DERRUBANDO O PRETERISMO (P2)

.

 

Atualmente a Igreja Católica vem declarando que a “mulher” (a Babilônia do Apocalipse) se trata de Jerusalém, e que o livro de João retrata um acontecimento passado, em 70 d.C, com respeito à guerra entre judeus e romanos. Em outras palavras, eles não tomam este livro como profético, mas apenas como histórico.

 

Ora, este é um grande erro interpretativo, pois João não escrevia um livro relatando acontecimentos passados, mas sim que estavam por acontecer. Dizer que João escrevia um livro “histórico” sobre fatos que já aconteceram é ferir o próprio significado de “profecia”:

 

Significado de Profecia

s.f. Predição por inspiração divina.
Toda predição de acontecimentos futuros, por conjetura ou acaso.

 

Além disso, se João estivesse apenas relatando fatos que já aconteceram, ele não precisaria fazer isso por meio de enigmas, mistérios e simbolismos. Afinal, para que fazer uso de tal linguagem enigmática a ser desvendada, se tudo já aconteceu no passado? Para isso não precisaria de um livro bíblico, bastaria ler o livro de Flávio Josefo sobre essa guerra e pronto – dá no mesmo!

 

Finalmente, a tese de que o Apocalipse de João relata acontecimentos passados nega aquilo que o próprio João claramente diz logo no princípio de seu livro:

 

Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos o que em breve há de acontecer. Ele enviou o seu anjo para torná-la conhecida ao seu servo João” (Apocalipse 1:1)

 

Note que João escrevia acerca de revelações daquilo que haveria de acontecer, ou seja, que não aconteceu ainda! Sendo que o Apocalipse foi redigido na época do imperador romano Domiciano, por volta de 95 d.C, é totalmente impossível que este livro trate da guerra entre judeus e romanos em 70 d.C, pois deve marcar um acontecimento futuro a esta data de 95 d.C.

 

Tal data é confirmada por unaminidade entre todos os pais da igreja, que viveram próximos a essa época em que João compôs o Apocalipse, ou que guardaram registros históricos desta época, como é o caso do historiador eclesiástico da Igreja primitiva, Eusébio de Cesaréia (265-339 d.C):

 

“Escuta uma historieta, que não é uma historieta, mas uma tradição existente sobre o apóstolo João, transmitida e guardada na memória. Efetivamente, depois que morreu o tirano, João mudou-se da ilha de Patmos a Éfeso. Daqui costumava partir, quando o chamavam, até as regiões pagãs vizinhas, com o fim de, em alguns lugares, estabelecer bispos; em outros, erguer igrejas inteiras, e em outros ainda, ordenar a algum dos que haviam sido designados pelo Espírito” (História Eclesiástica, Livro III, 23:6)

 

Aqui vemos o historiador da Igreja, Eusébio de Cesaréia, afirmando que depois que o “tirano” (Domiciano) morreu, é que João foi transferido da ilha de Patmos (onde ele escreveu o Apocalipse), o que demonstra que foi somente no final do reinado de Domiciano que João escreveu seu livro. João escreveu que foi em Patmos que ele obteve a revelação de Cristo do Apocalipse:

 

“Eu, João, irmão e companheiro de vocês no sofrimento, no Reino e na perseverança em Jesus, estava na ilha de Patmos, por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus” (Apocalipse 1:9)

 

Lemos sobre a história desse imperador romano que exilou o apóstolo João:

 

“Tito Flávio Domiciano (em latim Titus Flavius Domitianus), 24 de outubro do 51 — 18 de setembro de 96), habitualmente conhecido como Domiciano, foi imperador romano de 14 de outubro de 81 d.C. até a sua morte a 18 de setembro de 96. Tito Flávio Domiciano era filho de Vespasiano com sua mulher Domitila e irmão de Tito Flávio, a quem ele sucedeu”

Logo, se foi Dominicano que exilou o Apostolo João em Patmos, este não poderia nunca escrever seu apocalipse antes de 81 ou depois de 96 d.C. Portanto, a data correta dos escritos apocalípticos estão dentro deste período, NUNCA 70 d.C! O próprio Eusébio trata de confirmar o fato óbvio de que foi ao final do império de Domiciano (portanto já depois de 90 d.C) que João escreveu seu livro, após mudar-se para a ilha de Patmos, na Grécia:

 

