DEBATE COM MARCUS VALÉRIO

MINHA PRIMEIRA PARTE

 

Olá, Marcus Valério.

 

Queria conversar com você sobre o sua Defesa do Agnosticismo, que, por sinal, está muito bem elaborada:

 

Contudo, queria fazer as seguintes observações a esse respeito. Você argumentou que seria IMPOSSÍVEL demonstrar que Deus existe, assim como seria IMPOSSÍVEL demonstrar que ele não existe. Você sustentou o seu argumento sobre dois pontos principais:

 

“1 - Que a crença em Deus, por sua característica intrínseca, é metafísica e infinitamente extensível, diferente de outros entes específicos que se possa alegar;

 

2 - E que o Agnosticismo não se baseia no simples fato de não ser possível provar que Deus não existe, mas principalmente no fato de TAMBÉM SER IMPOSSÍVEL PROVAR QUE EXISTE, o que certamente, também não se aplica a outros seres específicos.”

 

Até aí tudo bem. O problema seria que, POR ESSA MESMA LÓGICA, poderíamos presumir também que, da mesma forma que seria impossível demonstrar que Deus existe ou não existe, também seria impossível demonstrar que o diabo existe ou não existe. Ele também não está vagando por aí neste universo para demonstrar a sua existência ou a negação de sua existência. Se a crença em Deus é impossível de ser demonstrada falsa ou verdadeira baseando-se no fato de que ele não é metafisicamente extensível, então também seria igualmente impossível demonstrar a inexistência do demônio.

 

Mas você é “Ateu Negativo” com relação ao demônio. É evidente que você deve ter motivações para a sua descrença no demônio, mas o fato é que seria impossível demonstrar a sua inexistência, pela mesma lógica de que seria impossível provar a existência ou não de Deus.

 

Agora um outro ponto importante. Eu creio que não é apenas DESTA MANEIRA que se prova a existência de algo. Você disse:

 

“Por exemplo. De fato, eu não posso provar que não existam unicórnios no mundo por uma questão puramente prática, tenho mais o que fazer! Mas eu posso provar que não há um unicórnio no meu quarto! E poderia fazê-lo em relação ao mundo se pudesse ter um acesso sensorial simultâneo ao planeta inteiro em todos os seus locais, ou mesmo ao universo. Portanto, um agnosticismo sobre unicórnios seria no máximo do tipo TEMPORÁRIO, para usar uma categoria sugerida pelo próprio Dawkins. Mas eu não posso provar que não há Deus no meu quarto, e nem mesmo se eu tivesse acesso a todo o universo, pelo simples fato que uma das principais propriedades típicas do Deus, com "D" maísculo, é sua amplitude maior que o próprio universo, e sua indetectabilidade por definição. Por isso esse agnosticismo é necessariamente PERMANENTE, a outra categoria sugerida por Dawkins”.

 

Mas a crença ou descrença em Deus pode ser demonstrada falsa ou verdadeira não APENAS a partir da lógica acima, caro Marcus. Por exemplo, eu não precisaria viajar por todo o nosso planeta para provar que não existe um “solteiro casado”. Eu não precisaria viajar por todo o Brasil, África, China, Japão, etc, e depois de rodar o mundo inteiro chegar a conclusão de que: “é verdade, não existe um solteiro casado”!

 

Ao contrário, eu não precisaria nem sequer sair de casa, bastando por uma lógica simples presumir isso, a partir do fato de que quem é solteiro não é casado, e quem é casado não é solteiro. Portanto, não existe um “solteiro casado”.

 

Isso significa que tudo aquilo que é antilógico e incoerente em sua própria natureza pode ser demonstrado falso mesmo sem sair de casa, bastando um raciocínhio lógico para tal coisa. Com Deus é a mesma coisa. Os ateus geralmente apelam para o exemplo da pedra. Deus pode criar uma pedra tão grande que nem ele mesmo é capaz de carregá-la? Se sim, então ele não é capaz de carregá-la (portanto não é onipotente). Mas, se não, então ele não é onipotente, visto que não pode criar tal pedra. Portanto, os ateus alegam por meio dessa “auto-contradição” que seria possível demonstrar a inexistência de Deus.

 

É claro que este exemplo é facilmente refutável; porém, ele serve para provar que É POSSÍVEL demonstrar que Deus não existe, se esta lógica fosse plausível, por exemplo. Note que eu não estou dizendo que aquele exemplo PROVA que Deus não existe, mas sim que aquele exemplo – assim como outros do mesmo tipo – PODEM provar que ele não existe, por meio da lógica da não-contradição.

 

Portanto, creio ser equivocado dizer que é IMPOSSÍVEL provar que Deus não existe. Da mesma forma, poderia citar aqui inúmeros bons argumentos para a existência de Deus, tais como o argumento Cosmológico Kalan, o argumento Ontológico, o argumento da Contingência, o argumento Teleológico, e o argumento da Lei Moral. Eles mostram que É POSSÍVEL provar que Deus existe, bastando seguir-se corretamente às premissas.

 

Também queria comentar algo que você disse aqui:

 

“É claro que isso pode mudar se for especificado a que Deus se está referindo. Eu sou Ateu Negativo em relação ao Deus do Velho Testamento, bem como ao Deus do Islã, mas continuo agnóstico com relação ao Deus Kardecista, por exemplo. É até razoável ser um Ateu Positivo em relação aos Deuses da maioria das grandes religiões, mas não em relação a idéia de Deus em si”

 

Eu gostaria de saber qual é a sua base para ser “ateu negativo” ao Deus do AT (e consequentemente ao Deus cristão também), mas entretanto “contiunua agnóstico com relação ao Deus Kardecista”. Ora, qual será a “lógica” para dizer que É POSSÍVEL demonstrar a inexistência do Deus cristão (e neste caso gostaria de ver as provas ou evidências para isso), mas que, ao contrário, é IMPOSSÍVEL demonstrar a existência ou inexistência do Deus Kardecista? Ora, ambos seriam “metafísica e infinitamente extensíveis”, e, portanto, USANDO A MESMA LÓGICA você deveria ou ser agnóstico para os dois, ou ser ateu negativo com relação aos dois.

 

A não ser que você alegue que É POSSÍVEL provar a existência do Deus Kardecista, e neste caso você não poderia alegar que É IMPOSSÍVEL demonstrar que Deus não existe por suas características que seriam muito semelhantes ao “Deus Kardecista”, ou até mesmo ao “Deus do AT”.

 

Um grande abraço, Marcus Valério, e que Deus lhe abençoe.

 

Lucas Banzoli.