A BÍBLIA FOI CORROMPIDA? O REI DAVI NUNCA EXISTIU?
Ola Lucas! Estou feliz por ter descoberto você e seu site. li artigos seus sobre Israel antigo, sobre provas do êxodo, sobre arqueologias bíblicas, etc. Achei Interessantíssimo. Você já Leu Philip Davies? "em busca do antigo Israel". Suas críticas, Lucas, à Igreja católica são semelhantes às Críticas de Philip à Bíblia Hebraica, ao universo Bíblico. Você Diz que A igreja católica foi inventada. Ele também diz que A Bíblia foi uma invenção dos Judeus no último período persa. Philip parece apresentar provas históricas e contudentes sobre sua tese, você igualmente.
Segunda Philip, A Bíblia hebraica seria uma propaganda apresentada por nacionalistas e ideólogos religiosos com objetivos bem práticos e corporativistas. Assim também você vê a Igreja católica. Bom, eu acho Philip um escritor excelente, inteligente e sincero em sua busca pela verdade. Assim também te vejo. Para Philip davies o rei Davi é tão fictício quanto o rei Artur. pra você a figura do Papa, igualmente. É muito difícil conceber quem alguém, ou grupos tenham tido a iluminadíssima idéia de organizar um livro como a Bíblia em favor apenas de seus interesses particulares. Eu você sabemos a complexidade da literatura Bíblica. Assim também, é difícil conceber que a Igreja católica teve uma mente pensamente para organizá-la exatamente como é em favor de interesses particulares.
Assim como a Bíblia, a Igreja católica é fruto de um desdobramento histórico, natural, espontâneo com seus erros e acertos. A Bíblia teve erros e acertos, Padre? Ora você melhor do que eu, sabe diferenciar os escribas cananeus dos escribas israelitas. Existe uma idéia original que foi totalmente alterada em seu percurso. Naturalmente isso acontece. De que você está falando padre? Bom você precisa ler outro livro: "Como a Bíblia tornou-se um livro de William M. Schniedewind. Edições Loyola. Ou converse comigo no meu msn: padre-luizinho@hotmail.com. Quero dialogar muito com você. acho que vou crescer muito com seus conhecimentos. (Padre Luiz Carlos, Belo Horizonte/MG - 28/10/2011)
Resposta - Olá, padre Luiz Carlos.
Você fez analogias entre o meu estudo sobre o que ocorreu no século quarto na história da Igreja com uma suposta relação entre o que Philip escreveu sobre a história do Israel Antigo. Porém, antes de desfazer essa alegada ligação, fica difícil fazer um comentário crítico sem ter lido este livro referido. Se você tem o e-book do livro, pode enviar em anexo para o meu email (lucas_banzoli@yahoo.com.br).
Sobre o pouco que foi dito acerca disso, como por exemplo a alegada inexistência histórica do Rei Davi, só posso dizer que a própria Arqueologia já tratou de desmontar com mais esta falsa alegação, como você já deve ter acompanhado no tópico sobre a Arqueologia Bíblica, aqui do site:
“A equipe de Avraham Biran, arqueólogo do Hebrew Union College, em Jerusalém, encontrou em Tel Dan, no norte de Israel, o fragmento de uma estela (pedra) contendo o registro histórico de um guerra entre os reis da Síria, Israel e Judá (foto ao lado). Nesse documento, o reino de Israel é chamado "Casa de Israel", enquanto o reino de Judá é chamado de "Casa de Davi"! Foi a confirmação de mais este personagem histórico, dando um fim àqueles que achavam que as histórias da Bíblia e seus personagens eram pura lenda”
Portanto, o Rei Davi é um personagem bíblico historicamente comprovado pela arqueologia, diferentemente da alegação infundada de Philip. Sobre a Bíblia ter sido escrita no período da dominação persa, essa é outra falsa alegação, uma vez sendo que já está mais que comprovado que alguns livros bíblicos, como por exemplo o de Jó, foram escritos muito antes disso.
