não pode conviver com o impuro:

 

“Vendo isso Simão Pedro, prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Retira-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador” (Lucas 5:8)

 

Mas, para o bem de Simão, o Cristo não se afastou dele. Ao contrário, ele veio para os pecadores oferecer-lhes a cura, e não para os sãos que não necessitam de arrependimento (Lc 5:32). Não apenas continuou com Simão, como também deu-lhe o nome de Cefas, que significa Pedro[3]

 

Um engano bem popular diz respeito à crença de que Jesus mudou o nome de Pedro no sentido de substituição. Jesus não “trocou” o nome de Simão, mas adicionou o nome “Pedro”. Há uma grande diferença entre substituição e acréscimo. Pedro continuou sendo chamado de Simão mesmo depois de Jesus ter-lhe dado o nome de Pedro. Foi pelo nome de “Simão” que o anjo informou a Cornélio sobre Pedro (At 10:32), e por “Simão” que os apóstolos o chamaram depois da ressurreição de Cristo (Lc 24:34).

 

Devido ao uso de mais de um idioma, era comum as pessoas possuírem mais de um nome. Pedro era o sobrenome de Simão, e não uma substituição deste. Isso fica muito claro na Escritura, que diz: “envia a Jope e manda chamar a Simão, que tem por sobrenome Pedro” (At 11:13). E também: “indagavam se ali estava hospedado Simão, que tinha por sobrenome Pedro” (At 10:18).

 

Portanto, diferentemente de outros personagens bíblicos (como Abraão, Sara, Jacó e outros) que tiveram os seus nomes trocados, no caso de Pedro apenas foi adicionado um sobrenome. É importante salientar tal distinção, pois um argumento católico que é muitas vezes utilizado diz respeito ao fato de Jesus supostamente ter substituído o nome de Pedro quando, na realidade, tudo o que ele fez foi acrescentar mais um.

 

Ademais, se a mudança de nomes fosse algum sinal de autoridade ou primado, então deveríamos atribuir o mesmo a Paulo, que antes se chamava Saulo (At 9:4). Veremos mais sobre esse argumento no capítulo seguinte.

 

Em seus momentos de fraqueza, Pedro era chamado de “Simão” (Lc 22:31; Mc 14:37; Jo 21:15-17). Era o velho Simão que entrava em ação, com todas as suas fraquezas e debilidades naturais. Quando, porém, Pedro reconhece Jesus como sendo o Cristo, o Filho do Deus vivo, ele é chamado de Pedro (pedra), para ressaltar a sua fé firme e inabalável de sua confissão (Mt 16:16-18).

 

Esse contraste entre “Pedro” e “Simão” em um mesmo indivíduo é ressaltado outras inúmeras vezes na vida e ministério de Pedro. Simão cometia os mais trágicos erros; Pedro mostrava uma fé que não provinha de carne e sangue. Simão negava a Cristo três vezes; Pedro confessava o seu amor por Ele três vezes. Simão era covarde, Pedro foi corajoso até o martírio.

 

Simão Pedro passou por muitas experiências marcantes em sua vida. Ele andou sobre as águas (Mt 14:29), ressuscitou Dorcas (At 9:40), curou um paralítico (At 9:34), curava enfermos com a sua sombra (At 5:15), testemunhou a transfiguração de Cristo (Mt 17:1), testemunhou a ressurreição da filha de Jairo (Lc 8:51), teve a sua fé ressaltada como uma firme rocha (Mt 16:16-18), obteve o poder de ligar e desligar no Reino dos céus (Mt 16:19).

 

Muitos alegam que, por causa dessas experiências marcantes de Pedro, ele deve ter uma importância superior aos demais, e talvez até lidere sobre eles. Porém, o próprio Senhor Jesus afirmou aos seus discípulos que “entre os que são considerados governantes das nações as dominam, e as pessoas importantes exercem poder sobre elas. Mas não será assim entre vocês (Mc 10:42).

 

Logo, não existia uma supremacia entre os apóstolos, nem tampouco um primado de um em relação aos outros. As experiências e vivências de Pedro são certamente muito valiosas e destacam um papel muito importante que Pedro exerceu, mas se elas fossem alguma “prova” de primazia sobre os demais, então o inverso também deveria ser verdadeiro.

