É BÍBLICO O UNICISMO?

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Unicistas são os que creem que Pai, Filho e Espírito Santo não são pessoas distintas, mas três manifestações de uma mesma e única pessoa. Este ensino frequentemente está associado a uma compreensão incorreta em relação à trindade, como se os trinitarianos cressem em três deuses, ou em um deus com três cabeças. Uma vez que a Bíblia ensina claramente a existência de um só Deus, eles descartam a possibilidade da trindade e partem para a teoria das três manifestações do mesmo Deus.

 

Afinal, é bíblico o unicismo?

 

As evidências indicam que não.

 

Primeiro, porque ele ignora as claras evidências bíblicas que distinguem o Pai, o Filho e o Espírito Santo. A Bíblia jamais apresenta os três como sendo a mesma pessoa, embora os apresente como sendo o mesmo Deus, isto é, como compartilhando da mesma e única natureza divina. Há muitos textos que provam isso. Em primeiro lugar, o fato de Jesus orar ao Pai seria algo completamente insano e surreal se Jesus e o Pai fossem a mesma pessoa:

 

“Ele se afastou deles a uma pequena distância, ajoelhou-se e começou a orar: ‘Pai, se queres, afasta de mim este cálice; contudo, não seja feita a minha vontade, mas a tua’” (Lucas 22:41-42)

 

Jesus orou, não para si mesmo (o que não tem sentido algum), mas para o Pai. Isso indica que são pessoas distintas, a não ser que seja comum alguém orar para si mesmo, fazendo da cena do monte das Oliveiras uma encenação teatral. E pior: Cristo pede para que não fosse feita a vontade dele, mas sim a vontade do Pai. Isso implica que a vontade de Jesus não era necessariamente a mesma vontade do Pai. Se o Pai e Jesus fossem a mesma pessoa, Jesus certamente estaria sofrendo um caso sério de bipolaridade!

 

Em segundo lugar, a Bíblia não ensina que Jesus se auto-ressuscitou, mas que o Pai ressuscitou Jesus:

 

“Mas Deus o ressuscitou dos mortos...” (Atos 13:30)

 

“E esperar dos céus a seu Filho, a quem ressuscitou dos mortos...” (1ª Tessalonicenses 1:10)

 

“...Nós, que cremos naquele que ressuscitou dos mortos a Jesus, nosso Senhor” (Romanos 4:24)

 

“Por seu poder, Deus ressuscitou o Senhor e também nos ressuscitará” (1ª Coríntios 6:14)

 

“...Com ele foram ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos” (Colossenses 2:12)

 

“...Deus, porém, o ressuscitou no terceiro dia e fez que ele fosse visto” (Atos 10:40)

 

“Deus ressuscitou este Jesus, e todos nós somos testemunhas desse fato” (Atos 2:32)

 

“O Deus dos nossos antepassados ressuscitou Jesus, a quem os senhores mataram, suspendendo-o num madeiro” (Atos 5:30)

 

“Vocês mataram o autor da vida, mas Deus o ressuscitou dos mortos. E nós somos testemunhas disso” (Atos 3:15)

 

“Mas Deus o ressuscitou dos mortos, rompendo os laços da morte, porque era impossível que a morte o retivesse” (Atos 2:24)

 

“Por meio dele vocês crêem em Deus, que o ressuscitou dentre os mortos e o glorificou, de modo que a fé e a esperança de vocês estão em Deus” (1ª Pedro 1:21)

 

“Mais que isso, seremos considerados falsas testemunhas de Deus, pois contra ele testemunhamos que ressuscitou a Cristo dentre os mortos...” (1ª Coríntios 15:15)

 

“Mas aquele a quem Deus ressuscitou não sofreu decomposição” (Atos 13:37)

 

“Se você confessar com a sua boca que Jesus é Senhor e crer em seu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo” (Romanos 10:9)

 

“Paulo, apóstolo enviado, não da parte de homens nem por meio de pessoa alguma, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai, que o ressuscitou dos mortos” (Gálatas 1:1)

 

“Pois estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio do homem que designou. E deu provas disso a todos, ressuscitando-o dentre os mortos" (Atos 17:31)

 

“O fato é que Deus o ressuscitou dos mortos, para que nunca entrasse em decomposição...” (Atos 13:34)

 

