DERRUBANDO O PRETERISMO (P3)

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No tópico ”Mateus 24 favorece o preterismo?” eu expus alguns pontos importantes que nos demonstram de forma clara que o contexto de Mateus 24 não é um apoio ou base bíblica para o preterismo, muito pelo contrário: quando analisamos cuidadosamente o contexto, vemos claramente que Cristo estava apontando fatores futuros (que vão muito além de 70 d.C) que marcariam o fim dos tempos, como é o caso do evangelho sendo pregado a todas as nações, da maior batalha que já existiu na história, do maior terremoto que o mundo já viu, da multiplicação de falsos cristos e de falsos profetas, de guerras e rumores de guerras, e de vários outros aspectos que não ocorreram entre 30 e 70 d.C. 
 
Na caixa de comentários, um preterista chamado Paulo Tiago (que, por sinal, é muito mais inteligente e capacitado do que a grande maioria dos preteristas que vemos por aí) levantou algumas objeções aos meus argumentos, os quais foram refutados em seguida. Porém, creio que ele se equivocou em um ponto principal: o fato de que Cristo tivesse voltado em 70 d.C, após a destruição de Jerusalém. 
 
O meu argumento era de que o “imediatamente” (ou “logo depois”, de acordo com outras versões) do verso 29 de Mateus 24 liga o fim da grande tribulação ao imediato retorno de Cristo na segunda vinda. É importante ressaltar também que, enquanto o evangelista Mateus liga ambos os acontecimentos (tribulação e volta de Jesus) pelo advérbio grego “eutheos”, que significa: “diretamente, imediatamente, em seguida” (Concordância de Strong, 2112), o evangelista Marcos emprega para a mesma situação o advérbio grego “tote”, que significa: “então; naquele tempo” (Concordância de Strong, 5119), em Marcos 13:26. 
 
Portanto, tanto em Mateus como em Marcos, ambos os evangelistas fazem questão de ressaltar que a volta de Jesus está diretamente relacionada ao término da grande tribulação, como sendo dois acontecimentos praticamente simultâneos, um em imediato ao outro. Acontecerá a grande tribulação, e “então... imediatamente... logo em seguida” virá a volta de Jesus. Portanto, ou a tribulação ainda não aconteceu e Jesus ainda não voltou, ou a tribulação já aconteceu e Jesus já veio.  
 
Tendo em vista estes fatos, o preterista apostou na segunda opção: a tribulação já aconteceu e Jesus já voltou. E quando? Em 70 d.C! Essa volta de Jesus, para ele, diz respeito a uma volta para exercer juízo, e não a volta gloriosa de Cristo no fim dos tempos. Porém, embora seja verdade que em alguns casos haja uma linguagem alegórica de Deus vindo exercer juízo sobre uma determinada nação apóstata, o fato é que não é o mesmo que se trata o texto de Mateus 24:29-31, que diz: 
 
“Imediatamente após a tribulação daqueles dias ‘o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz; as estrelas cairão do céu, e os poderes celestes serão abalados’. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem, e todas as nações da terra se lamentarão e verão o Filho do homem vindo nas nuvens do céu com poder e grande glória. E ele enviará os seus anjos com grande som de trombeta, e estes reunirão os seus eleitos dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus” (Mateus 24:29-31) 
 
Aqui podemos constatar pelo menos três aspectos nessa volta de Jesus que não condizem com uma linguagem alegórica que diz respeito somente a uma vinda para exercer juízo. Estes três fatores nos demonstram claramente que essa volta de Jesus, descrita em Mateus 24:29-31, diz respeito exatamente à volta gloriosa do Salvador no fim dos tempos.   
 
 
1. Todas as nações da terra veriam Jesus vindo sobre as nuvens do Céu 
 
O texto bíblico diz claramente que “todas as nações” da terra veriam o Filho do homem vindo sobre as nuvens do Céu. Como os preteristas fazem com tamanha evidência? O mesmo que eles fazem com todas as outras: alegorizam ao extremo tal passagem, dando a indicar que isso era mera metáfora de que Jesus exerceria juízo sobre Jerusalém através dos exércitos romanos. E só! Porém, vemos que a descrição de Cristo vai muito além disso. Ele diz que: 
 
-Tal coisa aconteceria com todas as nações, e não apenas com Jerusalém. Isso é particularmente importante, pois “todas as nações” vai muito além de Jerusalém. Se Jesus estivesse somente a dizer que Jerusalém seria castigada por Deus, diria que “a nação” (singular) se lamentaria, e não que tal lamento ocorreria com todas as nações.  
 
Será que os romanos, que destruíram Jerusalém, se “lamentaram” ao ver Jerusalém destruída? É claro que não! Será que as outras nações, que nem ao menos se envolveram na guerra e que nem ajudaram Israel, se “lamentaram” com a sua destruição? É óbvio que não! Na verdade, houve muito mais nações exultando do que lamentando a destruição de Jerusalém.  
 