 

Se os méritos de Pedro servem de prova de “primado”, então presume-se que os deméritos deveriam ser uma “contra-prova”. Os católicos terão que usar de critério aqui: ou as experiências pessoais de Pedro não o fundamentam como o líder máximo, ou, então, os seus fracassos também podem ser utilizados como um contra-argumento. E, se tem alguém que errou muito, esse alguém foi Pedro: 

 

- Pedro repreendeu o Senhor Jesus (Mt 16:22).

- Pedro foi repreendido como Satanás: “...para trás de mim, Satanás (Mt 16:23).

- Pedro negou a Cristo três vezes, até mesmo sob juramento (Mc 14:66-72).

- Pedro, no descontrole, cortou a orelha de Malco e foi repreendido novamente por causa disso (Jo 18:10,11).

- Pedro foi temporariamente contrário à evangelização dos gentios (At 10).

- Pedro, mesmo depois da ressurreição de Cristo, ainda pensava que certos alimentos eram “impuros”, contraditoriamente às ordens de Deus (At 10:15).

- Pedro foi repreendido por Paulo na face, “porque era repreensível” (Gl 2:11).

- Pedro “não estava agindo de acordo com a verdade do evangelho” (Gl 2:14), mas com hipocrisia (Gl 2:13).

- Pedro não pensava nas coisas de Deus, mas nas dos homens (Mt 16:23).

- Pedro duvidou e começou a afundar (Mt 14:30).

- Pedro foi repreendido por Jesus por ser um “homem de pequena fé” (Mt 14:31), porque ele duvidava (Mt 14:31). 

 

Muitas outras observações poderiam ser explanadas, e de fato serão mais a frente. Porém, o meu objetivo aqui de forma alguma é denegrir a imagem de Pedro ou dizer que ele era o menor de todos os apóstolos. Os fatos apresentados acima simplesmente indicam que não podemos usar os méritos de alguém para colocá-lo acima dos demais, pois o mesmo poderia ser feito com os deméritos desta mesma pessoa e rebaixá-la até o mais baixo nível, se usarmos o mesmo tipo de critério que os católicos se utilizassem para colocarem Pedro acima de todos.

 

A única forma deste critério dos méritos ser levado em consideração seria no caso deste alguém só apresentar pontos positivos e nunca negativos, de sempre acertar e nunca errar, de sempre ser elogiado e nunca corrigido, de sempre ter méritos e nunca deméritos (como é o caso de Jesus Cristo). Porém, isto está muito, mas muito longe de ser o tipo de pessoa que Pedro era.

 

Pelo estilo que Simão Pedro possuía, ele costumava sair na frente dos discípulos em qualquer situação, fosse para acertar, fosse para errar. Isso lhe trazia grandes elogios e também grandes repreensões. Não é a toa que os maiores elogios e também as maiores repreensões bíblicas são dirigidas a Pedro. Isso fazia de Pedro alguém certamente mais destacável entre os apóstolos (por seu muito falar, pelo seu temperamento e pelas suas iniciativas), mas nunca alguém mais importante do que os demais.

 

Em um dos colégios que eu estudei, havia um rapaz chamado Eduardo. Ele era simplesmente elétrico. Raramente conseguía parar quieto em um só lugar. Sempre quando a professora perguntava alguma coisa, ele era o primeiro a levantar a mão e sair na frente com as respostas. Muitas vezes ele acertava, outras muitas ele errava. Muitas vezes ele falava até mesmo quando ninguém perguntava nada pra ele – simplesmente tomava as iniciativas.

 

Por seu temperamento, ele era o aluno que mais se destacava dentre os demais. Isso tornava ele o “líder” da turma? É claro que não. Isso fazia dele a pessoa mais importante ou a mais inteligente da classe? Também não. Ele não exercia domínio (i.e, soberania, primazia, liderança) sobre os demais alunos; simplesmente se destacava por ser o mais falador. As histórias mais trágicas, as mais engraçadas e também as mais dignas daquele ano tiveram alguma relação com ele, diretamente ou indiretamente.