“Porque sabemos que aquele que ressuscitou ao Senhor Jesus dentre os mortos, também nos ressuscitará com Jesus e nos apresentará com vocês” (2ª Coríntios 4:14)

 

Note quantos textos diferentes transmitindo a mesma mensagem básica: que Jesus não ressuscitou a si mesmo, mas foi ressuscitado por Deus Pai. Por que tanta ênfase no fato de Deus ter ressuscitado Jesus, se eles são supostamente a mesma pessoa? Por que não há um único texto que diga que Jesus ressuscitou a si mesmo, uma vez que é nisso que os unicistas creem? Não parece evidente que o texto fala de dois agentes distintos – o Pai, que ressuscita a Jesus; e Jesus, que é ressuscitado pelo Pai?

 

Em terceiro lugar, a existência de três pessoas distintas é muito evidente no batismo de Jesus, onde Jesus é batizado na terra, o Pai fala do céu e o Espírito Santo aparece em forma corpórea:

 

“Quando todo o povo estava sendo batizado, também Jesus o foi. E, enquanto ele estava orando, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea, como pomba. Então veio do céu uma voz: ‘Tu és o meu Filho amado; em ti me agrado’” (Lucas 3:21-22)

 

Se o unicismo for verdadeiro, então uma pessoa foi batizada nas águas, a mesma pessoa falou do céu, e a mesma pessoa se manifestou em forma de pomba – e tudo isso ao mesmo tempo.

 

Em quarto lugar, o unicismo tira a lógica dos textos que dizem que o Pai é maior que Jesus (Jo.14:28), ou sobre Jesus estar subordinado ao Pai (1Co.15:28). Isso seria o mesmo que dizer que Jesus era menor que ele mesmo, ou que uma pessoa estava subordinada a si própria. É simplesmente um nonsense.

 

Em quinto lugar, Estêvão, quando estava para ser apedrejado e teve uma visão dos céus, não viu uma única pessoa sentada em um único trono, mas duas pessoas sentadas em dois tronos diferentes:

 

“Mas Estêvão, cheio do Espírito Santo, levantou os olhos para o céu e viu a glória de Deus, e Jesus de pé, à direita de Deus, e disse: ‘Vejo o céu aberto e o Filho do homem de pé, à direita de Deus’” (Atos 7:55-56)

 

O próprio Senhor Jesus afirmou que “chegará o dia em que vereis o Filho do homem assentado à direita do Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu” (Mt.26:64). Com isso, ele obviamente não estava dizendo que era o Pai, mas mostrava claramente uma personalidade distinta.

 

Em sexto lugar, dificilmente Cristo mandaria batizar “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt.28:19), se os três fossem a mesma pessoa. Seria o mesmo que afirmar que era para se batizar em seu nome, em seu nome, e em seu nome de novo (como se já não fosse óbvio).

 

Em sétimo lugar, Jesus nunca disse que ele e o Espírito Santo eram a mesma pessoa. Ao contrário, ele se distingue explicitamente do “Consolador”, e ainda usa a expressão “um outro”, que elimina as possibilidades de se tratar dele mesmo:

 

“E eu pedirei ao Pai, e ele lhes dará outro Conselheiro para estar com vocês para sempre, o Espírito da verdade. O mundo não pode recebê-lo, porque não o vê nem o conhece. Mas vocês o conhecem, pois ele vive com vocês e estará em vocês” (João 14:16-17)

 

Jesus não disse que enviaria a si próprio em outra forma, mas sim a um outro, aqui identificado como o Espírito Santo. Se é “outro”, então não era ele mesmo em outra manifestação, mas uma pessoa distinta.

 

Em oitavo lugar, dificilmente poderíamos entender as palavras de Jesus ao pé da cruz se ele e o Pai fossem o mesmo:

 

“Por volta das três horas da tarde, Jesus bradou em alta voz: ‘Eloí, Eloí, lamá sabactâni?’ que significa: ‘Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?’” (Marcos 15:34)

 

Estaria Jesus pensando que ele abandonou a si próprio? É difícil.