Sendo assim, a descrição bíblica de que todas as nações se lamentariam não se aplica e nem pode se aplicar de modo algum à destruição de Jerusalém em 70 d.C. Vai muito além disso, como qualquer bom estudioso da Bíblia pode observar. Não faria sentido que o juízo exercido sobre uma única nação da terra fizesse com que todas as nações vissem e lamentassem o ocorrido, incluindo aquelas que destruíram a própria cidade de Jerusalém ou que foram totalmente indiferentes à sua destruição. 
 
Portanto, ainda se tirarmos toda a literalidade do texto e ficássemos somente com uma interpretação alegórica, no máximo seria um sinal para duas nações (Roma e Jerusalém), e não para “todas as nações da terra”, como o texto diz claramente. A guerra de 70 d.C não foi um juízo para todas as nações da terra, precisamente porque muitas delas nem sequer estavam guerreando coisa alguma.   
 
 
2. Com grande som de trombeta. 
 
Em nenhuma descrição alegórica do juízo sobre qualquer outra nação do passado há a menção de que Jesus voltaria com “grande som de trombeta”, como o próprio Cristo aponta claramente sobre essa Sua volta gloriosa que ocorre na descrição de Mateus 24:29-31. Na verdade, a descrição de Jesus voltando com o grande som de trombeta é exatamente o relato que o apóstolo Paulo descreve aos tessalonicenses, dizendo: 
 
“Dizemos a vocês, pela palavra do Senhor, que nós, os que estivermos vivos, os que ficarmos até a vinda do Senhor, certamente não precederemos os que dormem. Pois, dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá do céu, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois disso, os que estivermos vivos seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares. E assim estaremos com o Senhor para sempre” (1 Tessalonicenses 4:15-17) 
 
Note que o mesmo evento que Jesus descreveu em Mateus 24:29-31 é o que Paulo descreve em 1ª Tessalonicenses 4:15-17. Em ambos, Jesus volta com grande poder e glória, em ambos Deus envia os seus anjos, em ambos há o som da grande trombeta e em ambos há a reunião dos eleitos para a glória. Somente algum intérprete bíblico muito iniciante e amador (ou extremamente tendencioso) que iria negar a clareza inequívoca de tais textos, como se tratando de um mesmo acontecimento. Ocorre que, na descrição de Paulo, com o ressoar da trombeta há a ressurreição dos mortos, que Jesus disse que aconteceria no último dia: 
 
Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, não o atrair; e eu o ressuscitarei no último dia (João 6:44) 
 
“Porque a vontade de meu Pai é que todo o que olhar para o Filho e nele crer tenha a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia (João 6:40) 
 
Pergunto: os mortos já ressuscitaram? Não! O “último dia” já chegou? É claro que não, senão nós já estaríamos nos “acréscimos”! Alguns preteristas se defendem dizendo que essa seria uma espécie de “ressurreição espiritual” onde todos os crentes passariam, que representaria a transformação da velha criatura para uma nova criatura (essa é a mesma "lógica" que eles aplicam para Apocalipse 20:4).  
 
Porém, a Bíblia atesta e confirma que a ressurreição é do corpo físico direto do túmulo (ver João 5:28-29), o qual é composto de "carne e ossos" (Lc.24:39). O próprio Pedro se posicionou favorável ao fato de que o corpo ressurreto era um corpo físico; que era o mesmo corpo de carne que foi ao túmulo e que nunca viu a corrupção (At.2:31), algo que também foi afirmado por Paulo (At.13:35).  
 
Além disso, cabe ressaltar o fato de que, se a ressurreição ali relatada era “espiritual” e que representaria somente a transformação da natureza espiritual do homem, então o verbo deveria estar no passado (“ressuscitaram”), do mesmo modo que Paulo sempre se referia à ressurreição espiritual quando falava dela: 
 
Portanto, já que vocês ressuscitaram com Cristo, procurem as coisas que são do alto, onde Cristo está assentado à direita de Deus” (Colossenses 3:1) 
 
Note que, quando Paulo fala da ressurreição espiritual, ele coloca o tempo no passado, dizendo que nós já ressuscitamos com Cristo. Porém, isso não é o mesmo que ocorre em 1ª Tessalonicenses 4:16, onde Paulo fala que os mortos em Cristo “ressuscitarão” (futuro). Será que os cristãos (como Paulo) ainda não haviam sido transformados para uma nova criatura? É óbvio que a interpretação preterista está completamente equivocada.  
 
Por fim, vale a pena ressaltar que a ressurreição espiritual se aplica a pessoas vivas, como Paulo escreve em Colossenses 3:1. Porém, 1ª Tessalonicenses 4:16 está falando de pessoas mortas, e que ainda haveriam de ressuscitar. Ele nem se coloca neste grupo, já que ele se identifica com o grupo dos vivos, que está no mesmo contexto (“nós, os vivos” – v.17). Portanto, o texto está falando literalmente de mortos que ressuscitariam fisicamente na volta de Jesus, em um corpo glorioso. 
 