 

Com Pedro era a mesma coisa. Ele era o mais mencionado entre os doze? Sim, pois era o que mais tinha iniciativa. As maiores experiências envolviam Pedro? Sim, e as piores também. Jesus elogiou Pedro várias vezes? E o repreendeu não poucas. De fato, o perfil de Pedro é único e singular. Ele não pode ser utilizado como prova de primado ou de um lugar rebaixado dentre os apóstolos. Ele simplesmente era o que mais se destacava. Só isso.

 

Veremos mais adiante que é uma falácia utilizar as experiências e méritos de Pedro como prova de primado, pois poderíamos usar exatamente esta mesma lógica para colocar o primado para qualquer um, se realmente este fosse um método qualificável de definir “superioridade”. Vejamos rapidamente alguns deles: 

 

Pedro curava com a sua sombra? Paulo curava até mesmo com os seus lenços e aventais, mesmo sem estar presente (At 19:12)!

- Pedro podia “ligar e desligar”? Todos os discípulos podiam fazer o mesmo (Mt 18:18).

- Pedro estava no monte de transfiguração, presenciou a ressurreição da filha de Jairo e foi com Jesus na agonia do Getsêmani? Tiago e João também (Lc 9:28; Mc 5:37; Mc 14:33). João, aliás, foi o único que permaneceu com Cristo até o pé da cruz, enquanto Judas o traía e Pedro o negava (Jo 19:26).

- Pedro escreveu duas epístolas de grande importância? Paulo escreveu treze.

- Pedro pregou o evangelho? Paulo pregou “mais do que todos os demais apóstolos” (1Co 15:10).

Pedro ressuscitou Dorcas? Paulo ressuscitou Êutico (At 20:10).

- Pedro se destacava dentre os demais? Paulo tanto mais se destacou que, desde quando entra em cena no livro de Atos, a atenção se volta só para ele, e Pedro desaparece completamente de cena e nem sequer é mencionado ao longo de toda a segunda metade do livro (Atos 16 a 28)!

- Pedro é o primeiro citado na lista de Mt 10:2/Mc 3:16/Lc 6:14? Mas Tiago aparece em primeiro lugar na lista das colunas da Igreja, deixando Pedro para trás (Gl 2:9); Paulo aparece antes de Pedro em Gálatas 2:7; Pedro aparece em último na lista de 1Coríntios 3:22 (atrás de Paulo e Apolo), e Paulo e Apolo aparecem novamente na frente de Pedro em 1Coríntios 1:12. 

Pedro não era inferior aos demais? Paulo não se julgava “nem um pouco inferior aos mais excelentes apóstolos” (2Co 11:5).

Pedro viu Jesus? Paulo não apenas viu Jesus, mas foi arrebatado até o terceiro céu (2Co 12:2).

- Pedro tinha visões? A maior, mais importante e mais abrangente visão divina concedida a um apóstolo foi designada ao apóstolo João, na revelação do Apocalipse (Ap 1:1).

- Pedro dava ordens a alguém? Não, ele mesmo era enviado pelos outros apóstolos (At 8:14).

 

Ufa! É melhor pararmos por aqui. Como eu expliquei no início deste capítulo, o objetivo a tal altura não é de fornecer argumentos teológicos contra o primado de Pedro, mas sim de fazer uma descrição de Pedro. Porém, foi necessária uma breve refutação de alguns argumentos utilizados pelo catolicismo (que serão tratados mais abrangentemente nos outros capítulos do livro), apenas para demonstrar o quanto falaciosos são os seus argumentos.

 

Os argumentos utilizados pelos papistas falham sempre em três pontos principais:

 

1. Ignoram os deméritos de Pedro, focalizando-se sempre apenas nos méritos.

 

2. Ignoram o fato óbvio de que, se os méritos devem ser encarados como prova de primado, então os deméritos (que Pedro possui tanto quanto os méritos) devem ter um valor contrário. Ou os méritos e deméritos não servem de prova de superioridade, mas apenas de destacabilidade (que é o que tudo nos indica) ou, então, ambos devem ser levados em conta para cima e para baixo (não poderíamos arbitrariamente apenas nos focarmos nos méritos, ignorando absolutamente todos os deméritos como se não existissem, apenas porque não se amoldam a um determinado sistema de crenças).

