AUSENTE DO CORPO E PRESENTE COM CRISTO
Outra das passagens completamente mal-interpretadas pelos imortalistas, com respeito à morte do apóstolo e o estar com Cristo, está presente na sua segunda epístola aos Coríntios, cap.5, no verso 8: “Temos, pois, confiança e preferimos estar ausentes do corpo e habitar com o Senhor”. O problema deste é que ele está completamente descontextualizado. E texto, fora do contexto, é pretexto para heresia. Desde o início de sua segunda carta aos Coríntios, Paulo acentua a realidade da ressurreição, e não de almas desencarnadas (ver 2Co.1:9, 2Co.1:14; 2Co.4:14; 2Co.5:15).
Logo no início da carta, ele já acentua: “Como também já em parte reconhecestes em nós, que somos a vossa glória, como também vós sereis a nossa glória no dia do Senhor Jesus” (cf. 2Co.1:14). Ora, o apóstolo é muito claro: nós seremos transformados em glória no “dia do Senhor Jesus”, que é a segunda vinda de Cristo quando os mortos serão ressuscitados (cf. 1Co.15:22,23), e não quando uma “alma imortal” sai do corpo! Nós seremos a glória e fruto do trabalho de Paulo, não no estado intermediário, mas no “dia do Senhor Jesus” (v.14).
Primeiramente devemos notar que existe uma grande diferença entre estar fora “do” corpo e em estar fora “de” corpo. Estar ausente “do” corpo significa estar ausente deste presente corpo em que nós estamos agora. Mas não significa estar sem corpo nenhum. Muito pelo contrário, Paulo escreve claramente que não estaria “se achando nu” (cf. 2Co.5:13). Ora, qualquer um sabe que nós só nos acharemos revestidos de corpo novamente com a ressurreição dos mortos (cf. 1Co.15:22,23).
Além disso, Paulo enfatiza o teor da ressurreição dos mortos poucos versos antes, em 2Co.4:14 – “Pois sabemos que aquele que ressuscitou o Senhor Jesus, nos ressuscitará também a nós com Jesus e nos fará comparecer diante dele convosco”, deixando claro que nós só nos compareceremos diante dele convosco depois da ressurreição! Veja que antes de Paulo escrever a passagem isolada usada pelos imortalistas, ele acentua: “Sabendo que o que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará também por Jesus, e nos apresentará convosco” (cf. 4:14), acentuando o caráter da ressurreição.
Paulo afirma que desejava ser apresentado com aqueles a quem ele havia convertido a Cristo, ou seja, quer encontrá-los todos. Por que ele não disse que esperava isso acontecer quando ele morresse e fosse com sua alma para o Céu? Qual nada, a ênfase dele está inteiramente na ressurreição; é somente na ressurreição que Paulo e os Corintos seriam apresentados novamente; e poucos versos depois: “Se, todavia, estando vestidos, não formos achados nus” (cf. 5:3), aqui já vimos que Paulo estaria “vestido” no Céu (com corpo) e não “achado nu” (sem corpo)!
Só isso já seria o suficiente para desmoronar com a falsa interpretação dos dualistas. Mas como se isso não fosse suficientemente claro, ele continua acentuando tal fato no verso seguinte: “Porque também nós, os que estamos neste tabernáculo, gememos carregados; não porque queremos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida” (cf. 5:4). Novamente o apóstolo confirma que ele não quer se achar “despido”, mas sim “revestido”! Ora, perguntaríamos: Será que o apóstolo Paulo rejeitava entrar no Céu como um espírito desincorporado, uma vez que ele diz claramente que “não queria ser despido, mas revestido”?
É evidente que não, pois o Céu seria um prêmio para qualquer um. O que o apóstolo Paulo realmente estava dizendo é que nós, enquanto neste presente corpo, gememos querendo deixar este corpo (cf. 5:8), não para passar pelo “sono da morte”, em que deixaremos de existir, por isso estaremos “despidos” (cf. 5:4), mas sim porque seremos revestidos em seguida (5:8), fato esse que acontece apenas na ressurreição dos mortos (cf. 1Co.15:22,23; 1Co.15:51-54). É exatamente isso o que Paulo estava dizendo.