Em Jó, por exemplo, nem sequer vemos a institucionalização de uma nação israelita – o nome de “Israel” nem ao menos aparece no livro! Os dados e informações acerca de reis, guerras, nações e cronologias em diferentes livros também não podem ser falsos, uma vez que a arqueologia tratou de confirmar muitos deles. Se fossem falsos, nenhum deles seria comprovado verdadeiro – seriam simplesmente invisíveis à luz da História.
Ademais, quais seriam os “interesses particulares” de alguém que compõe Salmos, poemas ou livros de história? O que é que você iria ganhar com isso? Pressupõe-se que se alguém tivesse o interesse de “inventar” um livro por interesses particulares, iria fazer isso para fins políticos e não para contar históricas, elaborar poemas ou salmos. Nenhuma conspiração preocupa-se com estes detalhes, muito menos perde um terço do livro com declarações proféticas visando muitas vezes um período futuro no fim dos tempos.
Você primeiramente deveria mostrar exatamente quais eram estes “interesses particulares” em escrever um “livro falso” como você diz com relação à Escritura Hebraica, depois dizer exatamente quais seriam os interesses em escrever poemas, histórias e salmos para este fim comum em específico.
Ademais, eu jamais aleguei que a figura do papa é tão inexistente quanto a figura do rei Arthur, como você disse. O que eu desacredito não é na existência do papa dentro da Igreja Católica Romana (qualquer um que for ao Vaticano poderá encontrá-lo lá), mas sim acerca da autoridade que ele possui no Cristianismo.
-Você afirma que ele é infalível; eu afirmo que ele é falível.
-Você afirma que ele é o líder máximo da Igreja; eu afirmo que ele está no mesmo patamar dos demais cristãos.
-Por fim, você afirma que este cargo (de “bispo dos bispos”) existe historicamente e biblicamente, e eu provo nestas mesmas fontes que tal título era inexistente nos primeiros séculos da Igreja.
Este contraste você poderá constatar ao longo de todos os artigos de minha autoria sobre a Igreja Católica. Desta forma, as minhas constatações históricas e bíblicas estão muito longe de se igualar às constatações de Philip. Em primeiro lugar, porque as alegações dele, como vimos, são sem fundamento, enquanto que as minhas tem amplo fundamento em amplas fontes. Em segundo lugar, porque ele quer provar a inexistência de pessoas, enquanto eu procuro demonstrar a falibilidade e não-inerrância de organizações ou grupos.
Em resumo, se você demonstrar através da Bíblia ou da História que eu estou equivocado, aí sim nós poderemos ter um debate sério. Mas apenas dizer que Philip disse “isso ou aquilo” com relação ao Antigo Testamento, ainda mais sendo falso, não vai ajudar em nada para demonstrar a veracidade ou falsidade dos meus argumentos, que são substancialmente diferentes dos dele.
Sobre as origens ou alterações das Escrituras, este é um outro assunto no qual eu gostaria que você, caso realmente queira se aprofundar mais neste tema, elabore as suas argumentações para fortalecer os seus pontos de vista. Por enquanto eu só posso dizer que o Novo Testamento é o documento antigo que disparadamente possui mais cópias antigas e que essas cópias são as mais próximas aos documentos originais que alguém já presenciou em toda a História Antiga.
Como você bem deve saber, enquanto os escritos de Platão, Aristóteles e outros famosos da Antiguidade possuem apenas algumas poucas dezenas de cópias (ou nem isso!), a Bíblia possui mais de cinco mil(!), isso sem levar em consideração os manuscritos da Vulgata Latina de Jerônimo, o que elevaria este número para vinte e quatro mil cópias antigas, em uma preservação incontestavelmente superior aos manuscritos de qualquer outro autor da História Antiga.
Em outras palavras, se você alegar corrupção, falsidade ou adulteração nos manuscritos bíblicos em relação aos originais, você terá que conseqüentemente no mínimo eliminar toda a História Antiga como desprezível, o que eu creio que, com toda a sinceridade, você não irá ousar a tal ponto, se quiser manter um mínimo de critério.
Um grande abraço e que Deus lhe abençoe.