A BÍBLIA É UMA CÓPIA DE MITOS PAGÃOS? A ICAR É A IGREJA DE CRISTO POR TER RECONHECIDO O CÂNON DO NT?
Ola Lucas! Seu artigo Sobre a Origem da Igreja Católica me fez pensar e me fez estudar ainda mais. Muito Obrigado por isso. Mas confesso que fiquei admirado com que descobrir. De fato o catolicismo absorveu para si todo o universo religioso Greco-romano, Inclusive também, sua filosofia. Em virtude disso, nada que a Igreja católica fez depois de Constantino (313), tem valor. Absolutamente nada. Isso na sua visão. Mas, nada mesmo!? Então, eu não devo considerar como importante e inspirado o Sínodo de Hipona (393 AD) que aprovou o Novo Testamento tal como nós (católicos e protestantes) o conhecemos, juntamente com os livros da Septuaginta.
Atanásio, foi Bispo de Alexandria em 367, no tempo em que a Igreja Católica já Havia sido “abocanhada por Satanás através de Constantino”, e ele, Atanásio, bispo desta Igreja “corrompida”, segundo você, escreveu a Primeira lista com os 27 livros que viriam a formar o Novo Testamento canônico. Santo Agostinho, foi bispo também (397 – 419 AD), já no avançar da “depravação Católica”, segundo você, ele, Agostinho, considerava o Cânone do Novo Testamento, como algo já fechado.
Em 383, Jerônimo de Strídon, presbítero desta “Igreja prostituta”, segundo você, realizou uma obra extraordinária de tradução da Bíblia de uma língua que ninguém mais falava e entendia para uma língua “vulgar”, popular. Graças a Jerônimo, o cânon que eu e você conhecemos e veneramos como Inspirados, pôde ser fixado no Ocidente. Em 405 AD, Inocêncio, Bispo de Roma, mandou uma lista dos 27 livros do Novo Testamento para Exupérius, um bispo Gaulês que lutava contra a resistência do seu povo em acolher o Evangelho porque tinha ainda fortemente características da religião politeísta de seus antepassados.
A Igreja legítima, aquela verdadeira, genuína, sem marcas de erros e escolhas satânicas, segundo você, anterior Constantino; ainda não havia aceitado, unanimemente, como inspirados, os livros de Hebreus, Tiago, II Pedro, II e II João e apocalipse. Esses livros só foram aceitos, universalmente, quando a “Igreja já era de Satanás”, ou seja, depois de Constantino.
Não deveríamos tirar estes livros de nossas Bíblias?! “Será que são mesmo Inspirados, por Deus?” Então, foi por isso que Lutero quis tirar Tiago e Apocalipse? Já imaginou se Lutero tirasse o Apocalipse? O que seria dos Adventistas, dos Testemunhas de Jeová, dos Maranatas. Eles Não existiriam. Ufa. Eles têm que agradecer muito à “Igreja Católica que se prostituiu depois de Constantino”.
Outra coisa que me chamou atenção. Aliás, fiquei muito preocupado com isso. Será que eu devo acreditar no Antigo Testamento como realmente, genuinamente, Palavra de Deus? Sabe por que? Os Querubins que estão Bíblia, aliás, estão no propiciatório da Arca da Alinaça (Ex 25, 18), na verdade tem origem nos “karibus”, metade homem e metade anjos, que são das culturas politeístas mesopotânicas, ou seja, culturas idólatras.
Os Nomes Caím e Abel, têm sua origem nos hieróglifos Egípcios (Kêny, Ken: golpear, bater, roubar – Hêbel: vento, sopro, hálito, etc). A prática de sacrificar animais, marcar com seu sangue suas moradias, seu corpo, e beber do sangue do animal sacrificado advém de povos primitivos, cuja religião era politeísta, idólatra (Ler totem e tabu). Na Bíblia, Deus manda sacrificar um animal e tomar de seu sangue e marcar as portas das casas, e fala ainda mais, que este será um sinal de sua aliança com seu povo (Exodo 12). E depois no Evangelho, João vai falar que este animal agora é Jesus, o cordeiro de Deus (Jo 1,29) Que coisa louca!