Seria muito estranho que o “despido” se relacionasse a um espírito com consciência e personalidade que vai para o Paraíso esperando a ressurreição, pois se fosse assim Paulo não acentuaria tanto que NÃO desejava estar neste estado (cf. 2Co.5:3; 2Co.5:4).
Paulo não estava rejeitando entrar no Céu como um espírito descorpóreo, mas sim não queria passar pelo período em que deixamos de existir com vida antes da ressurreição, momento este em que estaremos despidos, inconscientes, e é isso o que Paulo não desejava, pelo contrário, esperava com entusiasmo o momento glorioso em que ele seria revestido novamente (cf. 5:4), para aí sim o “mortal ser absorvido pela vida” (cf. 5:4) e ele conseguir aquilo que ele queria: ser revestido para entrar no Paraíso, pois não entraria no Paraíso “se achando nu” (cf. 2Co.5:3).
Até aqui vimos a lógica do apóstolo Paulo no contexto de 2 Coríntios cap.5, que nos mostra que, para ele:
(1) O momento em que seremos apresentados uns aos outros é na ressurreição (cf. 2Co.4:14)
(2) Não há vida na condição de despido e incorpóreo (cf. 2Co.5:3)
(3) Paulo não queria ser despido, mas sim revestido (cf. 2Co.5:4)
(4) O momento em que seremos revestidos é na ressurreição dos mortos (cf. 1Co.15:53)
Isso por si só já é um verdadeiro golpe de morte na doutrina pró-imortalista. Mas o último golpe (como se isso tudo já não fosse suficientemente claro) vem quando ele afirma em seguida o seu desejo de estar com Cristo quando o mortal fosse absorvido pela vida (v.14). Era este o desejo de Paulo: “Porque também nós, os que estamos neste tabernáculo, gememos carregados; não porque queremos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida” (cf. 2Co.5:4).
Veja que o desejo de Paulo, pelo qual ele gemia carregado, era na esperança de ser revestido para que o mortal fosse absorvido pela vida. Este era o desejo de Paulo pelo qual ele desejava estar ausente do corpo (morrer). A pergunta final que nos fica é: Quando é que se dá este momento tão desejado por Paulo, quando o mortal será absorvido pela vida? Ora, o próprio apóstolo Paulo já havia respondido aos coríntios na sua primeira carta a eles:
“Eis que vos digo um mistério: nem todos dormiremos, mas transformados seremos todos, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque é necessário que isso que é corruptível se revista da incorruptibilidade, e que isso que é mortal se revista da imortalidade. Pois é necessário que aquilo que é corruptível se revista de incorruptibilidade, e aquilo que é mortal, se revista de imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte pela vitória.” (cf. 1Co.15:51-54).
Resposta: No som da última trombeta, que “coincidentemente” é exatamente o momento. . . isso mesmo, da ressurreição dos mortos! É somente na ressurreição que o mortal se reveste da vida, o que também nos mostra que antes da ressurreição nós somos meros seres mortais a sermos revestidos de imortalidade em função da ressurreição dos mortos. Além disso, vemos que logo em seguida de Paulo escrever que queria ausentar-se deste corpo, ele escreve:
“Pois todos nós devemos comparecer perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba de acordo com as obras praticadas por meio do corpo, quer sejam boas quer sejam más” (v.10), ou seja, ele esperava partir do corpo para o tribunal de Cristo e receber dele o que lhe é devido. O mesmo Paulo escreve quando é que se dá tal acontecimento: “Na presença de Deus e de Cristo Jesus, que há de julgar os vivos e os mortos por sua manifestação e por seu Reino” (cf. 2Tm.4:1).
Ou seja, na segunda vinda de Cristo, que também é a ressurreição dos mortos de acordo com o mesmo apóstolo (cf. 1Co.15:22,23). Tudo isso nos traz mais do que claramente a resposta para a pergunta: Quando é que Paulo estaria com Cristo? Resposta clara e inequívoca: Na ressurreição dentre os mortos! Vemos, portanto, que é na ressurreição que Paulo estaria com Cristo. A passagem de 2 Coríntios nada mais é do que o fruto de uma passagem totalmente fora de seu devido contexto.
