“Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor” (2 Coríntios 3:18)
Existem dois extremos que não podem existir dentro da Igreja Cristã. Um princípio muito importante a ser observado aqui é que, como observa Paulo, a nossa vitória contra o pecado estará sendo travada na medida da proporção em que cada um se encontra:
“Não que eu já tenha obtido tudo isso ou tenha sido aperfeiçoado, mas prossigo para alcançá-lo, pois para isso também fui alcançado por Cristo Jesus. Irmãos, não penso que eu mesmo já o tenha alcançado, mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus. Todos nós que alcançamos a maturidade devemos ver as coisas dessa forma, e se em algum aspecto vocês pensam de modo diferente, isso também Deus lhes esclarecerá. Tão-somente vivamos de acordo com o que já alcançamos. Irmãos, sigam unidos o meu exemplo e observem os que vivem de acordo com o padrão que lhes apresentamos” (Filipenses 3:12-17)
O que Paulo afirma aqui aos filipenses é um ensimento de uma profundidade muito grande para não chegarmos a extremos antibíblicos que podem causar muita confusão nas pessoas. Existem dois extremos que podem acabar arranjando “confusão”: O primeiro deles é quando alguém que ainda é imaturo ou ainda está crescendo na fé exige de si mesmo uma maturidade de alguém que já está em um patamar muito grandemente maior de fé e santidade, se punindo por não poder fazer exatamente o mesmo que aquela pessoa faz. Noutras palavras, é como se ela fosse uma criança na fé, imatura, mas já quisesse ser perfeito!
Mas temos também um outro extremo que atinge muitas pessoas, que consiste no gravíssimo erro de achar que já está “bem demais” e acreditar que pode voltar a fazer certas coisas (abrindo concessão à elas) só porque vê que todo mundo faz. Noutras palavras, é como se ela percebesse que o seu patamar espiritual de maturidade e santidade está tão maior do que os outros que não tem problemas em fazer uma ou outra “coisinha” que “todo mundo faz”. Afinal, se eles podem, eu também posso um pouco, certo? Errado! Estes dois extremos estão grandemente equivocados. A ordem bíblica é de que “vivamos de acordo com o que já alcançamos” (Fp.3:16). Isso significa que nós devemos estar sempre em ordem CRESCENTE de maturidade espiritual (1Pe.2:2), “crescendo para a salvação” (1Pe.2:2), a fim de “alcançar a maturidade” (Fp.3:15).
Mas ninguém chega do ponto “A” para o ponto “Z” de crescimento espiritual de uma hora para outra. Este processo muitas vezes pode demorar mêses, ou na grande maioria das vezes, anos! Às vezes dura até uma vida! O fato é que todos nós podemos, um dia, chegar à maturidade, mas isso não vem de uma hora pra outra como se caindo do Céu. O que Paulo diz, então, para fazermos? Ele afirma que devemos “viver de acordo com aquilo que já alcançamos” (Fp.3:16). O próprio Paulo diz que já havia alcançado a maturidade (v.15), e que os irmãos deveriam seguir o exemplo dele e dos demais que igualmente já alcançaram tal padrão grande (v.17), o que nos confirma que devemos estar sempre em crescimento, mas afirma que cada um deve viver de acordo com aquilo que já foi alcançado, ou seja, de acordo com o padrão em que ela se encontra.
Lembro há algum tempo atrás que o pastor da minha igreja pediu perdão em público na frente de toda a igreja (com lágrimas e arrependimento sincero) por ter orado pouco enquando estava no carro para ir para a igreja, pois uma pessoa havia ligado no celular pedindo oração por alguém que estava enfermo. Apenas o mero e simples ato de ter orado pouco enquanto ainda estava no carro foi algo que, para ele, foi tão grande que ele teve que pedir perdão com lágrimas para toda a comunidade! Primeiramente, geralmente associamos isso a algum tipo de “exagero” espiritual.