“É tradição que, neste tempo, o apóstolo e evangelista João, que ainda vivia, foi condenado a habitar a ilha de Patmos por ter dado testemunho do Verbo de Deus. Pelo menos Irineu, quando escreve acerca do número do nome aplicado ao anticristo no chamado Apocalipse de João, diz no livro V Contra as heresias, textualmente sobre João o que segue: ‘Mas se fosse necessário atualmente proclamar abertamente seu nome, seria feito por meio daquele que também viu o Apocalipse, já que não faz muito tempo que foi visto, mas quase em nossa geração, ao final do império de Domiciano’ (História Eclesiástica, Livro III, 18:1-3)

 

“E um pouco mais abaixo segue dizendo sobre o mesmo: "Nós pois, não nos arrisquemos a manifestarmo-nos de maneira segura sobre o nome do anticristo, porque, se houvesse sido necessário na presente ocasião proclamar abertamente seu nome, ter-se-ia feito por meio daquele que também tinha visto o Apocalipse, já que não faz muito tempo que foi visto, mas quase em nossa geração, ao final do império de Domiciano" (História Eclesiástica, Livro V, 8:6)

 

Jerônimo (347-420) confirma este fato, nas seguintes palavras:

 

“Mas Pedro é somente um Apóstolo, enquanto João é um Apóstolo, um Evangelista, e um Profeta. Um Apóstolo, porque escreveu às Igrejas como mestre; um Evangelista, porque compôs um Evangelho, coisa que nenhum outro Apóstolo, exceto Mateus, fez; um profeta, porque viu na ilha de Patmos, onde tinha sido desterrado pelo imperador Domiciano como um mártir do Senhor, um Apocalipse contendo os ilimitados mistérios do futuro (Contra Joviniano)

 

E ele também confirma isso mais vezes:

 

"Domiciano, no décimo quarto ano do seu reinado... quando João foi banido para a ilha de Patmos, onde escreveu o Apocalipse” (Jerônimo, Homens Ilustres)

 

"João era um profeta. Ele viu o Apocalipse na ilha de Patmos, onde foi banido por Domiciano" (Trabalhos, vol. 6, p. 446)

 

Sulpício Severo, outro dos pais da Igreja, que viveu entre 363-425 d.C, também escreveu sobre isso:

 

"João, o apóstolo e evangelista, foi exilado por Domiciano para a ilha de Patmos, onde teve visões, e onde escreveu o Apocalipse" (Trabalhos, vol. 4, Cap 120)

 

Por fim, temos também o testemunho de Irineu de Lyon, um bispo do século II (130-202 d.C), portanto uma data muito próxima a quando o apóstolo ainda estava vivo. Ele dedica vários versos de seu conhecido livro contra os gnósticos (“Contra as Heresias”), apenas para tratar dos temas escatológicos. Além de mostrar que a vinda do anticristo ainda está para acontecer, e que o arrebatamento é pós-tribulacional, ele também fala sobre quando que João escreveu o Apocalipse:

 

"O Apocalipse foi visto há pouco tempo, quase em nossa própria geração, perto do final do reinado de Domiciano" (Contra Heresias V, 20)

 

Ele também escreve dizendo que a tribulação apocalíptica, bem como o levante do anticristo que ainda está para vir, eram acontecimentos futuros (e não passados):

 

"Quando o Anticristo devastar todas as coisas neste mundo, ele vai reinar por três anos e seis meses e sentar no Templo em Jerusalém; depois, virá o Senhor do céu nas nuvens, e a glória do Pai, mandando esse homem –  e aqueles que o seguem - para o lago de fogo; mas para os justos, ele traz os tempos do reino, isto é, o resto, o abençoado sétimo dia; e restaurará a Abraão a herança prometida, na qual o reino do Senhor declarou que 'muitos vindo do oeste e do leste sentariam com Abraão, e Isaque, e Jacó'" (Pais, Vol, 1)

 

Ora, se a grande tribulação se resumisse à guerra judaica de 70 d.C e o anticristo fosse o imperador Nero (como dizem os preteristas), segue-se logicamente que tanto o anticristo quanto a própria tribulação já teriam acontecido, e Irineu teria relatado isso como um acontecimento no passado.