O que faz com que Paulo acentuasse que “partiria e estaria com Cristo” não é o fato de que subsistiria em forma de “espírito descorpóreo”, mas sim pelo fato que quem deixa de existir não está mais sujeito a tempo e espaço, não existe lapso de tempo entre a morte e a ressurreição. Morremos e somos ressuscitados, como se em “um piscar de olhos” (cf. 1Co.15:52). Contudo, o apóstolo Paulo faz questão de frisar que tal acontecimento se dará não quando se achasse “despido”, mas sim “revestido”, de um corpo glorioso, e isso só acontece na ressurreição dos mortos.
VIDA TERRENA |
ESTADO INTERMEDIÁRIO |
RESSURREIÇÃO NA SEGUNDA VINDA |
Ausente do corpo para estar com Cristo quando o mortal fosse absorivdo pela vida (5:4) e quando Paulo estivesse revestido [i.e, com corpo], não se achando despido, mas sim revestido (cf. 5:4; 5:3) |
Estado de não-existência [sem corpo]; o qual Paulo rejeita dizendo que não estaria se achando nu e que não queria ser despido, mas sim revestido [ressurreição] (cf. 5:3; 5:4) |
Quando o mortal é aborvido pela vida e Paulo é revestido para entrar no Reino (cf. 2Co.5:4; 1Co.15:51-54); o momento em que ele seria apresentado aos Corintos novamente (cf. 4:14) |
A passagem de 2 Coríntios 5:8, quando colocada no seu devido contexto, é um golpe de morte em cima da doutrina da imortalidade da alma em seu estado intermediário. O que nós vemos quando contextualizamos o que o apóstolo afirma, é exatamente a não-existência deste “estado intermediário”, e que o momento em que ele de fato estaria com Cristo seria na ressurreição dos mortos, quando ele estivesse revestido de um corpo glorioso, quando o mortal fosse absorvido pela vida, quando ele estaria se achando vestido e não despido, quando ele seria apresentado aos Corintos novamente.
Os defensores da doutrina imortalista, quando são deparados com o devido contexto de 2 Coríntios cap.5, simplesmente não tem como explicar a lógica do apóstolo Paulo. Tudo o que eles conseguem ver é o verso 8 descontextualizado, porque é tudo o que lhes interessa para falar da “imortalidade da alma” como uma suposta prova desta. Esquecem-se, porém, que tal união com Cristo é, como vimos, na ressurreição, e não em um estado intermediário.
O fato da aparente iminência da chegada de Paulo junto a Cristo não se dá por supostamente subsistir desencarnado antes da ressurreição, mas sim exatamente pela não-existência do estado intermediário, o que faz com que o intervalo de tempo entre a morte e a ressurreição – para o ressuscitado – seja praticamente desprezível. Não há nenhuma passagem em que Paulo mencione “almas” ou “espíritos” que já estejam no Paraíso, e quando ele se refere aos mortos diz apenas “aqueles que dormem”, e nunca “aqueles que estão na glória” ou “aqueles que já estão com Cristo”, e isso em treze epístolas paulinas!
É muito claro que Paulo, de fato, não acreditava na imortalidade da alma, mas sim em uma partida para estar com Cristo “naquele dia”, o dia de Cristo, da sua majestosa Vinda, o mesmo dia em que ele ganharia a sua coroa da justiça (cf. 2Tm.4:6-8), correspondendo ao dia da sua própria ressurreição para a glória celestial, a fim de ser apresentado para todos os Corintos novamente (cf. 2Co.4:14). O contexto todo derruba “alma imortal” e “estado intermediário”, porque se opõe fortemente àquilo que jamais foi ensinado por Paulo.
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Por: Lucas Banzoli.
Extraído do meu livro ”A LENDA DA IMORTALIDADE DA ALMA”.
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