 

Em nono lugar, Jesus nunca disse que ele enviou a si mesmo, e sim que o Pai o havia enviado:

 

“Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que este fosse salvo por meio dele” (João 3:17)

 

“A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou e concluir a sua obra” (João 4:34)

 

“Além disso, o Pai a ninguém julga, mas confiou todo julgamento ao Filho, para que todos honrem o Filho como honram o Pai. Aquele que não honra o Filho, também não honra o Pai que o enviou (João 5:22-23)

 

“Eu lhes asseguro: Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e não será condenado, mas já passou da morte para a vida” (João 5:24)

 

“Por mim mesmo, nada posso fazer; eu julgo apenas conforme ouço, e o meu julgamento é justo, pois não procuro agradar a mim mesmo, mas àquele que me enviou (João 5:30)

 

“Eu tenho um testemunho maior que o de João; a própria obra que o Pai me deu para concluir, e que estou realizando, testemunha que o Pai me enviou (João 5:36)

 

“E o Pai que me enviou, ele mesmo testemunhou a meu respeito. Vocês nunca ouviram a sua voz, nem viram a sua forma, nem a sua palavra habita em vocês, pois não crêem naquele que ele enviou (João 5:37-38)

 

“Pois desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas para fazer a vontade daquele que me enviou (João 6:38)

 

“Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, não o atrair; e eu o ressuscitarei no último dia” (João 6:44)

 

“Da mesma forma como o Pai que vive me enviou e eu vivo por causa do Pai, assim aquele que se alimenta de mim viverá por minha causa” (João 6:57)

 

“O meu ensino não é de mim mesmo. Vem daquele que me enviou (João 7:16)

 

“Aquele que fala por si mesmo busca a sua própria glória, mas aquele que busca a glória de quem o enviou, este é verdadeiro; não há nada de falso a seu respeito” (João 7:18)

 

“Estou com vocês apenas por pouco tempo e logo irei para aquele que me enviou (João 7:33)

 

“Mesmo que eu julgue, as minhas decisões são verdadeiras, porque não estou sozinho. Eu estou com o Pai, que me enviou (João 8:16)

 

“Eu testemunho acerca de mim mesmo; a minha outra testemunha é o Pai, que me enviou (João 8:18)

 

“Tenho muitas coisas para dizer e julgar a respeito de vocês. Pois aquele que me enviou merece confiança, e digo ao mundo aquilo que dele ouvi” (João 8:26)

 

Aquele que me enviou está comigo; ele não me deixou sozinho, pois sempre faço o que lhe agrada” (João 8:29)

 

“Se Deus fosse o Pai de vocês, vocês me amariam, pois eu vim de Deus e agora estou aqui. Eu não vim por mim mesmo, mas ele me enviou (João 8:42)

 

“Enquanto é dia, precisamos realizar a obra daquele que me enviou. A noite se aproxima, quando ninguém pode trabalhar” (João 9:4)

 

“Que dizer a respeito daquele a quem o Pai santificou e enviou ao mundo?” (João 10:36)

 

“Quem crê em mim, não crê apenas em mim, mas naquele que me enviou (João 12:44)

 

“Pois não falei por mim mesmo, mas o Pai que me enviou me ordenou o que dizer e o que falar” (João 12:49)

 

“Eu lhes garanto: Quem receber aquele que eu enviar, estará me recebendo; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou (João 13:20)

 

“Aquele que não me ama não guarda as minhas palavras. Estas palavras que vocês estão ouvindo não são minhas; são de meu Pai que me enviou (João 14:24)

 

“Tratarão assim vocês por causa do meu nome, pois não conhecem aquele que me enviou (João 15:21)

 

“Agora que vou para aquele que me enviou, nenhum de vocês me pergunta: Para onde vais?” (João 16:5)

 

“Novamente Jesus disse: ‘Paz seja com vocês! Assim como o Pai me enviou, eu os envio’” (João 20:21)

 

Jesus nunca disse que enviou a si mesmo, mas sim que foi enviado pelo Pai. Se alguém envia, envia uma outra pessoa, e não a si mesmo.

 

Em décimo lugar, Jesus contou o testemunho dele e do Pai como sendo dois, e não como sendo um:

 

“Vocês julgam por padrões humanos; eu não julgo ninguém. Mesmo que eu julgue, as minhas decisões são verdadeiras, porque não estou sozinho. Eu estou com o Pai, que me enviou. Na Lei de vocês está escrito que o testemunho de dois homens é válido. Eu testemunho acerca de mim mesmo; a minha outra testemunha é o Pai, que me enviou" (João 8:15-18)

 

Jesus disse que um testemunho só era válido se tivesse a confirmação de “dois homens”, ou “duas pessoas”. Uma só pessoa testemunhando de si mesma não era considerado válido na Lei. Então ele diz que ele testemunha de si, e que uma outra testemunha também atesta a seu respeito (o Pai). Se Jesus e o Pai fossem a mesma pessoa, isso faria de Cristo um mentiroso e charlatão, pois teria usado um testemunho inválido, visto que era necessário que duas pessoas testemunhassem, e na verdade era ele testemunhando de si mesmo “duas vezes”. Apenas se o Pai fosse uma pessoa diferente é que o testemunho seria válido, como de fato era.