E isso derruba por completo a teologia preterista, pois sabemos que a ressurreição física para a glória não acontece senão no “último dia” (Jo.6:40,44), por ocasião da volta de Jesus (1Co.15:22,23). Não aconteceu ainda! Portanto, uma vez sendo que nessa volta de Jesus (descrita em Mateus 24:29-31 e com o paralelo em 1ª Tessalonicensses 4:15-15) ocorre ao mesmo tempo a ressurreição gloriosa dos mortos para a vida eterna, e isso não aconteceu ainda, fica claro que esa volta de Jesus que ele relatava em Mateus 24 não aconteceu ainda, e, portanto, não se referia à destruição de Jerusalém em 70 d.C!   
 
 
3. A reunião dos eleitos das quatro extremidades do Céu. 
 
Este talvez seja o ponto mais alto da argumentação, embora diante de tudo o que já foi exposto o mais coerente seria um preterista já deixar de uma vez por todas as suas hipóteses e teses de lado. Nós vemos, tanto na descrição de Jesus como na descrição de Paulo (pois se tratavam do mesmo evento) o arrebatamento dos cristãos, e a reunião destes na glória.  
 
Jesus fala que “ele enviará os seus anjos com grande som de trombeta, e estes reunirão os seus eleitos dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus” (Mt.24:31). Paulo fala que neste evento seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares. E assim estaremos com o Senhor para sempre” (1Ts.4:17). Portanto, vemos que: 
 
-Os eleitos seriam reunidos dos quatro ventos, de todas as extremidades dos céus. Esta declaração é um ultraje para a doutrina preterista, pois, segundo eles, a grande tribulação se resumia somente a Roma e Jerusalém, e a destruição somente a Jerusalém, que seria a “Babilônia”. Porém, vemos que o texto bíblico está tratando de “todas as extremidades dos céus” (Mt.24:31). 
 
Isso é óbvio que está indo além de Jerusalém e Roma. E será que os eleitos foram arrebatados de todas as extremidades dos céus para estarem com Cristo, naquela situação? É claro que não. No site “A Grande Cidade”, o apologista evangélico Alon trata disso nas seguintes palavras: 
 
“Em Apocalipse 12-17 e 13-7, o dragão e a besta fazem guerra aos santos, (12-17), aqueles que guardam os mandamentos de Deus e o testemunho de Jesus Cristo. No entanto, na guerra judaica de 66-70 dC a batalha era contra os judeus rebeldes, e não contra os crentes em Cristo. Estas passagens mostram uma contradição clara do preterismo, que considera que esses registros sustentam a prova da guerra em Jerusalém pelos exércitos romanos. A história diz-nos que aqueles em Cristo, a maioria se não todos, saiu de Jerusalém antes dos romanos completamente cercar e destruir os ‘judeus incrédulos’. Os seguidores de Cristo escaparam para uma cidade chamada Pella, na Palestina” (1 
 
Além disso, Paulo nos diz que seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares. E assim estaremos com o Senhor para sempre” (1Ts.4:17). Porém, vemos que os crentes não foram arrebatados nas nuvens depois de 70 d.C, para estarem “para sempre com o Senhor” (v.17).  
 
Ao contrário: os que estavam na Ásia continuaram na Ásia, os que estavam em Roma permaneceram em Roma, os que estavam em Jerusalém foram destruídos. Não houve a reunião de todos os crentes nos ares, muito menos com os mortos que já morreram e que seriam ressuscitados para se encontrarem juntamente conosco, como Paulo diz nos versos 16 e 17.  
 
Ora, se os mortos não ressuscitaram, se os vivos não foram arrebatados e se não houve o encontro prometido entre vivos e mortos por ocasião de 70 d.C, com a reunião de todos os eleitos de todas as extremidades dos céus, então é óbvio que o que Jesus se referia em Mateus 24 não era ao acontecimento que marcou a destruição de Jerusalém em 70 d.C, mas sim a um acontecimento futuro, no fim dos tempos.  
 
É impossível ligarmos a declaração de Cristo em Mateus 24:29-31 à destruição de Jerusalém em 70 d.C, pois nada disso aconteceu nesta época. O texto trata-se obviamente de um evento global futuro, e não de algo ocorrido particularmente em 70 d.C. 
 
Em conclusão, podemos dizer que o preterismo e suas vertentes teológicas não passam de um sonho de uma noite de verão. Elas parecem fortes quando defendidas em uma primeira ocasião, mas evaporam por completo quando usamos a exegese bíblica e o raciocínio lógico em defesa da verdade e da ortodoxia bíblica. 
 
Então não, nem a tribulação nem a volta de Jesus aconteceram ainda. 
 
Paz a todos vocês que estão em Cristo. 
 
Por Cristo e por Seu Reino, 
Lucas Banzoli (apologiacrista.com) 
 
 
 
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Por: Lucas Banzoli.
 
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