 

3. Ignoram que todas as supostas “provas” a favor do primado de Pedro (que se baseiam em méritos e experiências pessoais) também podem ser igualmente utilizadas para provar o “primado” de qualquer um, pois os mesmos fatos, méritos e experiências de Pedro ocorrem em medidas até maiores com outros apóstolos. Assim sendo, ou tais argumentos são falaciosos (como o são de fato), ou então deveríamos abandonar o critério e fecharmos os nossos olhos para o conteúdo total das Escrituras, fazendo de conta que experiências assim aconteciam só com Pedro.

 

O resumo deste capítulo pode ser encontrado nas sábias palavras  de Anísio Renato de Andrade:

 

“E não acontece assim também conosco? Num momento estamos ‘andando sobre as águas’ e, ‘no próximo versículo’ já começamos a afundar. Talvez também tenhamos muitas vezes negado a Cristo através das nossas ações e palavras... O registro dos erros de Pedro são bastante oportunos, pois, além de evidenciarem a sinceridade dos escritores bíblicos, servem para derrubar a tese de uma suposta infalibilidade apregoada por alguns. Tantas falhas deveriam ter sido suficientes para que Pedro não viesse a ser idolatrado por tantas pessoas. Contudo, todos os seus erros não foram bastante. O escritor de Atos dos Apóstolos concentrou-se na pessoa e nas obras de Pedro até o capítulo 12. Afinal, foi considerado como uma das ‘colunas da igreja’ (Gálatas 2.9)”[4]

 

Em resumo, podemos definir que Pedro era um humilde pescador da Galileia, humano, pecador e falível, que tinha um temperamento que o destacava dentre os demais. Com todas as suas fraquezas, ele apresentava uma vontade maior ainda de aprender com o Mestre, de crescer com Ele e de depositar a sua fé e confiança nEle. Isso lhe concedeu muitos acertos em sua vida, mesmo em meio a muitos tropeços.

 

Pedro é uma figura de todos nós. Quando colocamos a nossa fé em Cristo Jesus, somos “petros” (Pedro), edificamos sobre a rocha principal, que é Jesus Cristo (1Co 3:11). Quando, porém, passamos a repreender Jesus com nossas atitudes, voltamos a ser apenas “Simão” – alguém desprovido daquela fé como uma rocha que tanto o destacava.

 

Não, Pedro não exercia um primado sobre os demais, assim como Eduardo não mandava nos outros alunos da classe por ser o que mais falava e tomava iniciativas. Pedro tem uma importância singular na fé cristã. Um caráter forte, às vezes até explosivo, dependendo das circunstâncias. Mas nem por isso, nem por ter andado com Jesus, deixou de ser aquele “pescador de homens” que, longe de estar sentado em um trono de ouro dando ordens aos seus súditos, é antes de tudo alguém que, como nós, tinha muito a corrigir de seus próprios defeitos e a aprender com os demais – e não mandar neles.

 

A partir do próximo capítulo, iremos explorar mais profundamente o aspecto teológico acerca das considerações Escriturísticas sobre o ministério de Pedro e o seu suposto “primado” alegado pela Igreja Católica. Teria Pedro exercido um ministério superior a todos os outros apóstolos? Teria sido ele o eleito para liderar individualmente o grupo apostólico e os demais cristãos? Como devemos responder as objeções católicas comumente enfrentadas? É sobre isso que veremos a seguir.

 

 

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Por: Lucas Banzoli.

 

Extraído de meu livro: "A História Não Contada de Pedro" - 18/01/2012. 

 

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Notas e Referências:

[1] História Eclesiástica, Livro III, 30:1.

[2] Ibid.

[3] “Simão” significa “aquele que ouve”. “Pedro” (ou “Cefas”, em aramaico) significa “pedra”.

[4] Texto de Anísio Renato de Andrade. Leia a abordagem completa em: http://www.portalnovavida.org.br/edificando/estudos-biblicos/3200-o-apostolo-pedro-.html

 

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