 

Contudo, ele não apenas coloca todos estes fatos para o futuro, como também relata a própria reconstrução do templo de Jerusalém (onde o anticristo se assentará, proclamando-se como “deus” – 2Ts.2:4), assim como faz o bispo Cirilo de Jerusalém (315-386 d.C), embora este fato seja muito zombado e debochado por parte dos preteristas:

 

"É exatamente isto que fará o Anticristo no tempo de seu reinado: transferirá o seu reinado para Jerusalém, assentar-se-á no templo de Deus, enganando os seus adoradores, fazendo com que creiam que é o Cristo" (Ireneu de Lião, Contra as heresias, Livro V, 25, 4, 587)

 

"Y dice tambiém: Que se opone y se alza sobre todo lo que lleva el nombre de Dios o es adorado. Sobre todo Dios; es decir, que el Anticristo odiará los ídolos: Hasta el punto de sentarse él mismo en el templo de Dios (2 Ts 2,4)’. ¿Y de qué templo se trata? Habla del templo judio que fue destruído; ¡ por Dios !, que no se refiera a este en el que nos encontramos. ¿ Por qué décimos esto ? Para que no parezca que nos favorecemos a nosotros mismos. Porque si viene a los judíos como Mesías y quiere que lo adoren, para engañarles mejor mostrará su celo por el templo, sembrando la sospecha de que él es del linaje de David, el que reedificará el templo que ya fue construído por Salomón" (Cirilo de Jerusalém, Catequesis 15, 15, p. 342-343)

 

Concluindo, constatamos que:

 

1. João foi banido para a ilha de Patmos (quando recebeu as revelações do Apocalipse) no fim do reinado de Domiciano.

 

2. Sendo que Domiciano reinou de 81-96 d.C, João só poderia ter recebido as revelações por esta época, e nunca antes de 70 d.C, quando Domiciano nem sequer era imperador romano!

 

3. Sendo que João escreveu o Apocalipse por esta época, e revelações/profecias são relatos de acontecimentos futuros e não passados (lembrando que o próprio João escreveu repetidamente em seu livro que ele estava relatando coisas que ainda estavam por vir), é evidente que o preterismo é uma linha teológica falsa e sem crédito.

 

É significativo dizer que o apóstolo insistia em colocar os verbos no futuro, quando dizia que os habitantes da terra ficarão admirados quando virem a besta” (Ap.17:8), que “os dez reis ainda não receberam reino” (Ap.17:12), mas que receberão autoridade como reis no futuro (Ap.17:12); que eles darão o seu poder à besta” (Ap.17:13), que eles guerrearão contra o Cordeiro” (Ap.17:14), mas que “o Cordeiro os vencerá (Ap.17:15); que a besta levará a prostitua à ruína (Ap.17:16), e que a destruirão com fogo” (Ap.17:16).

 

Note que sempre o verbo é colocado no tempo futuro, porque os acontecimentos apocalípticos que ocorrem durante a grande tribulação não são meros relatos históricos que já ficaram para o passado, mas são descrições proféticas de algo que ainda está para acontecer. Assim sendo, a interpretação preterista está mais do que com defeito – está ultrapassada, e serve para corromper os ensinamentos claros concernentes a Escritura e aos registros históricos e elaborados pelos pais da Igreja primitiva.

 

Mas ainda que TODOS os relatos de TODOS os pais da igreja que falaram sobre o Apocalipse, que guardaram registros históricos sobre o caso (ou que viveram muito próximos do próprio João) estivessem todos completamente errados, mesmo assim a interpretação preterista cairia como um paraquedas direto para a lata do lixo, quando simplesmente usamos o cérebro para raciocinar um pouco.

 

Ora, João, supostamente escrevendo antes de 70 d.C (sem nenhum pai da igreja ficar sabendo disso, e antes mesmo de ter ido para a ilha de Patmos!), tem uma revelação da destruição de Jerusalém que está “iminente”. E aí, ao invés de enviar cartas para as igrejas de lá, prefere enviar mensagens para as sete igrejas da Ásia, que ficavam há centenas de quilômetros de distância! Faz algum sentido isso?

 

Vamos clarear então um pouco mais:

 

-Imagine que eu saiba antecipadamente que vai ter um terremoto que irá atingir violentamente a costa leste do Japão; aí, eu que estou sabendo disso envio um alerta direto para a África do Sul!!!

 

Como se isso não fosse suficientemente claro para mostrar a profunda coerência da visão preterista do Apocalipse, nós vemos João escrevendo para a igreja da Filadélfia, na Ásia:

 

“Visto que você guardou a minha palavra de exortação à perseverança, eu também o guardarei da hora da provação que está para vir sobre todo o mundo, para pôr à prova os que habitam na terra” (Apocalipse 3:10)

 

Em primeiro lugar, note o fator universal da grande tribulação: Ela não iria atingir somente os judeus em um confronto particular com os romanos, mas iria vir “sobre todo o mundo” (Ap.3:10), isto é, sobre todo o mundo habitado! Ora, é fato histórico que isso não ocorreu em 70 d.C, pois a guerra judaica daquela época entre Jerusalém e Roma não atingiu nem de longe “o mundo inteiro”, nem todos os povos habitados, nem sequer chegou na Ásia ou África!