 

Em décimo primeiro lugar, a Bíblia diz que Jesus era um “homem aprovado por Deus” (At.2:22), e o mediador entre Deus e os homens:

 

“Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus” (1ª Timóteo 2:5)

 

Uma vez que Cristo é o mediador entre Deus e os homens, é impossível que ele seja a própria pessoa do Pai, pois é indispensável que o mediador seja um intermediário, ou seja, alguém diferente dos homens que são mediados e do Pai que pratica a mediação. O mediador, por conseguinte, tem que ser um terceiro. Se Jesus fosse o Pai, não haveria um intermediário, mas apenas uma ligação direta, um perdão direcionado, em vez de uma medição.

 

Em décimo segundo lugar, a Bíblia diz que Jesus foi glorificado por Deus, e que o Pai lhe deu toda a autoridade:

 

“E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz! Por isso Deus o exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, no céu, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai” (Filipenses 2:8-11)

 

“Então, Jesus aproximou-se deles e disse: ‘Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo’” (Mateus 28:18-19)

 

Como o Pai glorificaria o Filho, lhe exaltaria e lhe daria autoridade se fossem a mesma pessoa? Ele estaria dando autoridade a si próprio? Por que Deus precisaria dar autoridade a Si mesmo, já sendo Ele onipotente?

 

Em décimo terceiro lugar, João não disse que nós temos comunhão com apenas uma pessoa, mas com duas – o Pai e Seu Filho:

 

“Nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo” (1ª João 1:3)

 

“Graça, misericórdia e paz da parte de Deus Pai e de Jesus Cristo, o Filho do Pai, estarão conosco em verdade e amor” (2ª João 1:3)

 

Em décimo quarto lugar, em vez de Jesus ser o Pai, ele é descrito como sendo o intercessor junto ao Pai, isto é, aquele que leva os nossos pedidos ao Pai:

 

“Meus filhinhos, escrevo-lhes estas coisas para que vocês não pequem. Se, porém, alguém pecar, temos um intercessor junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1ª João 2:1)

 

Estaria o Pai intercedendo por nós junto a ele mesmo, e para si próprio? A simples sugestão chega a ser absurda.

 

Mas se o unicismo é tão flagrantemente antibíblico, de que forma que podemos entender as passagens onde aparentemente Jesus diz ser o Pai? A mais usada está em João 10:30, onde Jesus diz que “eu e o Pai somos um”. Isso significa necessariamente que eles são a mesma pessoa? É claro que não. Cristo não disse que “eu e o Pai sou um”, e muito menos que “eu sou o Pai”. Ser um com o Pai significa ter os mesmos propósitos, vontades e objetivos que o Pai tem, e é por isso que em contexto semelhante ele diz que nós somos um em Cristo e também entre nós mesmos, no mesmo sentido em que Jesus é “um” com o Pai:

 

“Minha oração não é apenas por eles. Rogo também por aqueles que crerão em mim, por meio da mensagem deles, para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste” (João 17:20-21)

 

O texto diz que nós seremos “um” entre nós mesmos, ainda que cada um de nós tenha nossa própria autoconsciência e personalidade individual. Em seguida, ele diz que nós seremos “um” assim como Ele e o Pai são “um”, ou seja, no mesmo sentido. Se o sentido em que nós somos “um” não é de ser a mesma pessoa, então obviamente o sentido em que Cristo é “um” com o Pai também não é esse. E, por fim, Jesus finaliza dizendo que nós seremos um com ele e o Pai. Isso não somente prova mais uma vez que o “ser um” não tem nada a ver com ser a mesma pessoa, como também mostra que Jesus não é a mesma pessoa que o Pai, uma vez que ele não diz que nós estaremos consigo mesmo apenas, mas “em nós”, no plural, distinguindo-se da pessoa do Pai.