Tem mais. Na Bíblia, Deus manda Moisés fazer uma serpente de bronze para o povo Olhar pra ela e se lembrar Dele (Nm 21,4-9). A serpente era uma representação da deusa de Canaã, religião politeísta, idólatra. Aliás, João no seu Evangelho, associa Jesus à serpente erguida no deserto: “Moisés ergueu a serpente no deserto, assim é necessário que seja levantado o Filho do Homem”(3,14). Sem dizer que Jesus nos pede para sermos Iguais à serpente (Mt 10,16). Ai, ai, meu Deus!
E a numerologia? Práticas dos Babilônios e dos Persas, povos cheios de magias e idolatrias. A Bíblia absorveu todo o simbolismo dos números em todo o seu itinerário textual: 7: Deus descansa: 8: vida plena e abundante(8 pessoas saem da arca para recomeçar a vida após o dilúvio(Gn 8,15); Jesus Ressuscita um dia depois do 7 (sábado); 3: coisas extraordinárias vão acontecer ( No terceiro dia Abraão vai sacrificar os eu filho; no terceiro dia Moisés recebe a Lei; no terceiro dia Jonas e cuspido para fora da Baleia, no terceiro dia Jesus Ressuscita). 4: plenitude, vida longa ( Moisés tinha 40 anos diante do faraó, com mais 40 ele recebe a Lei no Sinai, com mais 40 ele morre). Meu Deus!
Agora vem a mais radical de todas as cópias do mundo Pagão e idólatra: o Êxodo. Isso mesmo, a saída do Egito. O maior e fundamental evento para o Povo da Bíblia. Sabe qual povo que foi para o Egito, lá residiu durante anos, teve governantes junto ao faraó, que aprendeu a cultuar a um só deus, que foram expulsos do Egito, que atravessaram o deserto e voltaram para sua terra na região de Canaã? Os hicsos. Povo de origem Semita, que cultuavam somente a um deus: BAAL; e que deixaram provas arqueológicas de sua saída e travessia no deserto.
Onde estão as provas arqueológicas do êxodo bíblico? Ele existiu mesmo? Não se tem. Quem disser que tem está mentindo. Então o êxodo Bíblico seria um evento não do povo da Bíblia, mas uma assimilação para dar um ensinamento a respeito do Deus de Israel? Ai, ai, meu Deus! Sabia que existem historiadores que apontam para esta hipótese com muita veemência? Então devo abandonar a Bíblia por causa disso? Será que satanás usou de artifícios para nos enganar, corrompendo o Livro sagrado de Deus, permitindo que seus autores usassem elementos, símbolos, crenças, nomes, eventos de povos idólatras?
Sabe Lucas, Nós temos que nos esforçar para demonstrar que a Bíblia é Palavra de Deus para o mundo. Nós temos que canalizar nossas forças, conhecimentos, almas, para que o mundo creia no Livro Sagrado. Quanto mais nós nos atacarmos, agredirmos, diminuirmos, mais descrente o mundo ficará. Sabe o que restará, depois do protestantismo fanático que se afirma em detrimento da Igreja católica? O ateísmo, a descrença total. Se eu digo que minha Igreja é verdadeira a do outro não; se eu digo que minha Igreja é boa a do outro não. Eu tenho que sustentar isso pra vida inteira, caso contrário, estarei semeando a mentira. E você sabe quem é o pai da mentira? João 8, 44. (Padre Luiz Carlos de Oliveira, Belo Horizonte/MG – 29/10/2011)
Resposta - Olá, padre Luiz Carlos.
Você tocou agora em um assunto muito importante, que é o cânon bíblico. Como você deve saber, o cânon do Antigo Testamento foi reconhecido pelos judeus, já vigente nos dias de Jesus. Será que isso concedeu infalibilidade ou autoridade suprema aos judeus que reconheceram o cânon? É claro que não.
Eles não somente não tiveram a “infalibilidade”, como também crucificaram o Nosso Senhor Jesus Cristo. Em outras oportunidades, o Senhor chamou os fariseus de “raça de víboras” (Mt.23:33), de “sepulcros caiados” (Mt.23:27), de “serpentes” (Mt.23:33), e os judeus que duvidavam dele de “filhos do diabo” (Jo.8:44). Será que isso tem alguma coisa a ver com infalibilidade? É claro que não.
Poderia passar aqui um bilhão de exemplos se você quisesse, apenas para exemplificar que o fato dos judeus terem reconhecido o cânon do AT na época de Jesus não significava por conta disso que eles eram infalíveis ou que a autoridade divina estava sobre eles. Não significa nem sequer que Deus aprovava absolutamente todas as doutrinas que eles praticavam!