A verdade é que a grande maioria das pessoas não iria nem ligar para isso, não iria ficar orando muito tempo no carro ou então deixaria para orar quando chegasse em casa ou na igreja, e depois disso não sentiria nem um pingo de remorso ao ponto de ir pedir perdão na frente da igreja! Como disse certo irmão da igreja outra vez: “Os seus ‘erros’ são os nossos ‘acertos’”!
Mas a atitude dele não estava equivocada nem um pouco. A verdade é que o trabalho de Deus na vida dele foi tão grande ao ponto em que ele chegou a um grande nível de maturidade espiritual e, tendo em vista que cada um deve viver de acordo com o padrão já alcançado, ele estava mais do que certo na atitude que ele tomou. Na visão dele (ou seja, de alguém que já alcançou a maturidade) isso era um pecado tão grande que levou às lágrimas e à confissão pública.
Para algumas pessoas que não alcançaram a maturidade, contudo, isso não seria nem mesmo considerado um “errinho”! A questão aqui não é solucionar quem está certo e quem está errado, pois cada um deve viver de acordo com o padrão já alcançado e estar em progresso na sua vida espiritual. Se alguém já chegou tamanha maturidade, não deve de jeito nenhum ignorar completamente o que fez porque os outros não dariam a mínima para isso. Do mesmo modo, alguém que ainda é novato na fé, que não chegou à maturidade ainda, muitas vezes se a pessoa deixar de xingar ou de ver alguma imagem pornográfica durante um único dia (ou em partes desse dia...) já é um verdadeiro “milagre” conquistado...
Então, o que é que ela deve fazer enquanto ainda se encontra nessa fase? Exigir o mesmo nível de profundidade de maturidade já conquistado por Paulo? (ou pelo meu pastor?). Não, é claro que não! Ela deve fazer o máximo possível dentro do padrão em que ela se encontra. Este é o princípio básico: Devemos viver de acordo com aquilo que já alcançamos, mas sempre vivendo para crescer espiritualmente. Você não pode, agora que já está “crescido”, olhar lá para trás e ver que existiam certos tipos de pecado que você cometia antes e achava que estava “tudo bem” e que hoje não comete mais, e voltar atrás e cometer estes mesmos erros.
Semelhantemente, você não pode pensar que antigamente (quando ainda era imaturo) não orava tanto quanto você ora hoje e que por isso pode tranquilamente voltar a orar menos para “regular” um pouco. Ao contrário, você nunca pode olhar para trás! Paulo esquecia daquilo que ficava para trás, pois sempre pensava adiante, na maturidade: “esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante” (v.13). Nunca volte atrás! Devemos crescer, e fazer o melhor de nós mesmos para vencermos na medida espiritual em que já alcançamos. Deus não coloca na sua frente um gigante logo de cara para você derrubar; você primeiro vence pequenas batalhas e pequenos desafios (mas grande na sua esfera espiritual em que se encontra), e de vitória em vitória é que você chega lá!
A vida espiritual é feita de uma vitória de cada vez, crescendo de glória em glória: “Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor” (2Co.3:18). A transformação completa não vem de uma hora pra outra, mas com uma vitória de cada vez, “de glória em glória”, até chegarmos à maturidade. É verdade também que em algumas situações o diabo pode atacar ao ponto de parecer que “perdemos” maturidade. Ele vai querer nos tentar e mostrar que nós somos fracos, mas nós não podemos nos entregar a ele. Deus pode até permitir que temporariamente as tentações aumentem como também aumente o nível da batalha.
