MINHA SEGUNDA PARTE
Olá, Marcus.
Também é um grande prazer de minha parte dialogar com você sobre a existência de Deus, visto que já há algum tempo estava querendo fazer isso, mas por falta de tempo e por causa de outros expedientes demorei um pouco a fazê-lo.
Primeiramente, eu sei que você estava se referindo à ideia de Deus e não a um Deus em específico. Mas é exatamente esta a questão que eu abordei, pois as características pelas quais ambos seriam (pela sua lógica) IMPOSSÍVEIS de serem provados verdadeiros são exatamente as mesmas. Creio que você não compreendeu boa parte do meu texto, pois eu em momento algum argumentei que o Deus cristão é o verdadeiro e o Kardecista é falso, nem tampouco que você estava se referindo ao Deus Cristão em seu artigo, muito menos ainda que o diabo tenha todas as características de Deus!
O que eu CLARAMENTE disse foi que, usando um mesmo critério, você deveria ser “agnóstico” ou “ateu negativo” para ambos, conforme foi claramente dito por mim em meu último texto, quando disse:
“A não ser que você alegue que É POSSÍVEL provar a existência do Deus Kardecista, e neste caso você não poderia alegar que É IMPOSSÍVEL demonstrar que Deus não existe por suas características que seriam muito semelhantes ao ‘Deus Kardecista’, ou até mesmo ao ‘Deus do AT’”
Pois o “Deus Kardecista” seria:
-Auto-existente
-Atemporal
-Causa Primeira
-Eterno
-Metafisicamente extensível
Essas são as MESMAS características da “ideia de Deus” em si, bem como também do Deus Cristão revelado nas Escrituras. Portanto, se tais características são IMPOSSÍVEIS de serem detectadas e comprovadas verdadeiras, então você deveria ser agnóstico tanto a “ideia de Deus”, como também ao “Deus Kardecista” e ao “Deus Cristão”.
Note que você não trouxe evidências pelas quais É POSSÍVEL provar a existência do Deus Kardecista mas não do Deus Cristão, visto que você nega TODAS as evidências para um Teísmo! Neste caso, eu nem sei por que você é agnóstico para o Deus espírita, segundo aquilo que você mesmo afirmou em seu artigo sobre o agnosticismo:
“O Ateísmo Positivo afirma a Inexistência de Deus, o Ateísmo Negativo afirma que não há bons motivos para crer na existência de Deus, negando a validade dos argumentos a seu favor”
Em outras palavras, se você desqualifica como ridículos todos os argumentos para um Deus Teísta (como é o Kardecista), bem como a “ideia de Deus” (sem especificação), então você não deveria ser agnóstico com relação a ele (seja à ideia de Deus, seja ao Deus Kardecista ou então ao Deus Cristão), mas sim Ateu Negativo, visto que o ateísmo negativo afirma que não há bons motivos para crer na existência de Deus, exatamente aquilo que você fez o tempo todo em sua última resposta!
Ademais, absolutamente nenhum argumento que eu passei (seja o Cosmológico, Ontológico, da Lei Moral ou o Teleológico) tem como consequência das premissas o fato de que o “Deus Cristão é o verdadeiro”. Ao contrário, eles servem apenas para provar a existência de Deus (sem especificação).
Ninguém em sã consciência vai dizer que o argumento Cosmológico Kalan prova a existência de Bhrama ou Alá. Da mesma forma, eu nunca vi alguém argumentar que o argumento teleológico presume que Deus seja “este ou aquele”. Eles servem apenas para provar a existência de Deus (sem especificações), podendo ser até deísta! Eu uso tais argumentos para provar a existência daquilo que você chama de “a ideia de Deus”, mas para provar que o Deus cristão que é o verdadeiro eu uso OUTROS argumentos, como você deve ter percebido em meu site (especialmente através dos argumentos para a existência de Cristo e sua ressurreição).
Em outras palavras, os argumentos para a existência de Deus tem relação não a um Deus específico, mas a ideia de Deus. Mas você nega todos eles! Portanto, se você diz que não há bons motivos para crer na existência de Deus, então você deveria ser ateu negativo e não agnóstico, seja com relação à ideia de Deus, seja com relação ao Deus Kardecista ou ao Deus Cristão. Isso é somente lógica e coerência, caro Marcus.