 

Em quem devemos acreditar? Nos preteristas que insistem em dizer que a “grande tribulação” foi uma batalha particular entre dois povos há quase dois mil anos atrás, ou na Bíblia Sagrada que afirma com clareza que tal tribulação viria sobre todo o mundo???

 

Ademais, para que dizer a uma igreja na Ásia que Deus os protegeria da tribulação, se essa tribulação nem alcançaria a Ásia, mas somente Jerusalém na luta contra os romanos? Ora, isso faz tanta lógica quanto dizer que o Paraná seria “protegido por Deus” da guerra no Oriente Médio! Historicamente a guerra de 70 d.C não atingiu a Ásia e, portanto, tal passagem bíblica só nos faz crer ainda mais fortemente que o preterismo é um disparate completo contra a revelação bíblica encontrada no livro de João.

 

A partir disso fica muito fácil derrubarmos a interpretação de que a “mulher-Babilônia” do Apocalipse seja uma referência a Jerusalém, pois o próprio livro do Apocalipse não relata a destruição de Jerusalém (veremos mais sobre isso adiante). É impossível que o Apocalipse apoie a tese de que é Jerusalém essa Babilônia espiritual, porque é nos dito que a Babilônia, quando destruída, nunca mais seria achada:

 

"...E um forte anjo levantou uma pedra como uma grande mó, e lançou-a no mar, dizendo: Com igual ímpeto será lançada babilônia, aquela grande cidade, e não será jamais achada" - Ap.18:21

 

Contudo, Jerusalém está aqui, firme e forte até hoje. Parece que a profecia sobre não ser nunca mais encontrada deve ter ficado para um outro dia:

 

“Então um anjo poderoso levantou uma pedra do tamanho de uma grande pedra de moinho, lançou-a ao mar e disse: Com igual violência será lançada por terra a grande cidade da Babilônia, para nunca mais ser encontrada. Nunca mais se ouvirá em seu meio o som de harpistas, dos músicos, dos flautistas e dos tocadores de trombeta. Nunca mais se achará dentro de seus muros artífice algum, de qualquer profissão. Nunca mais se ouvirá em seu meio o ruído das pedras de moinho. Nunca mais brilhará dentro de seus muros a luz da candeia. Nunca mais se ouvirá ali a voz do noivo e da noiva. Seus mercadores eram os grandes do mundo. Todas as nações foram seduzidas por suas feitiçarias” (Apocalipse 18:21-23)

 

Ora, se a tribulação apocalíptica já aconteceu há quase dois mil anos atrás e Jerusalém é a “Babilônia” (como pregam os católicos e uma parte pequena dos protestantes), então como pode ela ter voltado a subsistir até os dias de hoje, se está claro na Bíblia que a Babilônia “nunca mais seria encontrada” (v.21), após ser destruída? Se Apocalipse 18 retrata a destruição de Jerusalém pelos romanos em 70 d.C, então por que Jerusalém não deixou de existir para nunca mais voltar, conforme diz a profecia bíblica?

 

E pior: Por que existe em Jerusalém até hoje o som de músicos, a existência de artifíceis e muros, o ruído de pedras de moinho, a luz da candeia e a voz do noivo e da noiva? Se Jerusalém é essa “Babilônia” que após ser destruída em 70 d.C não seria nunca mais achada e nem sequer haveria a voz do noivo e da noiva, por que o que realmente ocorre é justamente o contrário, isto é, Jerusalém continua existindo e até hoje muitos noivas e noivas se casam, ao som de “harpistas, músicos, flautistas e tocadores de trombeta” (v.22)?

 

Jerusalém tampouco deixou de existir para sempre, e ainda por cima é justamente a cidade escolhida por Deus para ser o refúgio e arraial dos santos durante a tribulação!


“...E subiram sobre a largura da terra, e cercaram o arraial dos santos e a cidade amada; e de Deus desceu fogo, do céu, e os devorou” – Ap.20:9

 

Note que Jerusalém também é chamada de “cidade amada” (Ap.20:9), em direto contraste com a Babilônia que é chamada de “mãe das prostitutas e das práticas repugnantes da terra” (Ap.17:5), e os servos de Deus são chamados para celebrarem a destruição dela (Ap.18:20; Ap.19:1-3). Isso certamente não se aplica a Jerusalém, pois, por mais que fosse castigada por Deus quando se desviava dos Seus caminhos, Ele nunca “vibrava” ou “celebrava” a destruição dela!

