DEUS DE VIVOS E NÃO DE MORTOS

DEUS DE VIVOS E NÃO DE MORTOS

 

I - Deus de vivos, não de mortos – Argumento contra ou a favor da imortalidade da alma?

 

Outra passagem que tem sido olhada pela ótica dualista é o que Jesus diz em Lucas 20:38,39 – “Ora, Deus não é Deus de mortos, e, sim, de vivos; porque para ele todos vivem”. Infelizmente, bastaria que as pessoas lessem o versículo anterior para entender o que Jesus queria provar com aquilo: “E que os mortos hão de ressuscitar, Moisés o indicou no trecho referente à sarça, quando chama ao Senhor o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó. Ora, Deus não é Deus de mortos, e, sim, de vivos; porque para ele todos vivem. Então disseram alguns dos escribas: Mestre, respondeste bem. Dai por diante não ousaram mais interrogá-lo” (cf. Lucas 20:37-40).

 

Do início ao fim Jesus estava usando tal passagem para provar a ressurreição dos mortos, e não uma imortalidade da alma. O fato é que, pelo contexto, Jesus estava debatendo com uma seita da época, chamada de “saduceus”. Estes saduceus não acreditavam na ressurreição dos mortos:

 

“Então se aproximaram dele alguns dos saduceus, que dizem não haver ressurreição, e lhe perguntaram...” (cf. Mc.12:18)

 

Então, Jesus, para provar que os mortos hão de ressuscitar, citou o trecho que diz que Deus é o Deus de Isaque, Abraão e Jacó, provando assim que eles ainda seriam ressuscitados; eles não estavam mortos para todo o sempre como acreditavam esses saduceus (que não criam na ressurreição para trazer de novo alguém a vida), porque se fosse assim Deus iria dizer que era o Deus de Abraão, Isaque e Jacó.

 

O intuito de Cristo era mostrar para aquele grupo de religiosos que não acreditavam na ressurreição, que essa era um fato que iria acontecer, pois Deus não é um Deus de mortos. Logo, todos os mortos – incluindo Isaque, Abraão e Jacó – seriam ressuscitados, ao contrário do que acreditavam os saduceus, e viveriam com Deus. Do início ao fim a passagem é para provar a ressurreição dos mortos:

 

“E que os mortos hão de ressuscitar, Moisés o indicou no trecho referente à sarça, quando chama ao Senhor o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó” (cf. Lc.20:37,38)

 

Fica muito mais do que claro que Jesus usou essa passagem para desacreditar aquilo que os saduceus acreditavam, isto é, que os mortos não vão ressuscitar nunca. Se a ressurreição não acontecesse, Deus seria Deus de mortos. O evangelho de Marcos também é revelador para descobrirmos o que Jesus estava querendo dizer com esta passagem:

 

“Pois, quando os mortos ressuscitarem, serão como os anjos do Céu, e ninguém casará” (cf. Mc.12:25)

 

“Quando os mortos ressuscitarem”.... e não quando a nossa alma imortal deixa o corpo por ocasião da morte! Veja que Jesus disse claramente, no contexto, que “quando os mortos ressuscitarem”, é isso o que Jesus queria provar. Se a intenção de Cristo fosse provar a imortalidade da alma (algo estranho, pois a pergunta não foi sobre isso, mas sobre a ressurreição), então decerto teria dito: “Quando vocês morrerem... serão como anjos no Céu”, se a alma fosse direto para o Paraíso.

 

Contudo, Jesus é claro em dizer: “Quando os mortos ressuscitarem serão como anjos no Céu”. Na verdade, quando os defensores da imortalidade da alma usam esta passagem como suposta “prova” do estado intermediário, eles mal sabem que tudo não passa de um famoso “chute no pé”.

 

Além de demonstrar uma lastimável interpretação de texto (sem observar o contexto histórico e a contextualização textual que desmontam por completo com a interpretação deles), a passagem ainda sustém uma grande prova contra o estado intermediário. Por quê? Simplesmente porque Cristo afirma categoricamente que quando os mortos ressuscitarem, serão como os anjos do Céu” (cf. Mc.12:25).

 

Ora, se o espírito dos salvos partisse para o Paraíso logo no momento da morte em um “estado intermediário”, então decerto Cristo teria dito que “quando morrerem... serão como anjos no Céu”. Contudo, é somente na ressurreição que tal fato se concretiza. Ademais, os próprios saduceus (que não acreditavam em nada após a morte e nem em ressurreição) sabiam que o Mestre não acreditava em um “estado intermediário”, por isso perguntam a ele focando no momento da ressurreição, pois é somente neste momento em que os mortos voltam à vida:

 

Na ressurreição, de qual deles será ela esposa, pois os sete por esposa a tiveram?” (cf. Mc.12:23).