Para você ter uma noção, os judeus na época de Jesus tinham uma lista de 613 tradições que eles respeitavam e guardavam como se fossem mandamentos de Deus presentes na Escritura. E o que Jesus falou para eles? Os elogiou por estarem observando essas tradições? Na verdade, o que ele disse foi mais ou menos isso daqui:
Mateus 5:13 - E por que vocês transgridem o mandamento de Deus por causa da tradição de vocês?
Mateus 15:6 - Assim vocês anulam a palavra de Deus por causa da tradição de vocês.
Marcos 7:3 - Assim vocês anulam a palavra de Deus, por meio da tradição que vocês mesmos transmitiram. E fazem muitas coisas como essa.
Marcos 7:6,7 - Bem profetizou Isaías acerca de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios, Mas o seu coração está longe de mim; em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens.
Marcos 7:8 - Vocês negligenciam os mandamentos de Deus e se apegam às tradições dos homens.
Marcos 7:9 - Vocês estão sempre encontrando uma boa maneira para pôr de lado os mandamentos de Deus, a fim de obedecer às suas tradições!
Resumindo a situação, o fato de eles terem reconhecido o cânon já vigente na época de Cristo não teve nada a ver com eles estarem certos ou errados nas suas demais práticas, doutrinas ou tradições.
Por que então você diria que necessariamente o inverso deveria acontecer no tempo da Igreja, isto é, que o fato dela ter reconhecido o cânon no século IV sirva como prova de que todas as doutrinas e tradições observadas pelos cristãos da época estivessem corretas?
Se os judeus não foram justificados de suas tradições não-bíblicas (mesmo tendo reconhecido o cânon do AT), por que então a Igreja deveria ser justificada de suas tradições não-bíblicas por ter reconhecido o cânon do NT?
O seu raciocínio é cheio de antilógica e falacioso, com todo o respeito. Por esse mesmo raciocínio que você emprega para a Igreja no Novo Testamento, deveríamos pressupor também que os judeus nunca iriam se desviar do caminho da verdade ou que estivessem aprovados por suas tradições que corromperam as Escrituras. Evidentemente, nem os judeus estavam certos nas suas atitudes, nem tampouco estavam os cristãos do século IV em todas as suas práticas e tradições.
Como Jesus disse, da mesma forma que a tradição judaica teria que ser confirmada pelo testemunho das Escrituras (Mt.15:6; Mc.7:9; Mc.7:8; Mc.7:6,7; Mc.7:3), assim também as tradições cristãs teriam que estar de acordo com as Escrituras. E, com todo o respeito, a grande maioria (senão todos) dos seus dogmas são malignos, puras invenções – e não tem nada de bíblicos!
Onde é que a Bíblia diz que Maria foi virgem perpetuamente? O que a minha Bíblia diz é que José “não teve relações com ela até que lhe nascesse o primogênito” (Mt.1:25). Onde é que a Bíblia diz que Maria nunca pecou? O que a minha Bíblia diz é que “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm.3:23). Onde é que a Bíblia diz que existe uma autoridade infalível chamado “papa” na Igreja, o “Sumo Pontífice”? O que a minha Bíblia diz é que “a ninguém chameis de pai, porque vocês tem um só Pai, aquele que está nos céus” (Mt.23:9), e que temos apenas “um sumo sacerdote, Jesus Cristo” (Hb.4:14), e não o papa.
Enfim, eu poderia passar a eternidade aqui listando pelo menos setenta das várias declaradas heresias no seio da Igreja Católica Romana. Ela não era infalível, nem antes, nem depois de ter reconhecido o cânon do NT, assim também como os judeus não eram infalíveis, nem antes e nem depois de terem reconhecido o cânon do AT.
Então, com quem que estava a verdadeira infalibilidade? Já vimos que com os judeus não estava, e nem tampouco com os cristãos. O foco aqui é que definir ou reconhecer o cânon não é uma prova de autêntica autoridade do humano que a aprovou, mas sim do Espírito Santo que direcionou a este propósito.
Tudo o que os cristãos fizeram no século IV foi reconhecer aquilo que já estava definido pelo Espírito Santo muito tempo antes. Eles não criaram o cânon, eles apenas reconheceram quais eram os livros aprovados e quais não eram.