 

Jesus, ao predizer a destruição do templo, não ficou vibrando com a sua destruição (Lc.13:34,35), porque Jerusalém é a “cidade do grande rei” (Mt.5:35), a “menina dos olhos de Deus” (Dt.32:10), e é nos dito que “aquele que tocar em vós toca na menina dos seus olhos” (Zc.2:8). Deus vingará as nações que forem contra Jerusalém (Zc.12:3).

 

Diante de tudo isso, somente um maluco ou alguém que gosta muito mesmo de adulterar a Bíblia para dizer que Deus é um ser bipolar, que uma hora diz que vingaria as nações que forem contra Jerusalém, e outra hora ele próprio manda celebrar a sua destruição; que em um momento chama Jerusalém de “cidade amada” e “a cidade do grande rei”, constantemente lamentando a sua destruição, mas em outro momento chama os santos a celebrarem a aniquilação de Jerusalém, vibrando o extermínio da “menina dos seus olhos”!

 

Ora, só os preteristas para imaginarem realmente tamanho quadro de desordem e engano. Não é Jerusalém a Babilônia! A Babilônia não se identifica com Jerusalém. Embora Jerusalém pecasse (assim como qualquer outra cidade) e fosse por causa disso punida por Deus (assim como qualquer outra cidade), NUNCA é nos dito a celebrarmos o extermínio dela, como ocorre com a Babilônia:

 

“Celebre o que se deu com ela, ó céus! Celebrem, ó santos, apóstolos e profetas! Deus a julgou, retribuindo-lhe o que ela fez a vocês” (Apocalipse 18:20)

 

A relação de Deus para com Jerusalém é como uma relação entre pai e filho. Embora às vezes ele tenha que o disciplinar, ele nunca vai vibrar com o extermínio dele e muito menos chamar outras pessoas para “celebrarem” a sua total ruína!

 

A Babilônia, por outro lado, por ser a “mãe das prostitutas e das práticas repugnantes da terra” (Ap.17:5), é odiada ao ponto de Deus celebrar a sua queda, bem como todos os santos e servos de Deus em toda a terra. Assim sendo, essa Babilônia não se aplica a Jerusalém, mas a alguma outra nação. Isso fica muito claro quando analisamos cuidadosamente o verso bíblico que identifica mais que claramente quem é essa “mulher”:

 

“A mulher que você viu é a grande cidade que reina sobre os reis da terra” (Apocalipse 17:18)

 

Sendo que, como vimos, o Apocalipse foi escrito aproximadamente em 95 d.C (no final do reinado de Domiciano, que reinou de 81-96 d.C), podemos identificar muito bem quem era essa “grande cidade” que naquele momento reinava sobre os reis da terra: ROMA!

 

Isso é informação histórica básica que está facilmente acessível a qualquer um que queira se informar um pouco. Não existia nenhum império em 95 d.C que se assemelhasse a Roma em termos de reinado e domínio sobre o mundo antigo daquela época.

 

É inimaginável pensarmos que João, escrevendo em 95 d.C, com Jerusalém estando totalmente devastada, destruída, aniquilada, tendo perdido uma guerra contra os romanos, tendo a sua cidade sendo esmiuçada, tendo o templo sendo deixado em verdadeiras ruínas, quisesse dizer aos seus leitores que era exatamente ela que reina sobre os reis da terra!!!

 

Ainda que pensemos por um momento que o Apocalipse tivesse sido escrito em torno de 70 d.C ou antes (o que é um completo e total disparate histórico sem igual), mesmo assim não era Jerusalém quem reinava naquele instante sobre os reis da terra.

 

Ao contrário, Jerusalém estaria prestes a perder uma de suas guerras mais importantes que marcaram a história, estava repleta de soldados romanos cercando a cidade, estava com a população sem poder sair e nem entrar por causa do cerco, com a fome em seu interior, e a situação cada vez mais se agravando sucessivamente, culminando com o seu total extermínio posterior. Será que nesse contexto Jerusalém pode ser classificada como sendo a “GRANDE CIDADE” que “REINA SOBRE OS REIS DA TERRA”? Não! Nunca!!!