Quanto aos seus argumentos para a não-veracidade do Deus Cristão, eu sinceramente me decepcionei muito com as suas respostas, pois enquanto eu esperava ARGUMENTOS, você só veio com a “reductio ad absurdum” e a falácia do “apelo ao ridículo”, ao invés de mostrar qualquer argumento contra a existência do Deus Cristão. Ridicularizar acontecimentos de um livro não é refutação, caro Marcus. Para refutar é preciso fazer muito mais do que ridicularizar, o que resume a sua última resposta!
Por exemplo, eu nunca me basearia somente naquilo que Ron Carlson disse se quisesse refutar a teoria da evolução:
“No ensino básico, me ensinaram que um sapo transformando-se num príncipe era um conto de fadas. Na universidade, me ensinaram que um sapo transformando-se num príncipe era um fato!”
Eu poderia ridicularizar isso, dizendo ser estorinha de quadrinhos, e que portanto a teoria da evolução é falsa e ridícula. Será que este argumento da ridicularização do lado oposto pode ser considerado? É claro que não! Evidentemente eu teria que trazer algum argumento, ou senão a minha ridicularizarão não valeria absolutamente nada.
Mas infelizmente foi exatamente isto o que você fez com a fé cristã. Você a ridiculariza sem refutá-la. Talvez o único argumento real que você trouxe foi este:
“...e o próprio céu está literalmente estendido sobre a Terra”
Mas isso provavelmente deve ser resultado de uma profunda falta de discernimento das Escrituras. Para o seu conhecimento, existem três céus (2Co.12:2), sendo o primeiro o céu atmosférico, o segundo é o espaço e o terceiro é onde Deus habita, em uma outra dimensão, ao qual Paulo foi arrebatado enquanto em vida (2Co.12:2). Infelizmente você mistura tudo, e diz como se o Céu onde Deus habita é o mesmíssimo Céu que está figurativamente “estendido sobre a terra”, o que é um completo absurdo! Não saber diferenciar os “céus” é o que leva muitos que combatem o cristianismo a presunções totalmente descabidas. Infelizmente lhes sobram intelectualidade, mas lhes faltam o mais básico da exegese e hermenêutica.
Quanto ao fato da Bíblia não diferenciar entre o material e o espiritual, infelizmente isso é uma outra péssima exegese bíblica, visto que a Escritura diz:
“Meus filhinhos, por quem de novo sinto as dores de parto, até que CRISTO SEJA FORMADO EM VÓS” (Gl.4:19)
“O Espírito da verdade. O mundo não pode recebê-lo, porque não o vê nem o conhece. Mas vocês o conhecem, pois ele vive com vocês E ESTARÁ EM VOCÊS” (Jo.14:17)
É óbvio que ninguém vai pensar que o CORPO FÍSICO de Cristo vai crescendo dentro de nós mesmos, nem tampouco que o Espírito Santo esteja fisicamente presente em nós. É óbvio que Paulo (assim como os demais) reconhecia Jesus (em sua divindade), bem como o Espírito Santo, como seres espirituais (motivo pelo qual eles podem ficar “dentro de nós”). Portanto, Deus é reconhecido sim como algo espiritual e imaterial, bem como transcendental, e a sua inferência sobre esta não-diferenciação é simplesmente falsa. Poderia passar mais CENTENAS de versículos, mas o meu objetivo aqui não é o bombardeio, mas sim o esclarecimento de coisas simples.
Você disse:
“Além do mais, não consigo acreditar que você pense, mesmo dentro do seu sistema de crenças, que o Diabo tenha as mesmas propriedades de Deus! Como poderia! Acaso o Diabo seria Onipotente? Onipresente? Eterno? Ser Necessário? Como podes equivaler uma criatura, ainda por cima corrompida, com o seu criador perfeito e atemporal?!”