Pode ser que você caia um pouco de nível, mas você sempre tem que estar combatendo e vencendo na medida daquilo em que você se encontra. Se o melhor que você pode fazer é passar um dia todo sem xingar, então não xingue. Se você consegue passar vários dias sem cometer pecado nenhum, então não peque. Ninguém é perfeito, mas todos nós devemos almejar a perfeição e crescer para a maturidade. As tempestades da vida existem, e é exatamente para isso que Deus nos prepara. Ele nos molda, lapida, aperfeiçoa e trabalha em nossos corações nos trazendo crescimento e maturidade espiritual, a fim de que quando venha a tempestade, nós possamos permanecer firmes e em pé, inabaláveis. É sobre isso que Jesus se refere quando diz:
“Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em prática, será comparado a um homem prudente, que edificou a casa sobre a rocha. E desceu a chuva, correram as torrentes, sopraram os ventos, e bateram com ímpeto contra aquela casa; contudo não caiu, porque estava fundada sobre a rocha. Mas todo aquele que ouve estas minhas palavras, e não as põe em prática, será comparado a um homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia. E desceu a chuva, correram as torrentes, sopraram os ventos, e bateram com ímpeto contra aquela casa, e ela caiu; e grande foi a sua queda” (Mt.7:24-27)
Muitas vezes estranhamos o porquê das coisas estarem antes tão bem e em vertiginoso processo, de repente começar a voltar a ficar com certos desejos impuros no coração... e a voltar a ser atraído por coisas que já havia obtido vitória anteriormente. Talvez a razão para isso seja uma provável “tempestade” espiritual que sobreveio a sua vida. Deus nos prepara e nos aperfeiçoa, nos fundamenta sobre a única rocha que é Cristo, para que quando cheguem estas tempestades (ataques malignos interiores e exteriores), nós permaneçamos firmes na rocha de Cristo. Muito provavelmente nós não sejamos iguais ao próprio Cristo, que apesar de “em tudo ser tentado, não pecou” (Hb.4:15).
Provavelmente nós cometeremos muitos erros e deslizes... mas sabemos que, se o nosso crescimento foi realmente verdadeiro e não falso, então o objeto central do inimigo jamais conseguirá ser bem sucedido. O que Satanás quer é nos ver desistindo e largando tudo por achar não ser possível vencer as tentações ou ficar com vergonha demais de pedir perdão NOVAMENTE... ou que percamos a nossa fé em Deus e deixemos de perseverar... ou que viremos novamente ESCRAVOS do pecado. Mas se realmente estamos edificados “sobre o único fundamento que é Cristo” (1Co.3:11), então o inimigo não terá sucesso nestes seus intentos.
Ainda que possamos fraquejar de vez em quando, ainda que possamos cair vez por outra, ou ainda que momentaneamente a nossa fé pareça estar abalada, se realmente fomos aperfeiçoados na Rocha, Ele nos concederá Graça maior a fim de que possamos vencer essa tempestade pelas forças do Senhor, a fim de que ainda que desça a chuva, corram as correntes ou soprem os ventos contra aquela casa (que somos nós) não fiquemos derrubados, porque estamos edificados sobre a Rocha! Aleluia!!! O mais importante de tudo isso é que a tempestade (assim como o tempo bom) tem um tempo. Ela não é “eterna”. Nem sequer o próprio dilúvio foi “eterno”!
Se você pode se identificar neste quadro (ou poderá se identificar neste quadro algum dia), tenha a esperança e mantenha a sua fé de que essa tempestade na sua vida irá passar, ela não é eterna, e tenha em mente também que você não está em uma situação sem volta na qual se tornou novamente escravo do pecado. Você tem vida em Cristo Jesus, e o tempo bom virá novamente, pois como está escrito: “Bem-aventurado o homem que suporta a provação; porque, depois de aprovado, receberá a coroa da vida, que o Senhor prometeu aos que o amam” (Tg.1:12).
Amém! Que isso seja realidade na minha e na sua vida!!! Tão somente lutemos o máximo que podemos, no padrão em que nos encontramos, “com o auxílio do Espírito de Jesus Cristo” (Fp.1:19), a fim de crescermos em maturidade e santidade diante de Deus, como “homens de Deus aptos e plenamente preparados para toda boa obra” (2Tm.3:17).
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Por: Lucas Banzoli.
Extraído de meu livro: "Como Vencer o Pecado".
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