 

Os próprios leitores do Apocalipse jamais interpretariam que esta cidade que João escrevia era a desolada e destruída Jerusalém, aniquilada pelos exércitos romanos, ao invés de se tratar daquele IMPÉRIO que realmente era a “GRANDE CIDADE” da época, reinando em absoluto poder, sobre todos os reis da terra, que, aliás, derrotou a própria Jerusalém – ROMA!

 

O que será que você iria achar caso estivesse lendo o livro em primeiríssima mão? Ora, certamente a sua atitude se assemelharia a de alguém que dissesse que o Haiti é hoje a “grande cidade” e que “reina sobre os reis da terra”! Se isso parece um absurdo para você hoje, certamente pareceria muito mais absurdo para alguém da época (Séc.I) pressupor que Jerusalém fosse ainda uma “grande cidade” ou que reinasse sobre os reis da terra, estando cercada ou aniquilada pelos inimigos! Presumivelmente a situação do Haiti hoje estaria muito mais confortável do que a situação de Jerusalém naquela circunstância!

 

Se você estivesse lendo o Apocalipse no século I, próximo a 70 d.C ou já depois dessa data, e sabendo que Jerusalém estava arrasada e arruinada, iria pensar que é ela aquela GRANDE que REINA sobre os reis da terra? Meu amigo, eu posso garantir que você poderia pensar em qualquer cidade... menos Jerusalém!

 

Veja como estava Jerusalém naquele momento:

 

"Ora, o número daqueles que foram levados cativos durante toda esta guerra foi verificado ser noventa e sete mil, como foi o número daqueles que pereceram durante todo o cerco onze centenas de milhares, a maior parte dos quais era na verdade da mesma nação, porém não pertencentes à própria cidade, pois tinham vindo de todo o país para a festa dos pães asmos e foram subitamente fechados por um exército” (Flávio Josefo, Antiguidades Judaicas, Livro VI, 9:3)

 

“É então um caso miserável, uma visão que até poria lágrimas em nossos olhos, como os homens agüentaram quanto ao seu alimento ... a fome foi demasiado dura para todas as outras paixões... a tal ponto que os filhos arrancavam os próprios bocados que seus pais estavam comendo de suas próprias bocas, e o que mais dava pena, assim também faziam as mães quanto a seus filhinhos... quando viam alguma casa fechada, isto era para eles sinal de que as pessoas que estavam dentro tinham conseguido alguma comida, e então eles arrombavam as portas e corriam para dentro... os velhos, que seguravam bem sua comida eram espancados, e se as mulheres escondiam o que tinham dentro de suas mãos, seu cabelo era arrancado por fazerem isso” (Flávio Josefo, Antiguidades Judaicas, Livro V, 10:3)

 

Será que alguém que está em tais condições “reina sobre os reis da terra”??? É claro que não!!! Se fosse uma referência a Jerusalém, então João certamente teria poupado os seus leitores de tão tamanha confusão e processos de entorpecimento mental, para deixar claro o óbvio (se não quisesse passar a impressão de que se tratava de Roma, mas sim de Jerusalém) e a referência possivelmente ficaria assim:

 

“...E a mulher que viste é aquela pequena e arruinada cidade, devastada pelos reis da terra”

 

Descrição perfeita de Jerusalém!

 

Sendo a situação de Jerusalém uma completa ruína, possivelmente seria essa uma colocação que ajudaria muito mais a identifica-la do que dizendo que ela “reina sobre os reis da terra”; afinal, Jerusalém já não mais reinava sobre rei nenhum!

 

Ademais, vale dizer também que o apóstolo João coloca o termo “reina” no presente, e não no tempo passado. Se João tivesse a intenção de dizer que Jerusalém é a cidade chamada espiritualmente de “Babilônia”, poderia ter perfeitamente aplicado o termo “reinava”. É claro que isso não iria remeter necessariamente a Jerusalém, mas pelo menos deixaria aberta uma leve possibilidade disso.

 

Ele teria essa palavra pronta, a mão, que poderia ter sido perfeitamente utilizada caso ele assim quisesse. Contudo, ele abriu mão de colocar o verbo no passado, para quebrar ainda mais com a cabeça dos preteristas ao colocar o verbo no tempo presente!

 

Se ele quisesse mudar o tempo do verbo, ele poderia perfeitamente ter feito isso aplicando os termos gregos bασίλεψε ou βασιλευει  (sendo este último aplicado em Mateus 2:22 para dizer que Arquelau “reinava” {passado} quando os pais de Jesus se mudaram para Nazaré). Mas João não quis empregar estes verbos, pois tinha a real intenção de dizer que essa grande cidade “βασιλειαν” (reina – tempo presente) sobre os reis da terra.