 

Outro texto distorcido pelos unicistas é esse:

 

“E quem vê a mim, vê a aquele que me enviou” (João 14:9)

 

Contudo, isso não significa que o Pai e Jesus fossem a mesma pessoa, o que é claramente refutado no verso anterior, que diz que o Pai enviou Jesus (v.8), e que quem crê nele não crê somente nele, mas também no Pai. O que Jesus estava dizendo é que vê-lo equivale a ver o Pai, no sentido de que ambos compartilham da mesma natureza divina. Ambos tinham a mesma mensagem e estavam em total concordância (v.49). Em contexto semelhante, Jesus disse que quem recebe aquele que ele enviar (i.e, um missionário) “está me recebendo”, ainda que o missionário e Jesus sejam pessoas obviamente distintas:

 

“Eu lhes garanto: Quem receber aquele que eu enviar, estará me recebendo; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou” (João 13:20)

 

Por fim, os unicistas também distorcem o texto de João 1:1, que diz:

 

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (João 1:1)

 

Para eles, o Verbo que estava com ele era ele mesmo, e ele mesmo se fez carne. Não há outra pessoa aqui senão o Pai. Mas a preposição “com”, no meio do verso, deita por terra a teoria de que o Verbo fosse a mesma pessoa do Pai, uma vez que não há qualquer sentido em o Verbo estar com Deus Pai, se o Verbo é Deus Pai. Se o Verbo “estava com Deus, e o Verbo era Deus”, é porque Jesus é diferente do Pai, embora ambos sejam Deus. Os versos seguintes confirmam esta interpretação, pois registram:

 

“Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens” (João 1:2-4)

 

Aqui vemos novamente que o Verbo (Jesus) estava com Deus, e que Deus fez o mundo por meio do Verbo, de modo que Jesus era necessário para que o mundo fosse feito. Se isso não significa que Jesus é uma pessoa distinta do Pai, que esteve junto com o Pai desde o princípio e que intermediou a criação de Deus, fica difícil saber como João poderia expressar isso em palavras.

 

Em suma, não há qualquer base bíblica sólida para o ensino unicista. Seu ensino se baseia muito mais em uma ignorância e incompreensão do correto significado da trindade do que por evidências internas. E é aqui que chegamos ao segundo ponto: quando um trinitariano diz que Deus é “um em três”, ele não está dizendo que há um Deus com três cabeças, e muito menos que há três deuses. Ao contrário, significa que há três pessoas compartilhando da mesma e única natureza divina, ou seja, que são Deus. Há três quem (Pai, Filho e Espírito Santo), mas um o quê (Deus). É isso o que significa dizer que Deus é “um em três”.

 

Diversas analogias trinitarianas têm sido propostas através dos séculos, mas a que eu considero mais próxima do conceito é a proposta por John Wesley, que disse:

 

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Não há uma vela. Há três. No entanto, não há “três luzes”. Há uma. Da mesma forma, não há uma pessoa. Há três. Contudo, não há três deuses, mas um.

 

Outra analogia frequentemente proposta é a da água, que existe em estado sólido, líquido e gasoso. A água não consiste em “somente líquido”, nem em “somente sólido”, nem em “somente gasoso”. No entanto, não são “três águas”, mas uma só. Por mais que alguns exemplos propostos sejam incompatíveis ou não expressem com exatidão a analogia com a trindade, propor que há um ser em três pessoas não é contradição de termos – o que seria se disséssemos que há um ser em três seres, ou uma pessoa em três pessoas.

 

Ainda que seja verdade que rejeitar o unicismo não implica necessariamente em crer na trindade (pois há ainda a opção do unitarismo), a maioria dos unicistas crê no unicismo em função de uma compreensão equívoca do que vem a ser o conceito de trindade. Alguns vão além e dizem que a trindade é “pagã”, com analogias defeituosas onde alguma religião antiga tinha três deuses. Mas isso não é trindade, porque trindade nunca consistiu em “três deuses”. Simplesmente não existem exemplos antigos de religiões pagãs trinitarianas, ou seja, que dissessem que há um único Deus e três pessoas compartilhando desta natureza divina. O que existiu era politeísmo explícito, que não tem nada a ver com a trindade, e portanto não pode ser uma “invenção pagã” aquilo que não condiz com o paganismo.

 

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

 

Por Cristo e por Seu Reino,

Lucas Banzoli (www.lucasbanzoli.com)

 

 

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