 

Ademais, devemos ressaltar o fato de que neste mesmo contexto, Cristo relata que “não podem mais morrer, pois são como os anjos. São filhos de Deus, visto que são filhos da ressurreição” (cf. Lc.20:36). Aqui vemos que os que partem deste mundo tornam-se imortais (“não podem mais morrer”) e tornam-se como os anjos (“são como os anjos”) a partir da ressurreição dentre os mortos, como é claramente indicado pelo contexto (vs. 33 e 34) e pelo próprio fim do verso que torna tal afirmação muito evidente ao relatar explicitamente que são “filhos da... ressurreição (v.36).

 

Vemos, portanto, que esta passagem em lugar de favorecer a doutrina da imortalidade da alma, constitui-se exatamente em uma forte confirmação de que a vida eterna e a era vindoura se dará pela ressurreição dos mortos!  Finalmente – como se tudo isso não fosse suficientemente claro para vermos como os imortalistas deturpam essa passagem bíblica tirando-a do seu contexto – a lógica de Cristo nesta passagem só faria sentido caso que os mortos estivessem literalmente mortos mesmo (i.e, sem vida) e só ganharão vida a partir da ressurreição.

 

Em primeiro lugar, porque se Cristo tivesse provado que os mortos estão atualmente vivos (como os imortalistas interpretam erroneamente o verso 38), então isso – por si só – em absolutamente nada provaria que os mortos iriam ressuscitar, pois Cristo usou aquilo para provar a ressurreição que os saduceus duvidavam (Lc.20:37; Lc.20:33), e tal argumento de Cristo no verso 38 (supostamente de que os mortos já estivessem vivos) não seria nenhuma “prova incontestável” da ressurreição, uma vez que os mortos poderiam viver eternamente em um estado desencarnado (como criam os gregos de sua época) na forma de uma alma imortal.

 

Se, contudo, ponderamos que os mortos estão sem vida, vemos que tal afirmação de Cristo (de que Deus não é Deus de mortos) prova totalmente a ressurreição, uma vez que, sem ela, Deus seria Deus de mortos, e que o próprio fato Dele ser Deus de vivos prova que eles sairão deste estado de morte (i.e, sem vida), para necessariamente passar por uma ressurreição, ganhando vida, pois senão Deus seria um Deus de mortos e diria que era o Deus de Abraão, Isaque, Jacó, etc.

 

Então torna-se lógico que tal argumento de Cristo só seria validado caso os mortos estivessem literalmente mortos (i.e, sem vida) para ganharem vida somente a partir da ressurreição, pois somente desta maneira o objetivo de Cristo em provar a ressurreição se concretizaria. Se os mortos já estivessem vivos, tal passagem não provaria a ressurreição, e o argumento seria inútil. Tal pretensão imortalista falha em inúmeros pontos, como vimos:

 

(1) O argumento de Cristo para provar a ressurreição somente a provaria efetivamente em caso que os mortos estivessem literalmente mortos (sem vida) como de fato eles estão.

 

(2) Cristo não quis de maneira nenhuma provar que os mortos estão vivos, pois o verso 37 diz claramente que ele usou tal argumento para provar “que os mortos hão de ressuscitar”, e não de que eles já estão vivos em algum lugar.

 

(3) Os que morrem são filhos “da ressurreição” (v.36), e não da alma imortal, do estado intermediário ou da imortalidade da alma. Eles são considerados “filhos da ressurreição” porque é somente a partir dela que eles ganham vida.

 

(4) Nós nos tornaremos semelhantes aos anjos (não no aspecto físico, mas no sentido de que não possa mais se dar em casamento – v.35) quando “os mortos ressuscitarem(Mc.12:25), e não quando a alma supostamente partiria do corpo rumo a um “estado intermediário” imaginário.

 

(5) O saduceus sabiam que Jesus não acreditava no estado intermediário, por isso perguntaram direto se na ressurreição, de qual delas será ela esposa...” (Mc.12:23)

 

Vemos, portanto, que quando analisamos o devido contexto, tal passagem não apresenta absolutamente nenhuma – nenhuma mesmo – prova da “imortalidade da alma”, mas constitui-se em uma fortíssima prova contra ela. Basta analisarmos o devido contexto, e deixarmos o texto fluir normalmente, que toda e qualquer pretensão imortalista cai por terra. 

 

Irmãos, quanto mais vocês lerem, mais verão quantas passagens completamente deturpadas como essa tem sido usadas numa tentativa desesperada em provar uma doutrina que é gritantemente contrária aos ensinamentos claros das Escrituras.

 

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Por: Lucas Banzoli.

Extraído do meu livro ”A LENDA DA IMORTALIDADE DA ALMA”.

 

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