 

Em termos simples:

 

ΒασιλευειReinava – Passado.

ΒασιλειανReina – Presente.

 

João deliberadamente quis deixar claro que a cidade a quem ele se referia reinava em absoluto no tempo presente, e não no tempo futuro, tampouco no passado. Infelizmente a pretensão orgulhosa de alguns católicos chega ao cúmulo de querer corrigir o texto de João e mudar o versículo para:

 

“...E a mulher que viste ERA a ‘grande cidade’ que REINAVA sobre os reis da terra”

 

Eles querem de todas as formas tocar no texto bíblico e corrompe-lo, tentando mudar os tempos e os verbos apenas porque não gostaram do jeito que está, e acham que podem fazer melhor do que João fez. Para a nossa alegria (e ruína deles), João já estava pensando neles quando se adiantou precisamente a este passo dos católicos e disse:

 

“Declaro a todos os que ouvem as palavras da profecia deste livro: se alguém lhe acrescentar algo, Deus lhe acrescentará as pragas descritas neste livro (Apocalipse 22:18)

 

Aleluia!!!

 

Infelizmente João não escreveu do jeito que eles gostariam que ele tivesse escrito. O que foi que ele escreveu, pessoal? Vejamos:

-É {presente momento}
-REINA {presente momento}


Portanto, temos de duas opções, uma única resposta: Ou João era um péssimo escritor horrível que não entendia nada de gramática e que errava os tempos dos verbos tão gritantemente assim (neste caso deveríamos corrigir o Apocalipse todo e implorarmos para João deixar o ofício de escritor de lado), ou então são os apologistas católicos de plantão que estão delirando como sempre. Já que eu confio no apóstolo e os apologistas católicos deliram sempre mesmo, então eu fico com a segunda alternativa.

 

Por fim, vale ressaltar que, assegurando ainda mais que o apóstolo cuidava com o tempo dos verbos que ele empregava, vemos que ele tinha muito cuidado com os tempos verbais, sempre cuidando em empregar somente aquilo que condizia adequadamente com o fato que estava sendo relatado. Para isso não precisarmos ir muito longe, basta analisarmos os versículos que antecipavam o próprio verso 18.

 

Ele coloca alguns verbos no futuro, quando tinha a intenção de mostrar que algo ainda está por acontecer:

 

“...ficarão admirados quando virem a besta” (Ap.17:8)

“...receberão” autoridade como reis no futuro” (Ap.17:12)

“...darão o seu poder à besta” (Ap.17:13)

“...guerrearão contra o Cordeiro” (Ap.17:14)

“...o Cordeiro os vencerá (Ap.17:15)

“...destruirão com fogo” (Ap.17:16)

 

Por outro lado, ele também tinha grande zelo em cuidadosamente colocar os verbos no passado quando assim era obrigado pelos fatos:

 

“...um dos sete anjos que tinham as sete taças” (Ap.17:1)

“...os que habitam na terra se embebedaram com o vinho da sua prostituição” (Ap.17:2)

“...estava cheia de nomes de blasfêmia” (Ap.17:3)

“...e  a mulher estava vestida de púrpura e de escarlata” (Ap.17:4)

“...cinco já caíram, e um existe; outro ainda não é vindo” (Ap.17:10)

“...a besta que era e já não é (Ap.17:11)

 

Note como o apóstolo tratava com extrema importância os tempos verbais que ele estava empregando. Quando a situação dizia respeito a algo futuro, ele sempre aplicava o verbo no futuro. Quando, porém, se tratava de algo passado, ele colocava o verbo no passado, sem ressalvas. E, finalmente, quando a questão era tão delicada ao ponto de ele ter que colocar um verbo no passado e outro no presente dentro de um mesmo verso (como ocorre em Ap.17:11, em Ap.17:8 e em Ap.17:10) ele fazia isso com grande perfeição e exatidão!!!

 

Ora, como pensar que alguém que tão perfeitamente cuidava em respeitar os tempos verbais iria vir a cometer tão tamanho disparate em empregar por duas vezes consecutivas dentro do mesmo verso 18 o tempo no presente, quando na verdade deveria ser algo no passado ou no futuro?

 

É óbvio e auto-evidente, a partir disso, que o verso deve ser interpretado não como se o apóstolo João fosse um autista ou um escritor medíocre que gosta de enganar sem querer os católicos, mas sim como ele realmente declara:

 

“A mulher que você viu é {tempo presente} a grande cidade que reina {tempo presente} sobre os reis da terra” (Ap.17:18)

 

E quem era essa “grande cidade” que no tempo em que o apóstolo João escrevia o Apocalipse (Séc.I) reinava sobre os reis da terra? Historicamente e indiscutivelmente - ROMA!