Desta foram, a infalibilidade não reside nos judeus da diáspora e nem nos cristãos do século IV, mas sim no Espírito Santo que direcionou tanto uns quanto os outros no concernente aos livros inspirados.
O seu raciocínio é falho por inferir que pelo fato dos cristãos terem aprovado o cânon no século IV significa que todas as doutrinas vigentes no século IV e observadas por eles eram necessariamente verdadeiras, e vimos que tal raciocínio é falacioso e falso, pois o mesmo não aconteceu com os judeus, conquanto que eles tiveram um papel muitíssimo importante na formação dos livros considerados inspirados do Antigo Testamento.
Não resta mais nada a falar sobre isso, senão mais algumas observações. Em primeiro lugar, que Martinho Lutero jamais excluiu o livro de Tiago ou o Apocalipse do cânon, tal como você e os demais católicos alegam, sempre de modo infundado e confuso. O que Lutero fez não foi excluir o livro de Tiago do cânon, mas sim considerar as epístolas de Paulo em um nível superior à epístola de Tiago.
Eu poderia fazer o mesmo se dissesse que nos dias de hoje o Evangelho de João tem uma importância superior ao livro de Cantares, mas isso seria mera opinião particular minha, assim como era mera opinião particular de Lutero sobre a importância da carta de Tiago. Se ele quisesse realmente tirar do cânon este livro, então nem os luteranos nem os demais protestantes daquela época e dos dias de hoje iriam admitir tais livros no Novo Testamento.
Os seguidores de Lutero simplesmente iriam ignorar estes dois livros e não admiti-los no cânon. A alegação católica é tão infundada e descabida que ignora o próprio fato de que os luteranos e todos os demais evangélicos sempre aceitaram estes dois livros e, portanto, não foi a intenção de Lutero tirá-los. Os católicos fizeram de uma simples opinião particular de Lutero sobre a importância de um livro em detrimento de outro como sendo um desprezo ao livro de Tiago ou ao Apocalipse, o que jamais ocorreu.
Os mais fanáticos ainda inventam que ele queria tirar estes livros do cânon, o que ocorreu menos ainda. Sugiro-lhe com todo o respeito a leitura de um site protestante que refuta todos os mitos e lendas católicas sobre Lutero, pois muita mentira foi dita sobre ele depois de sua morte, algumas das quais você se utilizou aqui. O site é este daqui:
http://beggarsallreformation.blogspot.com/search/label/Luther%27s%20Mariology
http://beggarsallreformation.blogspot.com/2005/12/martin-luther-topical-master-index-for.html
Finalmente, só para terminar, você certamente deveria saber que foram muitos os teólogos católicos que, mesmo depois do século IV e alguns em plena Idade Média, não aceitavam os livros apócrifos encontrados na sua Bíblia nos dias de hoje.
Pessoas como Cassidoro, Isidoro de Sevilha, Ricardo de São Vítor, Pedro Celênsio, Rupert de Deutz, Honório de Autun, Pedro Comestor, Pedro Maurício, Adam Scotus, Hugo de Santa Cher, Filipe de Harvengt, Nicolas de Lyra, William de Ockham, Cardeal Cajetano, Primásio, Gregório o Grande, O venerável Beda, Agobardo de Lion, Alcuin, Walafrid Strabo, Haymo de Halberstadt, Ambrósio de Antuérpia, Radulfo Flavicêncio, Hugo de São Vítor, Ricardo de São Vítor, João de Salisbury, Pedro Celêncio, Antonino, Alonso Tostado e muitos outros.
Eles jamais aceitaram os livros apócrifos acrescentados nas Bíblias católicas, os rejeitavam publicamente e documentalmente, e isso depois do Concílio de Hipona e Cartago e antes do Concílio de Trento, quando finalmente estes livros foram definitivamente aceitos, inclusive para formação de doutrina.
Inclusive o próprio Jerônimo, tradutor da famosa Vulgata Latina, se recusou a traduzir muitos livros apócrifos por não fazerem parte do cânon, e alguns outros ele traduziu por pedidos de amigos, mas disse claramente em sua introdução a estes livros que eles não eram inspirados e nem tampouco faziam parte do cânon:
"Este prólogo, como vanguarda (principium) com capacete das Escrituras, pode ser aplicado a todos os Livros que traduzimos do Hebraico para o Latim, de tal maneira que possamos saber que tudo quanto é separado destes deve ser colocado entre os Apócrifos. Portanto, a sabedoria comumente chamada de Salomão, o livro de Jesus, filho de Siraque, e Judite e Tobias e o Pastor [supõe-se que seja o Pastor de Hermas], não fazem parte do cânon" ("Prologus Galeatus")
“E assim há também vinte e dois livros do Antigo Testamento; isto é, cinco de Moisés, oito dos profetas, nove dos hagiógrafos, embora alguns incluam Ruth e Kinoth (Lamentações) entre os hagiógrafos, e pensam que estes livros devem contar-se por separado; teríamos assim vinte e quatro livros da Antiga Lei” (Prefácio aos Livros de Samuel e Reis. Em Nicene and Post-Nicene Fathers, 2nd Series, vol. 6, p. 489-490.)
"E assim da mesma maneira pela qual a igreja lê Judite e Tobias e Macabeus (no culto público) mas não os recebe entre as Escrituras canônicas, assim também sejam estes dois livros úteis para a edificação do povo, mas não para estabelecer as doutrinas da Igreja" ("Prefácio dos Livros de Salomão")
"Para os católicos, os apócrifos são certos livros antigos, semelhantes a livros bíblicos, quer do N.T, quer do V.T, o mais das vezes atribuídos a personagens bíblicos, mas não inspirados, como os livros canônicos, e nem escritos por pessoas fidedígnas nem de doutrina segura" (Introdução Geral a Vulgata Latina, p.9)
“Como a Igreja lê os livros de Judite e Tobite e Macabeus, mas não os recebe entre as Escrituras canônicas, assim também lê Sabedoria e Eclesiástico para a edificação do povo, não como autoridade para a confirmação da doutrina” (Prefácio aos Livros de Samuel e Reis. Em Nicene and Post-Nicene Fathers, 2nd Series, vol. 6, p. 489-490)
“Que [Paula] evite todos os escritos apócrifos, e se ela for levada a lê-los não pela verdade das doutrinas que contêm mas por respeito aos milagres contidos neles, que ela entenda que não são escritos por aqueles a quem são atribuídos, que muitos elementos defeituosos se introduziram neles, e que requer uma perícia infinita achar ouro no meio da sujeira” (Epístola 107:12 - Nicene and Post-Nicene Fathers, 2nd Series, vol. 6, p. 194)
Portanto, não foi o Concílio de Hipona que definiu o cânon, mas sim o Concílio de Trento, em pleno século XVI, como uma reação à Reforma Protestante, pois os protestantes estavam refutando vigorosamente as doutrinas católicas da época, e eles tiveram que apelar para tais livros para poderem justificar as suas heresias.
Isso explica o porquê que foi por tão poucos votos que eles foram aprovados (muitos votaram contra a sua aprovação), e o porquê que muitos grandes teólogos católicos jamais aceitaram tais livros como fazendo parte do cânon.
Também vale ressaltar que muitas vezes antes de Hipona e Cartago estes livros já haviam sido rejeitados pelos Pais da Igreja, tais como Eusébio de Cesaréia, Teófilo de Antioquia, Jerônimo e muitos outros; e também alguns deles foram rejeitados por Concílios, tais como o Concílio de Laodicéia, que veio antes do de Hipona e Cartago.
Todas essas informações são documentadas e se você quiser eu posso passar uma a uma acerca de cada uma dessas informações. Eu possuo um grande acervo de documentos escritos (sumariados no computador) e eu posso tranquilamente passar a você por email, caso você os deseje.
Em resumo:
1. O fato dos cristãos do século IV terem aprovado o cânon do NT não significa que as tradições humanas observadas por eles naquela época estavam corretas, assim como o fato dos judeus terem aprovado o cânon do AT não significou que as suas tradições não-bíblicas eram verdadeiras, pois Jesus as repudiou vigorosamente.
2. O fato de a Igreja ter reconhecido os livros aprovados no século IV não significa que ela é infalível, uma vez sendo que os judeus não possuíram infalibilidade mesmo depois de terem reconhecido os livros inspirados do AT; ao contrário, crucificaram o Senhor da Glória.
3. A única pessoa que realmente era infalível e que levou os méritos do reconhecimento do cânon é o Espírito Santo, que usou de meios humanos (e falíveis) para chegar a uma conclusão verdadeira. Assim como é possível fazer uma linha reta com uma vara torta, assim também o Espírito Santo se utilizou de meios falíveis para se chegar a uma conclusão verdadeira, pela Sua própria autoridade e não pela autoridade humana de quem está reconhecendo isso, seja a Igreja ou então a Comunidade Judaica.
4. O Concílio de Hipona não definiu o cânon absolutamente, pois foram inúmeros os teólogos católicos que não admitiam os livros apócrifos mesmo depois de eles terem sido aprovados em Hipona. Eles só foram aprovados definitivamente pela Igreja Católica no Concílio de Trento, e os Protestantes continuaram rejeitando tais livros.
5. Lutero jamais quis excluir os livros de Tiago e de Apocalipse da Bíblia, doutra forma eles não existiriam hoje nas Bíblias dos Evangélicos.
Bom, creio que por aqui termina a base argumentacional do seu texto, e certamente foi importante e relevante entrar nesse aspecto do cânon. Quanto às outras informações que trouxeste, algumas são verdadeiras, mas mal-interpretadas, outras são apenas meias-verdades e outras são simplesmente mentirosas. Não vou perder muito tempo em cada um deles, só vale a pena ressaltar que:
1. Sobre os Querubins que estão na Bíblia, eles não eram “meio homens e meio anjos” (como você disse), mas totalmente anjos. Portanto, não tem relação alguma com as culturas idólatras onde as imagens são parcialmente de homens e parcialmente de anjos.
2. Sobre a origem dos nomes, isso já foi tratado por mim em minha primeira resposta a você. Não vale a pena perder tempo com isso de novo. Como já foi dito, se o meu nome (“Lucas”) tem origem pagã ou não, isso não tem nada a ver com o meu caráter ou com a minha honestidade. Mesmo que um personagem bíblico tivesse dado um nome a seu filho que já estivesse vigorando entre as nações pagãs, isso não significa que a pessoa que está nascendo é um pagão ou que o pai que está dando este nome está condenado por causa disso.
Ademais, eles poderiam ter tido estes nomes muito antes de existirem os hieróglifos egípcios. Uma coisa é você fazer uso de um nome já existente em uma cultura pagã, outra coisa completamente diferente é você relatar este fato em tempo posterior a quando os egípcios (ou qualquer outro povo) o fizeram. De um jeito ou de outro, eu não vejo qualquer problema com relação aos nomes e suas origens.
3. Sobre João ter dito que Jesus é o Cordeiro de Deus, isso não é uma “coisa louca”, é simplesmente a constatação de que em Jesus estava sendo cumprida a sombra profética dos cordeiros sacrificados no AT. Os cordeiros que eram sacrificados eram uma sombra profética da realidade revelada por meio de Cristo, o Cordeiro de Deus. Jesus não era um cordeiro de maneira literal, mas figurada. O que João quis dizer é que não precisamos mais sacrificar cordeiros, pois Cristo sacrificou-se a si mesmo concedendo-nos eterna redenção, sem a necessidade de mais sacrifícios como expiação pelo pecado.
4. Sobre a serpente do deserto, Moisés não a fez como uma representação da deusa de Canaã, mas sim como uma representação de Cristo (Jo.13:14). Os israelitas estavam sendo atacados por serpentes, então Moisés fez uma serpente no deserto como uma tipologia de Jesus. Enquanto os hebreus olhavam para a serpente e eram curados das suas feridas, nós podemos olhar e crer em Cristo para sermos curados de nossos pecados.
Mas se você interpretar que qualquer construção de serpente seja necessariamente uma representação da deusa cananita, ainda que em um contexto absolutamente distinto, então eu só tenho a lamentar, pois isso significaria que se eu ou você fizéssemos uma serpente, ainda que não tivéssemos a mínima ideia do que seria essa deusa cananéia, estaríamos representando ela! Faz sentido para você? Bom, pelo menos para mim não!
5. Quanto à numerologia, antes de qualquer coisa é necessária a apresentação das provas do seu lado, seja elas quais forem. Me mostre exatamente em qual documento escrito do paganismo (com a referida fonte documental, é claro) em que estes números aparecem subseqüentemente a estes significados.
6. Sobre a história de Israel ser um plágio da história dos Hicsos, eu só tenho a lamentar, pois vejo que você não sabe a história dos hicsos. Em primeiro lugar, os hicsos eram um povo da Ásia, enquanto Israel era um povo semita. Em segundo lugar, os hicsos entraram no Egito por meio da guerra (e muitas guerras!), enquanto que Israel entrou no Egito por meio de escravidão, sendo reprimidos por estes. A diferença mais marcante deve ser essa aqui: Enquanto os hicsos dominaram o Egito, os israelitas, ao contrário, foram dominados pelos egípcios!
Finalmente, os hicsos foram expulsos do Egito por Amósis I, que os perseguiu por Canaã, Fenícia e Síria, até a cidade de Carquemis, junto ao Rio Eufrates, onde se deteve militarmente perante os hurritas do Reino de Mitanni. Em contraste a isso, os hebreus fugiram do Egito e, antes de possuírem Canaã, deteram os exércitos egípcios no Golfo de Ácaba, no Mar Vermelho. Os egípcios nem deteram os israelitas e nem tampouco estes alcançaram a Síria ou Canaã durante a perseguição.
Uma vez tendo estes fatos históricos em mente, chega a ser ridículo e um absurdo comparar os israelitas com os hicsos. Sim, eles tiveram uma semelhança: ambos estiveram na terra do Egito na Antiguidade; porém, as semelhanças terminam aqui. Também chega a soar estranho você ter elogiado o artigo sobre “As Provas do Êxodo”, sendo que ali está muito bem claro todas as provas do êxodo dos hebreus, que você agora parece discordar e, pior do que isso, atribuindo tais coisas aos hicsos, que tem uma origem e um destino histórico completamente diferente dos hebreus!
Outro fato historicamente confirmado e que você parece desconhecer é que os hebreus foram o primeiro povo monoteísta, de que se tem registro. Caso você não saiba, “BAAL” é a sigla para quatro deuses que eram adorados: Belzebú, Astaroth, Asmodeo e Leviatã. Juntos, ele formam o nome “BAAL”, que não era um único “deus”, mas a junção de todos estes que são os quatro “príncipes” (principados) do ocultismo, já praticado desde os tempos da Antiguidade. Portanto, a adoração dos hicsos a BAAL não tem absolutamente nada a ver com a adoração dos israelitas a Jeová, esta sim puramente monoteísta.
Meu caro, eu já sou experiente nessas lendas ateístas (algumas de quinta categoria), que já cansaram de serem esmagadas e refutadas ao longo dos séculos, ainda mais com o avanço da apologética cristã. Agora só falta você voltar com aquela estória de que Jesus é uma “cópia de deuses pagãos mitológicos”, que “a Bíblia foi corrompida”, ou outras milhares de lendas e mitos ateístas que têm sido refutadas facilmente, pois carecem de fundamento histórico, e a própria Bíblia vem sendo confirmada pela História e pela Arqueologia.
Para terminar essa minha resposta – até porque ela já está ficando longa demais -, vale ressaltar que a verdadeira “intolerância” na verdade é a de vocês, que primeiro dizem isso daqui e depois ainda tem a capacidade de negar isso em um debate posterior:
“Perecerão infalivelmente os que não tiverem a fé católica e não a guardarem íntegra e sem mancha” (Papa Gregório XVI [1831–1846] Ep. 166).
"Firmemente crê, professa e predica que ninguém que não esteja dentro da Igreja Católica, não somente os pagãos, mas também, judeus, os hereges e os cismáticos, não poderão participar da vida eterna e irão para o fogo eterno que está preparado para o diabo e seus anjos, a não ser que antes de sua morte se unirem a Ela” (Concílio de Florença – 1438-1445)
”Fora da fé católica, romana e apostólica ninguém se salva” (Papa Inocêncio III)
“Esta verdadeira fé católica, fora da qual ninguém pode se salvar” (Papa Pio IV, Profissão de fé da Bula "Iniunctum nobis" de 1564)
“Há apenas uma Igreja universal dos fiéis, fora da qual absolutamente ninguém é salvo” (Concílio de Latrão, Cânon I)
Ou seja, quando você fala de “intolerância”, mostra que o que menos sabe é sobre a “tolerância” da sua própria Igreja, a qual você desconhece ou finge não saber para o seu próprio benefício.
Abraços em Cristo.