Caro Marcus, onde foi que eu disse que o diabo tem todas as mesmas propriedades de Deus??? Leia novamente o que eu disse com mais atenção, pois eu simplesmente falei que ele seria igualmente “metafisicamente extensível”, NESTE SENTIDO como Deus é (pois Deus também é metafisicamente extensível). Veja o que foi que eu havia dito:
“Se a crença em Deus é impossível de ser demonstrada falsa ou verdadeira baseando-se no fato de que ele não é METAFISICAMENTE EXTENSÍVEL, então também seria igualmente impossível demonstrar a inexistência do demônio”
Veja que eu argumentei CLARAMENTE que o diabo é igualmente METAFISICAMENTE EXTENSÍVEL como Deus. Onde foi que você leu que eu disse que o diabo é “onipotente”, “onipresente” ou “eterno”??? Essas foram adições suas em cima daquilo que eu disse, totalmente por conta sua, já que eu JAMAIS afirmei tal coisa, e nem poderia fazê-lo, a não ser que eu fosse profundamente estúpido. Recomendo que refute apenas aquilo que eu disse e não aquilo que eu não disse!
Quantos às suas ridicularizações à fé cristã, creio que de todos esses “argumentos” apenas o do “arrependimento” que teria alguma consideração substancial contra a fé cristã (os outros foram simplesmente ridicularizados e não “refutados”!). Mas isso já foi refutado interminavelmente ao longo de muitos séculos, se você quiser veja o que eu disse sobre isso aqui:
https://lucasbanzoli.no.comunidades.net/index.php?pagina=1083004723
Com relação aos argumentos para a existência de Deus, eu poderia passar aqui inúmeros debates em que nenhum ateu conseguiu dar explicação convincente para estes argumentos, como por exemplo o mico que Christopher Hitchens pagou no debate com William Lane Craig, que não foi tão feio quanto ao que Peter Atkins sofreu contra este mesmo debatedor. Em outros inúmeros outros debates a situação foi a mesma – nenhuma refutação convincente para tais argumentos que você hoje despreza.
Talvez você faça melhor do que Hitchens e Atkins (não duvido disso), mas não pode simplesmente desprezar o argumento antecipadamente, sem, contudo, apresentar qualquer tipo de refutação substancial a eles. Desprezar um argumento não é refutá-lo! Em suma, queria ver como você rebate as premissas ou a conclusão do argumento cosmológico:
1. Tudo o que tem início tem uma causa para a sua existência.
2. O Universo tem um início.
3. Portanto, o universo tem uma Causa.
Se você aceitar a validade das premissas, aí eu passo para o próximo ponto (do que é essa “Causa”). Mas o simples fato de você tratar com estes argumentos a mais tempo do que eu, não significa que OS ARGUMENTOS sejam falsos ou verdadeiros!
Bom, é isso. Novamente repito que é uma honra debater com você, com todo o respeito, ainda que eu discorde dos seus argumentos. O meu objetivo aqui jamais é ridicularizar crenças ou argumentar com base em pressupostos pessoais, mas somente de argumentar logicamente com base nas evidências acerca da existência de Deus, e especialmente com relação ao agnosticismo que, ao meu ver, não lhe dá muitas alternativas a não ser tornar-se “ateu negativo” tanto com relação a ideia de Deus, tanto com relação ao Deus Kardecista, tanto com relação ao Deus Cristão.
Em resumo:
1. Sim, é POSSÍVEL provar a inexistência de algo (até mesmo de Deus), por meio da lógica da não-contradição.
2. Sim, é POSSÍVEL provar a existência de Deus, quando os argumentos expostos a favor disso seguem-se corretamente as premissas.
3. Se tais evidências a favor da existência de Deus são todas FALSAS, então você deveria ser Ateu Negativo com relação à ideia de Deus, pois este ponto afirma que “não há bons motivos para crer na existência de Deus”, exatamente como você crê!
4. Se é POSSÍVEL provar a existência do Deus Kardecista, então também é POSSÍVEL provar a existência do Deus Cristão, visto que ambos possuem as mesmas características (imaterial, eterno, auto-existente, atemporal, onisciente, onipresente, onipotente, etc), embora divirjam em questões menores.
5. Se é IMPOSSÍVEL provar a existência do Deus Cristão, então é igualmente IMPOSSÍVEL provar a existência do Deus Kardecista, tendo em vista que tais características (já passadas acima) seriam indetectáveis PARA AMBOS.
Queria poder comentar muito mais coisas, em seus mínimos detalhes (como eu faço em minhas cartas respondidas), mas infelizmente o limite de caracteres não me permite, por conta disso tive que resumir desta maneira.
Um grande abraço e até a próxima.
Lucas Banzoli.