 

João escrevia justamente no período em que o maior império da época – o império romano – alcançava o seu ápice em autoridade e poderio:

 

“A cidade cresceu e, no final da República, Roma era a capital de um vasto império em volta do Mar Mediterrâneo. No seu auge, durante o século II, a cidade chegou a ter cerca de 45 000 prédios de apartamentos, e uma população de 1 600 000 pessoas. Seus arquedutos transportavam mais de um milhão de metros cúbicos de água, mais água do que chega à Roma moderna” (Fonte: wikipédia)

“Trajano, Adriano e Antônio Pio seguiram a mesma política de nomear o sucessor mais apto, o que resultou num período de estabilidade conhecido como os cinco bons imperadores. Durante o reinado destes cinco homens, Roma prosperou e atingiu o seu pico civilizacional, ao ponto de alguns analistas defenderem que o nível civilizacional alcançado durante este período só foi novamente alcançado na Inglaterra do século XVIII. Trajano foi o responsável pela extensão máxima do Império em 117 d.C, ao estender a fronteira oriental até incluir a Mesopotâmia na alçada de Roma” (Fonte: wikipédia)

 

“As disputas internas enfraqueceram e, sob o comando de Trajano, ex-general que reinou de 98 a 117, Roma alcançou o auge de seu poderio militar e econômico” (Fonte: O Fascinante Universo da História)

 

“A ascensão de Otávio ao poder foi resultado da extensa guerra civil do século I a.C. e deu início a um regime monárquico, autocrático, baseado na força do exército, dando um novo caráter ao Estado escravista romano, baseado na noção oriental de um único Estado mundial, governado por um só homem. Durante cerca de 250 anos, período conhecido como Alto Império, esse Estado fortaleceu-se e consolidou-se” (Fonte: O Apogeu do Império Romano)

 

João fez questão de empregar o tempo no presente, com a finalidade de não abrir espaço para duplas interpretações. Pois, se empregasse o verbo no passado, iria abrir possibilidade para inúmeras nações antigas que reinaram sobre os reis da terra antigamente, tais como o Egito, a Assíria, a Pérsia, os Medos, a Grécia, entre muitos outros.

 

E, se empregasse o verbo no futuro, outras incontáveis nações iriam surgir com o possível título de “reinar sobre os reis da terra”, desde a Inglaterra, França, Estados Unidos, entre muitos outros. Portanto, o único modo de não abrir chances de dúvidas e nem margens a duplas interpretações seria colocando o verbo no presente, como João fez, pois só haveria uma única nação que reinava absoluta no século I: Roma! João realmente não deixou escapar!

 

Portanto, a luz daquilo que já vimos até aqui, eliminando as outras posições e objetivamente provando por meio da exegese, da lógica textual e da História secular, fica claro e evidente que:

 

1. O Apocalipse foi um livro escrito no final do primeiro século AD para registrar a grande tribulação que estava para acontecer, em uma tribulação de dimensões globais, eliminando a possibilidade preterista que afirma que o livro relata apenas uma guerra particular entre duas nações (Jerusalém e Roma) e que foi escrito antes de 70 AD, algo que é absolutamente desmentido por todos os historiadores e Pais da Igreja primitiva, que conviveram muito próximos ao apóstolo João, ou até mesmo na mesma época dele!

 

1. A “mulher” é a grande cidade que reinava sobre os reis da terra no momento presente em que João escrevia o Apocalipse.

 

2. Essa “grande cidade” nao pode ser nenhuma outra senão Roma, absoluta no poder em pleno Séc.I sobre o mundo antigo, destruindo em 70 d.C a própria cidade de Jerusalém, deixando-a em verdadeiras ruínas!

 

3. Portanto, a simbologia apocalíptica desvendada é: “mulher = Roma”.

 

Veremos mais sobre as outras importantes simbologias apocalípticas nos próximos capítulos sobre o preterismo – o maior embuste e falsa doutrina já realizado em cima do maravilhoso livro do Apocalipse.

 

 

----------------------------------------------------------------------------

Por: Lucas Banzoli.

 

Clicando em ENVIAR CARTA, no menu esquerdo, você pode comentar, criticar, perguntar ou debater sobre o assunto com o autor do site.

 

 

Curta no Facebook para estar por dentro das atualizações: